Polícia quer ouvir estrangeiros que dão cursos de conquista
Polícia quer ouvir estrangeiros que dão cursos de conquista em que mulheres de SP foram usadas como ‘cobaias’
Inquérito foi instaurado e apura os crimes de exploração sexual e favorecimento de prostituição. Ministério do Turismo disse, em nota, que a prática é considerada crime e deve ser denunciada às autoridades competentes. MP acompanha investigação.
Coaches fazem kits com pílula do dia seguinte e camisinha para ‘alunos’ se relacionarem
A Polícia Civil quer ouvir os dois coaches estrangeiros, suspeitos dos crimes de exploração sexual e favorecimento de prostituição, por recrutarem mulheres para uma festa que funcionou como aula prática de um curso que ensina homens a conquistar mulheres (veja mais no vídeo acima).
Segundo a polícia, a vítima, de 27 anos, se reconheceu em imagens divulgadas e registrou o boletim de ocorrência pela Delegacia Eletrônica.
O evento ocorreu no final de fevereiro, em uma mansão no Morumbi, na Zona Sul de São Paulo, e foi promovido por Mike Pickupalpha e David Bond, do site Millionaire Social Circle (“Círculo Social de Milionários”).
O inquérito foi instaurado e o caso é investigado como favorecimento de prostituição ou outra forma de exploração sexual e agenciar, aliciar, transportar, transferir, comprar, alojar ou acolher exploração sexual pelo 34º DP, Vila Sônia, Zona Sul de São Paulo responsável pela área.
“A equipe de investigação da unidade realiza diligências para identificar e quer ouvir formalmente os organizadores e esclarecer todas as circunstâncias do fato”, diz nota.
O Ministério Público acompanha as investigações da polícia. Segundo o promotor Rogério Sanches Cunha, o crime de exploração sexual foi alterado em 2009 e não pune apenas quem explora a prostituição. A lei também prevê punição para quem coloca pessoas na condição de objeto sexual, mesmo que elas não tenham recebido dinheiro algum, nem tenham se relacionado sexualmente com os alunos.
“É exatamente que aconteceu nesse exemplo. Mulheres que imaginaram estar indo numa festa, na verdade aquilo era uma fraude. Elas estavam servindo pra que homens pudessem treinar como conquistá-las. Elas estavam como objetos sexuais, de acordo com as informações que chegaram para nós. A informação é que elas se sentiram usadas. Usadas sexualmente”, disse.
A dupla lucrava por meio da venda dos cursos.
A Embratur afirmou, por meio de nota, que acionou a Polícia Federal para pedir investigação. .
Mike já apareceu em canais no Youtube filmando mulheres com câmeras escondidas em diversos países. Já David Bond chama-se, na verdade, Steven Mapel – ele diz ser um especialista em namoro on-line e produtor de conteúdo digital.
Segundo o boletim de ocorrência, a jovem foi convidada para a festa no dia 26 de fevereiro sem saber que era um evento organizado para promover um curso de como conquistar mulheres.
“Eram quase todos os homens estrangeiros, 90% dos homens presentes na festa eram estrangeiros; tiraram fotos e vídeos da gente apenas para promover o curso sem a nossa autorização”, diz o relato à polícia.
Em entrevista na noite de terça-feira (14), Mike foi perguntado mais de uma vez pelo g1 se as convidadas sabiam que seriam usadas como cobaias de um curso de conquista. Ele não respondeu diretamente. Em vez disso, apontou que se tratava de um evento em que havia adultos “que escolheram estar lá por livre e espontânea vontade”.
O curso, oferecido a estrangeiros de vários países, cobra a partir de US$ 12 mil (cerca de R$ 63 mil) em troca de consultoria de conquista e viagem de duas semanas para algum país. Além do Brasil, houve edições na Costa Rica (em fevereiro de 2022), Colômbia (julho de 2022) e Filipinas (agosto de 2022). A próxima etapa será na Tailândia, em agosto.
O pacote com seis países, chamado de World Tour, sai por US$ 50 mil (cerca de R$ 262,7 mil), segundo o site do grupo.
“Venha explorar com David e Mike e conheça as mulheres brasileiras ao redor do mundo que são conhecidas por serem divertidas, curvilíneas e apaixonadas”, disse o anúncio da viagem ao Brasil.
Em um vídeo, a dupla exibe o kit a ser levado na bagagem: pílulas do dia seguinte, usadas para evitar gravidez em relações sexuais sem preservativo, camisinhas e perfumes com feromônios — que supostamente secretariam substâncias para chamar atenção das mulheres.
O Ministério do Turismo disse, em nota, que a prática é considerada crime e deve ser denunciada às autoridades competentes (delegacias, Ministério dos Direitos Humanos e conselhos tutelares se crianças).
“O Ministério do Turismo repudia a prática e incentiva trabalhadores do setor de turismo a denunciarem atitudes suspeitas relacionadas à exploração sexual de crianças e adolescentes por meio do projeto Código de Conduta”, diz nota (leia nota completa abaixo)
O que você precisa saber sobre o caso
- Dois coaches dos Estados Unidos venderam cursos de US$ 12 mil a US$ 50 mil.
- “Alunos” estrangeiros aprendiam, com técnicas deles, a se relacionar com mulheres.
- As mulheres não sabiam que eram parte da aula prática do curso.
- Grupos de alunos viajavam para países como Costa Rica, Colômbia, Filipinas e Brasil, em fevereiro. Os participantes da edição brasileira se encontraram com mulheres por meio de apps e outras foram chamadas por redes sociais.
- Coaches fizeram uma festa na Zona Sul de São Paulo com comida, bebida à vontade e transporte; o caso repercutiu depois que algumas mulheres descobriram que homens faziam curso.
- Ao menos duas delas denunciaram o caso para a polícia e alegam que foram filmadas sem autorização; material colhido por eles é usado em grupos e para publicidade.
- A próxima etapa do curso deve ocorrer na Tailândia.
Fonte: G1