Estupros e letalidade policial aumentam de janeiro a julho no estado de SP; homicídios caem


O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e o secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite, durante entrevista coletiva em julho de 2023. — Foto: RONALDO SILVA/PHOTOPRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e o secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite, durante entrevista coletiva em julho de 2023. — Foto: RONALDO SILVA/PHOTOPRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

O estado de São Paulo voltou a ter aumento no número de estupros de janeiro a julho deste ano. Foram 8.150 registros em 2023, 13% a mais do que os 7.221 que foram contabilizados no mesmo período de 2022. Na capital paulista o crescimento foi ainda maior, de 21%, passando de 1.415 ocorrências para 1.713.

Os comparativos das estatísticas estado, no entanto, podem sofrer alterações, já que a gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos) decidiu fazer uma auditoria para revisar os dados criminais de 2022 (leia mais abaixo).

O número divulgado de vítimas de homicídio teve queda de cerca de 10% no estado, passando de 1.728 nos primeiros sete meses de 2022 para 1.558 no mesmo período de 2023. Os dados oficiais foram divulgados nesta sexta-feira (25) pela Secretaria de Segurança Pública.

A redução dos homicídios segue a tendência observada nacionalmente nos últimos anos, segundo acompanhamento do Monitor da Violência do g1. O estado de São Paulo já havia apresentado resultado positivo no semestre, com destaque de queda na região Sudeste, que teve aumento geral puxado pelo Rio de Janeiro.

Os furtos (sem considerar veículos) registraram aumento no estado: foram de 320.931 para 333.052 no acumulado dos sete meses, alta de 3,8%. Já os furtos de veículo subiram 3%, encerrando o período com 55.078 boletins de ocorrência. Na comparação apenas de julho, no entanto, houve queda de 3,5% nos furtos de veículos no estado, de 8.170 para 7.882.

De acordo com a SSP, o crime de estupro é o que tem o mais alto índice de subnotificação. “Por isso, de acordo com a dra. Jamila Ferrari, coordenadora estadual Delegacias de Defesa da Mulher, o aumento de registros indica que agora as vítimas possuem mais confiança para procurar a polícia”, diz a pasta.

A secretaria afirma ainda que “SP se destaca por possuir a maior estrutura que permite que as mulheres registrem esses crimes por meio da internet 24h por dia, além de 140 DDMs e 77 salas, anexas nos plantões policiais, em que as vítimas são atendidas por videoconferência, interagindo com a equipe da DDM Online.”

Letalidade policial

Integrantes de movimentos sociais protestam em frente ao prédio da Secretaria da Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP), no centro de São Paulo, contra operação da Polícia Militar no Guarujá, litoral sul paulista — Foto: GABRIEL SILVA/ATO PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

Integrantes de movimentos sociais protestam em frente ao prédio da Secretaria da Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP), no centro de São Paulo, contra operação da Polícia Militar no Guarujá, litoral sul paulista — Foto: GABRIEL SILVA/ATO PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

O Instituto Sou da Paz também aponta uma disparada na letalidade policial. No mês de julho, as mortes cometidas por policiais, em serviço e de folga, tiveram um aumento total de 60,6% no estado na comparação com o mesmo mês de 2022.

A letalidade policial em serviço no estado de São Paulo teve crescimento de 54,2% em comparação com julho do ano anterior, e as mortes cometidas por policiais de folga tiveram um aumento de 111,1%. Somando as mortes cometidas por policiais em serviço e de folga no mês de julho, foram 23 mortes a mais que em julho de 2022.

O instituto ressalta que o aumento significativo das mortes por policiais em serviço reflete o contexto da Operação Escudo na baixada santista, iniciada em 28 de julho, e que em quatro dias deixou 12 mortos no município do Guarujá.

Fantástico tem acesso exclusivo a laudos de 15 das 19 mortes da Operação Escudo em Guarujá

Fantástico tem acesso exclusivo a laudos de 15 das 19 mortes da Operação Escudo em Guarujá

Rafael Rocha, coordenador de projetos do Instituto Sou da Paz, destaca o aumento da letalidade causada por policias em serviço.

“As mortes cometidas em serviço têm aumentado continuamente desde o início deste ano, e apontam para um enfraquecimento das bem sucedidas medidas de controle do uso da força adotadas pela PMESP”, afirma.

“A Operação Escudo, deflagrada em resposta à morte de um policial em serviço, deixou uma dúzia de mortos no Guarujá em um final de semana, e concretiza este abandono de uma prioridade a uma atuação mais profissional e menos violenta das polícias paulistas. Foram 12 vítimas letais em 4 dias, um terço de todas as mortes em serviço cometidas no estado em todo o mês de julho.”

Em nota, a SSP afirmou que investe permanentemente no treinamento do efetivo e em políticas públicas para reduzir as mortes em confronto, com o aprimoramento nos cursos e aquisição de equipamentos de menor potencial ofensivo, entre outras ações voltadas aos policiais civis e militares.

“Neste sete primeiros meses, as forças policiais detiveram no Estado 110.708 infratores, 6,8% a mais que no mesmo período de 2022. […] Todos os casos dessa natureza são investigados, encaminhados para análise do Ministério Público e julgados pelo Poder Judiciário, inclusive, os casos relacionados à Operação Escudo, deflagrada para sufocar o tráfico de drogas na Baixada Santista. Em 30 dias a operação prendeu 634 criminosos (240 procurados), apreendeu 905,1 quilos de drogas, além de 84 armas ilegais retiradas das ruas”, diz a pasta.

Revisão dos dados na gestão Tarcísio

Os dados criminais de 2022 devem ser analisados com cautela no comparativo com a série histórica. A gestão do atual governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), decidiu revisar as estatísticas criminais do período de seus antecessores Rodrigo Garcia e João Doria (PSDB), após afirmar ter encontrado “inconsistências” nos dados.

De acordo com a Secretaria de Segurança Pública, até a gestão anterior, as próprias delegacias informavam o número de ocorrências de cada crime, sem dar informações a mais sobre os boletins de ocorrência. Agora, a própria secretaria acessa os boletins de ocorrência, contabiliza os dados por crimes e passa para as delegacias revisarem e validarem antes da divulgação. A revisão promete aumentar a transparência e precisão das informações.

O governo criou um grupo de trabalho para revisar os indicadores. O grupo é composto por representantes da própria SSP e das polícias Civil, Militar e Técnico-Cientifica, e deve entregar a análise completa dos dados até dezembro deste ano. No entanto, não há participação de membros da sociedade civil ou de órgãos de controle como o Ministério Público.

Em abril deste ano, a mudança resultou, na prática, em dados positivos para a gestão Tarcísio: os furtos de veículo haviam aumentado 10% em abril de 2023. Depois da revisão dos dados de 2022, passaram a cair 1% no comparativo.

Outro resultado parcial da revisão, divulgado em julho, apontou 3.750 furtos de veículos (4%) a mais do que havia sido informado anteriormente, e 1.048 roubos de veículos (2,5%) a mais. A Secretaria de Segurança Pública reforça, no entanto, que as conclusões são preliminares e ainda podem ser alteradas até o fim da análise.

Conforme o g1 informou, a revisão dos dados criminais pode afetar diretamente indicadores que estão vinculados a um bônus pago aos polícias.

Enquanto o processo não é finalizado, a secretaria continua publicando comparativos estatísticos em seu site oficial sem mencionar que os dados estão passando por auditoria e que a análise pode ser comprometida após a revisão.
Fonte: G1

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