Auditoria aponta que Hospital na Zona Sul de SP administrado por OS reutilizava pinças em exames de endoscopia

Auditoria foi realizada pela Secretaria Municipal da Saúde após uma denúncia recebida pelo Ministério Público de São Paulo. Pinças teriam sido reaproveitadas em quase 20 mil endoscopias. A Prefeitura de São Paulo informou que o caso foi encaminhado ao Conselho Regional de Medicina e a polícia.


Auditoria aponta 10 irregularidades em hospital municipal da Zona Sul de SP

Auditoria aponta 10 irregularidades em hospital municipal da Zona Sul de SP

Uma auditoria realizada no Hospital Municipal Integrado de Santo Amaro, na Zona Sul da capital, apontou que pinças usadas em quase 20 mil endoscopias foram reaproveitadas. A unidade é administrada por uma Organização Social.

Em maio deste ano, o Ministério Público de São Paulo recebeu uma denúncia de reaproveitamento de material hospitalar que deveria ser descartado. Imediatamente, promotores de Justiça determinaram a realização de uma auditoria pela Secretaria Municipal da Saúde.

O relatório de 403 páginas, ao qual o SP2 teve acesso, afirma que houve comprovação de reutilização de pinças de biópsia, isso porque a quantidade comprada de 3.085 pinças é incompatível com o total de 19.602 exames realizados no período analisado. Os auditores destacaram que o rótulo da embalagem dos modelos usados traz uma instrução clara para “não reesterilizar”.

O hospital é administrado pelo Instituto Nacional de Tecnologia e Saúde desde novembro de 2020, que terceirizou o setor que faz os exames de endoscopia digestiva que ficou sob a responsabilidade da empresa One Laudos.

Ainda segundo o documento, outras dez irregularidades foram identificadas na auditoria, como por exemplo:

  • Laudos que não possuem assinatura do profissional responsável
  • Uso de sedativos potentes, como proporfol sem a presença de anestesista na sala
  • Ausência da captura de imagens dos exames, o que segundo os auditores pode ser explicado pelo fato de que os aparelhos usados nos exames são obsoletos.

Segundo a presidente da Comissão de Ética da Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva, Ana Maria Zucarro, o reaproveitamento de pinças descartáveis compromete a qualidade do exame a traz riscos para os pacientes.

“Em primeiro lugar, você não consegue esterilizar esse material adequadamente, consequentemente, há risco de contaminação, de infecção para o paciente. Em segundo lugar: ela é de material muito mais frágil, se você reutilizá-la provavelmente na terceira ou quarta biópsia ela já não vai coletar o fragmento da maneira ideal para ser analisado pelo patologista”, afirma.

A Secretaria Municipal da Saúde, informou que criou uma comissão com infectologistas e especialistas em processos para avaliar a conduta médica e analisar os procedimentos realizados para acompanhar a evolução clínica de cada paciente. A pasta informou também que “determinou a imediata suspensão da prática pelo hospital”.

Disse também que as empresas One Laudos e INTS foram notificadas a devolver aos cofres públicos os valores relativos aos exames.

Segundo um documento do Tribunal de Contas do Município (TCM), os valores relativos aos exames somam mais de R$ 5, 2 milhões. Na semana passada, o conselheiro Eduardo Tuma, encaminhou ofícios para a administração municipal e o Ministério Público reforçando a necessidade de providenciar a devolução do dinheiro.

Em nota, a One Laudos disse que não foi formalmente intimada a prestar esclarecimentos às autoridades e que não era responsável por todo o setor de endoscopia do hospital. Alegou também que a reutilização das pinças não é proibida, com base na regulamentação da Anvisa, mas a empresa reconhece que nos registros dos produtos na agência, os fabricantes “recomendam” o uso único e, a partir disso, interpretam que as pinças podem ser reprocessadas. A One Laudos também afirmou que o INTS também cuidava do reprocessamento do material.

A Anvisa informou que as pinças podem ser reaproveitadas, desde que atendem às resoluções vigentes.

A Prefeitura informou que o caso foi encaminhado ao Conselho Regional de Medicina e a polícia.

Fonte: G1

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