Cotidiano

O que é autossexualidade?

Termo cunhado pela primeira vez em 1989 define pessoas que têm a si mesmos como próprio e principal objeto de desejo sexual. Descubra as diferenças entre autossexualidade e personalidade narcisista.


A modelo Luana Sandien, que se assumiu como autossexual — Foto: Divulgação/Arquivo pessoal

A modelo Luana Sandien, que se assumiu como autossexual — Foto: Divulgação/Arquivo pessoal

Você já ouviu falar no termo autossexualidade? Sabe o que é? A modelo Luana Sandien disse ao g1 na quarta-feira (9) que se define como autossexual. De acordo com a musa da escola de samba Colorado do Brás, ela sente “tanto amor próprio que não há saudades ou necessidades de estar [sexualmente] com alguém”.

De acordo com a sexóloga Lelah Monteiro, a autossexualidade é a capacidade de o indivíduo reconhecer a si mesmo como seu próprio e principal objeto de desejo.

O termo foi citado pela primeira vez na literatura médica em 1989, pelo terapeuta sexual Bernard Apfelbaum. Ele definiu a autossexualidade como a dificuldade de sentir atração sexual por outras pessoas, com o interesse e o desejo voltados para si mesmo. https://049595fba56cab832b6d992e11567f81.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html

Para Lelah, no entanto, o fato de sentir atração por outras pessoas não impede a pessoa de ser autossexual.

“A autossexualidade é: ‘Eu me basto sexualmente, mas posso ter um relacionamento heterossexual ou homossexual’. Pode ou não ser algo isolado, mas o que a gente vê mais no dia a dia são pessoas que não têm coragem de assumir que se gostam, apesar de também gostarem de ter um companheiro”, afirma.

De acordo com a especialista, autossexualidade também não tem a ver com masturbação, já que durante esta prática é possível pensar em qualquer outra pessoa e situação.

“A autossexualidade é um autoexcitamento. Ela entra no contexto de eu ser suficiente. O autossexual é aquele que tem a si mesmo como seu principal objeto de desejo”, afirma.

A modelo Luana Sandien, que se assumiu como autossexual — Foto: Arquivo pessoal/Divulgação

A modelo Luana Sandien, que se assumiu como autossexual — Foto: Arquivo pessoal/Divulgação https://049595fba56cab832b6d992e11567f81.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html

O autossexual também não é um narcisista, de acordo com a sexóloga.

“O narcisista tem questões psíquicas da necessidade de se autoafirmar e o outro reconhecer. É mais uma questão de reconhecimento, uma necessidade ser validado.”

Lelah diz que tem visto crescer o número de casos de pessoas que se reconhecem como autossexuais em seu consultório. É importante frisar que não se trata de uma doença.

“É muito interessante e talvez todos nós tenhamos um traço disso. Não tem nada de patalógico nisso, não é um problema. Tenho percebido uma mudança no padrão de comportamento, as mulheres estão tendo menos medo de serem julgadas e, nesse contexto de consultório, as pessoas se identificam depois que leem sobre o assunto. Ainda assim, as pessoas têm muito medo de receber rótulos.”

A sexóloga Lelah Monteiro — Foto: Arquivo pessoal/Divulgação

A sexóloga Lelah Monteiro — Foto: Arquivo pessoal/Divulgação https://049595fba56cab832b6d992e11567f81.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html

Não são apenas as pessoas que já sentem atração pelo mesmo sexo que podem vir a se identificar como autossexuais.

Tampouco há um consenso de que a autossexualidade possa ser considerada uma orientação sexual. Também é possível ter “milhões de variações”, quando se trata de orientação sexual, de acordo com Lelah.

“Posso ser uma mulher cis com orientação homo ou hétero afetiva e, nesse momento da minha vida, ter o desejo centrado na autossexualidade, por exemplo.”

“Eu posso gostar do sexo oposto, de homens e mulheres. Autossexualidade tem mais a ver com o quanto eu me admiro, mais do que o sexo oposto. Não é ‘eu me basto’, mas ‘me admiro tanto que meu desejo passa por esse viés’.”

Lelah conta que em seu consultório começaram a chegar nos últimos anos pessoas com diferentes razões para se identificar como autossexual: uma desilusão amorosa, ter se reconhecido assim em algum momento ou quando a pessoa já era assim, só não tinha consciência.

“É como se tivesse saído do armário. E vai ter muito mais gente saindo a partir do momento em que nós, mulheres, obtivermos a independência psíquica, econômica e sexual, sem medo do que as pessoas acham. Temos de tratar do assunto, falar com naturalidade dele”, afirma.

A sexóloga afirma, no entanto, que os homens têm uma dificuldade maior de se identificar como autossexuais.

“A mulher hoje em dia tem sex toys e descobre o prazer sozinha. Já o homem é muito viciado em pornografia. Às vezes, alguns mais sensíveis se reconhecem. Os gays também admitem mais que são autossexuais do que os heteronormativos, mas mesmo eles ficam fragilizados e precisam de um terapeuta. Os homens em geral têm dificuldade de assumir esse lugar.”

O público que mais preocupa a sexóloga, no entanto, são as adolescentes quando precisam de ajuda para lidar com a sexualidade.

“É importante acolher as adolescentes. Há muitos pais e professores que acreditam que a autossexualidade é uma perversão. Vemos muitas meninas se descobrindo lésbicas. Recebo essa demanda no consultório e não precisa de terapia, é uma orientação e está tudo certo. Quando quebramos o tabu, outras coisas vêm junto e fica cada vez melhor a compreensão humana do que é o prazer.”

A modelo Luana Sandien, que se assumiu como autossexual — Foto: Arquivo pessoal/Divulgação

A modelo Luana Sandien, que se assumiu como autossexual — Foto: Arquivo pessoal/Divulgação

Fonte: G1

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