‘Eu queria que tivesse dado pelo menos pra me despedir’, diz namorada de jovem morto por falso entregador em São Paulo

Em entrevista ao Fantástico, a jovem afirmou que Acxel Gabriel de Holanda Peres, autor do crime contra Renan Silva Loureiro, já desceu da moto apontando a arma para o casal.


Namorada de jovem morto por falso entregador relembra assalto

Namorada de jovem morto por falso entregador relembra assalto

A jovem que presenciou a morte de Renan Silva Loureiro, de 20 anos, seu namorado, que foi assassinado na semana passada na Zona Sul de São Paulo por um falso entregador, disse neste domingo (1º) que queria ao menos ter tido a oportunidade de se despedir do rapaz.

Em entrevista ao Fantástico, da TV Globo, na condição de anonimato, a garota afirmou que o autor do crime, Acxel Gabriel de Holanda Peres – que foi preso na sexta-feira (29) – já desceu da moto anunciando o assalto e apontando a arma para o casal.

A ação durou cerca de 40 segundos e terminou com a morte de Renan ali mesmo, na frente da namorada, após o rapaz tomar quatro tiros, um deles na cabeça.

“Eu tinha a esperança de que o Renan ainda pudesse estar vivo, mas ele já tinha caído no chão sem vida. Eu queria que tivesse dado pelo menos pra eu poder me despedir dele de alguma forma”, disse.

Novas imagens mostram assalto que terminou com rapaz de 20 anos morto na Zona Sul de SP

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Renan era universitário, trabalhava numa cafeteria e foi padrinho de casamento da tia três dias antes de ser assassinado.

Ao se recordar da ação do acusado Acxel, a jovem disse que achou que ele levaria apenas os celulares do casal.

“Ele já desceu já anunciando o assalto, apontando a arma para a gente. Aí o Renan pediu para eu correr só que não tinha como. Não tinha por que eu deixá-lo sozinho naquela situação. Eu também não pensei que fosse acontecer o pior. Eu achei que o cara só fosse levar os nossos celulares e depois iria embora. Ele veio até mim, já apontando a arma diretamente para mim e falando que, se eu não fosse passar o celular, ele queria começar atirar. Então eu já estava com a mão no bolso para poder entregar meu celular para ele. O Renan decidiu reagir porque era eu que estava ali perto, porque se ele estivesse sozinho, não teria reagido”, contou a namorada.

Clarice Silva e o filho Renan Silva Loureiro. Mãe pede que a polícia prenda suspeito de roubar e matar estudante em São Paulo — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal

Clarice Silva e o filho Renan Silva Loureiro. Mãe pede que a polícia prenda suspeito de roubar e matar estudante em São Paulo — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal

Apesar da pouca idade, Renan tinha intenção de pedir a namorada em casamento, segundo a mãe do rapaz, Clarice Silva.

Desolada com o crime bárbaro, a namorada se lembra de Renan como alguém “superprotetor e carinhoso”.

“Ele era uma pessoa muito companheira. Ele era uma pessoa superprotetora também. Era carinhoso, era atencioso. Eu vou ter que repensar todo o plano futuro que eu tinha.”

O jovem Renan Silva Loureiro, de 20 anos, assassinado por Acxel Gabriel de Holanda Peres (direita) no bairro do Jabaquara, na Zona Sul de São Paulo.  — Foto: Reprodução/TV Globo

O jovem Renan Silva Loureiro, de 20 anos, assassinado por Acxel Gabriel de Holanda Peres (direita) no bairro do Jabaquara, na Zona Sul de São Paulo. — Foto: Reprodução/TV Globo

Quem é o autor do crime?

Acxel Gabriel de Holanda, o autor dos tiros que matou Renan, se entregou à Polícia Civil na sexta-feira (29) e foi detido pelo Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), na Zona Norte da capital paulista.

Aos 23 anos, ele já acumula dez passagens criminais por roubo e receptação de produtos roubados. Segundo a polícia, Acxel tinha 12 anos quando foi detido pela primeira vez.

Falso entregador Acxel Peres — Foto: Reprodução

Falso entregador Acxel Peres — Foto: Reprodução

Ao ser preso, ele confessou o crime contra Renan Silva e disse que cometeu o assalto na noite de segunda (25) “para entrar algum dinheiro de alguma forma”.

“Ele foi para cima de mim. E tipo assim, eu vi uma mulher descendo uma rua, sozinha. Aí eu falei: Eu não vou pegar a mulher porque ela tá sozinha, ela vai gritar, né. Falei então. Eu fiquei andando, quando eu virei essa rua… Falei: ‘Fica de boa, não vo… pega o celular dela’, eu falei. Só que, tipo na hora, ele, ele ficou num canto, a menina foi pro meio da rua”, contou o acusado (veja vídeo abaixo).

Vídeo mostra suspeito de roubar e matar jovem em SP algemado e falando com policiais

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Quatro disparos contra Renan

Câmeras de segurança gravaram o momento em que o assaltante atira para o alto e Renan se ajoelha dizendo: “Eu não tenho nada”.

O jovem se levanta em seguida, quando o criminoso aponta a arma para a namorada dele. Depois atira quatro vezes em Renan. Um dos tiros atinge sua cabeça e ele cai morto na Rua Freire Farto, no Jabaquara. “Socorro”, grita a garota, de 19 anos, no vídeo. Ela não se feriu.

O criminoso, que usava capacete e mochila térmica, fugiu numa moto levando o celular da namorada de Renan.

Policiais analisaram câmeras de segurança que gravaram a placa da moto para identificar o criminoso. Eles informaram ter ido até a casa de Acxel, onde não o encontraram, mas acharam uma jaqueta, uma mochila e um revólver, que foram apreendidos e passarão por perícia (veja abaixo). A investigação quer saber se a arma apreendida foi a mesma usada para matar Renan.

Em depoimento à polícia, a namorada da vítima reconheceu parcialmente Acxel como o homem que abordou ela e Renan. Segundo a investigação, a jovem contou que identificou os olhos do atirador como os mesmos da foto do suspeito. Além disso, falou que o revólver apreendido foi o mesmo usado pelo bandido.

Mochila de entrega e revólver encontrados na casa de suspeito de matar jovem em assalto, segundo a polícia — Foto: Polícia Civil/divulgação

Mochila de entrega e revólver encontrados na casa de suspeito de matar jovem em assalto, segundo a polícia — Foto: Polícia Civil/divulgação

Filho defendeu namorada, diz mãe

g1 conversou com a mãe e tias de Renan, que agora lutam por justiça, para que o assassino seja preso, julgado e condenado.

“Quero que ele viva para cumprir a pena dele. Meu filho e outras vítimas não podem ser mais estatística”, disse a social media Clarice Silva, de 42 anos.

Segundo as irmãs Camila e Carolina Garcia da Silva, na última vez que viram o estudante, ele estava feliz por cursar faculdade de administração de empresas na Unip e trabalhar numa das unidades da Starbucks. O rapaz havia sido padrinho de casamento de Carolina, na última sexta-feira (22).

“Quando alguém sai com uma arma para roubar está disposto a tudo… E meu meu filho [estava] ajoelhado pedindo por favor, com as mãos para cima”, afirmou a mãe de Renan sobre o criminoso que matou seu filho.

“Vi várias vezes os vídeos porque queria entender o que aconteceu. Fico triste quando as pessoas querem colocar a culpa na vítima que reagiu. Quero reforçar que ninguém deve reagir. O bandido apontou a arma para a namorada de Renan, ele foi defendê-la e acabou baleado”, disse Clarice.

Clarice Silva, mãe de Renan, usou sua rede social para escrever sobre o filho assassinado durante um assalto em São Paulo — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal

Clarice Silva, mãe de Renan, usou sua rede social para escrever sobre o filho assassinado durante um assalto em São Paulo — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal

Caso repercutiu entre políticos

A morte de Renan também abriu o debate entre políticos, policiais e empresas de aplicativos sobre a implantação de medidas para tentar coibir a ação de assaltantes em motos que usam mochilas térmicas como disfarce para cometer crimes.

O aumento nos crimes cometidos por falsos entregadores fez com que a a Associação de Bares e Restaurantes de São Paulo (Abrasel-SP) procurasse a Secretaria da Segurança Pública em março para relatar o uso indevido das mochilas de aplicativo por criminosos disfarçados.

número de roubos, furtos e homicídios cresceu no estado de São Paulo no mês de março, em comparação com o mesmo período de 2021, segundo os dados mensais da Secretaria da Segurança Pública (SSP).

Renan morava com a mãe e o irmão mais novo. O jovem que teve seus sonhos interrompidos por um criminoso foi enterrado num cemitério na Lapa. Cerca de 250 pessoas acompanharam o cortejo.

Cerca de 250 pessoas participaram do cortejo a Renan Silva Loureiro no cemitério da Lapa, em São Paulo — Foto: Divulgação/Arquivo pessoal

Cerca de 250 pessoas participaram do cortejo a Renan Silva Loureiro no cemitério da Lapa, em São Paulo — Foto: Divulgação/Arquivo pessoal

Fonte: G1

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