Saúde

Aleitamento materno é imprescindível para a saúde e bem-estar das mães e dos bebês

Aleitamento materno é imprescindível para a saúde e bem-estar das mães e dos bebês

Especialistas destacam a necessidade de redes de apoio e políticas públicas, além do acesso odontológico para a promoção da amamentação no Brasil

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Imagem é uma fotografia que mostra um bebê amamentando no peito da mãe
Estudo ressalta a importância do aleitamento materno – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o leite materno, consumido diretamente no peito, é o alimento mais completo e essencial para os bebês nos primeiros meses de vida, já que oferece todos os nutrientes necessários até os 6 meses de forma equilibrada e de fácil digestão. Para reforçar a importância da amamentação, desde 2017, o mês de agosto foi instituído como o Mês do Aleitamento Materno e é designado como Agosto Dourado, com o objetivo de valorizar e promover a amamentação em todo o País.Para abordar o tema, a Semana Mundial do Aleitamento Materno (Smam) 2025, promovida pela Aliança Mundial para Ação em Aleitamento Materno (Waba), em parceria com a OMS, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e os Ministérios da Saúde e Sociedade Civil, destacou a amamentação materna como prática essencial para a saúde, equidade e o desenvolvimento, além de possuir impactos positivos para o meio ambiente, por meio do tema Priorizemos a Amamentação: Construindo Sistemas de Apoio Sustentáveis.

O Ministério da Saúde (MS) recomenda que a amamentação ocorra até os 2 anos de idade, sendo exclusiva até os primeiros 6 meses de vida, ou seja, sem a necessidade dos bebês consumirem outros alimentos. Segundo o órgão, quanto mais tempo ocorrer o aleitamento materno, mais benefícios serão trazidos tanto para o bebê quanto para a mãe.

A amamentação é a mais importante estratégia para garantir os melhores índices de saúde infantil no Brasil, já que o leite materno contém gorduras específicas e fundamentais para o desenvolvimento do cérebro infantil, é rico em carboidratos que fornecem energia e em proteínas, adaptadas à digestão do recém-nascido. Além dos nutrientes, é uma fonte natural de proteção, pois possui anticorpos e substâncias antimicrobianas que ajudam a fortalecer o sistema imunológico do bebê, tornando-o mais resistente a infecções e doenças. Entretanto, parte das crianças brasileiras não tem acesso ao leite materno. De acordo com o Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (Enani) de 2021, a taxa de aleitamento materno exclusivo em crianças menores de 6 meses era de 45,8%, índice abaixo da meta estabelecida pela OMS, de no mínimo 70% até 2030.

Smam e projeto Amamae

Alisson Calletti Cruz – Foto: Arquivo pessoal

De acordo com Alisson Calletti Cruz, mestrando do Programa de Pós-Graduação em Odontopediatria da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto (Forp) da USP, a escolha do tema deste ano da Semana Mundial do Aleitamento Materno se deu devido à amamentação em si própria ser um ato ecológico que elimina resíduos plásticos e metálicos. “É uma estratégia econômica que reduz custos com saúde pública e uma via de construção de rede de apoio social, apoiando e dando sustento às pessoas que amamentam. Governos, empregadores e comunidades precisam atuar em conjunto nessa engrenagem vital para fortalecer e perpetuar o legado para as futuras gerações.”

O projeto Amamae, promovido por doutores, alunos de graduação e pós-graduação da Forp, atuará em Ribeirão Preto durante o Agosto Dourado 2025, por meio de ações conjuntas com o Comitê Municipal de Aleitamento Materno e Alimentação Complementar Saudável (COMAMACS). “O projeto contará com ações na Feira do Livro e no Parque Raia, como a distribuição de folders sobre o pré-natal odontológico para as mães, pais e profissionais da saúde, uma mesa lúdica com distribuição de kits de escovas e pastas dentais para crianças, além de estações interativas para debater estratégias integradas de apoio à amamentação e alterações bucais na ausência do aleitamento materno”, detalha Cruz.

Redes de apoio para mães e legislação

Caroline Amaro da Silva – Foto: Arquivo pessoal

Embora seja um processo natural, a amamentação exige um esforço físico, emocional e social das mães. Segundo pesquisadores da Forp, as redes de apoio, formadas por parceiros, familiares, amigos, profissionais da saúde e até a comunidade, possuem papel fundamental no cuidado com as mães durante o aleitamento natural. Para a doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Odontopediatria da Forp, Caroline Amaro da Silva, a prática da amamentação é fortemente influenciada pelo meio onde está inserida a gestante. “Em estudos do nosso grupo de pesquisa, 82% das participantes afirmaram ser muito importante a presença da rede de apoio nas suas consultas de pré-natal. Quando falamos especificamente da amamentação, o papel da rede de apoio torna-se ainda mais evidente, sendo um fator crucial tanto para o início quanto para a continuidade do aleitamento materno.”

Diversos fatores podem levar ao desmame precoce. Entre eles, “a ausência de apoio emocional e prático, o surgimento da depressão pós-parto, o retorno antecipado ao trabalho, a ocorrência de mastites e as dificuldades com a pega correta do bebê. Diante desses desafios, o apoio contínuo torna-se indispensável. A mãe que amamenta precisa de incentivo e auxílio, o que pode e deve ser ofertado pela sua rede de apoio, seja cuidando do bebê, auxiliando nas tarefas do dia a dia, prestando companhia ou simplesmente sendo presença acolhedora e motivadora”, explica Caroline.

Com relação à legislação brasileira acerca da amamentação, o País tem avançado nas políticas de incentivo ao aleitamento materno, entretanto, ainda enfrenta desafios para alcançar as metas recomendadas pela OMS. De acordo com a pesquisadora, os profissionais da saúde possuem papel fundamental nesse aspecto. “É importante que os profissionais da saúde respeitem e fiscalizem o cumprimento das leis, denunciando qualquer descumprimento. Uma delas é a licença maternidade, que garante 120 dias de licença para as trabalhadoras grávidas, sem que isso prejudique seus empregos ou salários. Outra proteção é o direito ao emprego que evita demissões injustas de mulheres grávidas ou lactantes. As mães também têm o direito de pausas para amamentar, com dois descansos de 30 minutos para alimentar o bebê até os 6 meses de idade.”

Conhecimento das gestantes e acesso odontológico

Francisco Wanderley Garcia de Paula Silva – Foto: Arquivo pessoal

Para a amamentação, é de extrema importância compreender o nível de conhecimento das gestantes acerca do processo, já que isso pode influenciar diretamente na duração e qualidade do aleitamento. Pesquisadores da Forp realizaram um estudo que buscou avaliar precisamente esse aspecto entre primigestas, gestantes que estão na sua primeira gestação, atendidas na Maternidade Cidinha Bonini do Hospital Eletro Bonini, em Ribeirão Preto.

Os resultados da pesquisa revelaram que a maioria das gestantes apresentou um alto nível de conhecimento sobre aleitamento materno, fato comemorado pelo coordenador do estudo e docente do Departamento de Clínica Infantil da Forp, Francisco Wanderley Garcia de Paula Silva. “É uma descoberta significativa que pode estar relacionada ao acesso generalizado a informações sobre a amamentação, muitas vezes promovido por campanhas públicas e pelos cuidados de rotina oferecidos durante o pré-natal.”

A implementação de programas educativos que reúnam informações, suporte profissional e abordagens práticas durante o pré-natal pode ser uma alternativa eficaz para aumentar a duração média da amamentação. “Com a adoção desses programas não apenas se promove a saúde das mães e dos bebês, mas também contribui para o fortalecimento de políticas públicas voltadas para saúde materna e infantil, além do cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas, com impacto positivo na economia da saúde pública.”

Outro fator destacado no estudo é que 79% das gestantes entrevistadas relataram ter recebido atendimento odontológico durante a gravidez, resultado também celebrado por Paula Silva, já que, segundo ele, “a atenção odontológica durante o pré-natal é muito importante, pois os cirurgiões-dentistas podem orientar sobre os cuidados bucais materno-infantis, a importância da amamentação, além de promover práticas preventivas. A integração desses profissionais em equipes multidisciplinares e em cursos de preparação para maternidade pode proporcionar um atendimento mais abrangente para as gestantes”.

stagiário sob supervisão de Ferraz Junior e Gabriel Soares

Fonte: Usp

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