GCMs que bateram em foliões em blocos de carnaval de rua em SP são afastados; veja vídeos e fotos
Quatro guardas-civis municipais foram identificados nas imagens e afastados para que sejam apuradas as condutas deles. Agentes da PM também aparecem nos vídeos. Foliões relataram violência; um deles teve a cabeça cortada por golpe de cassetete e levou 13 pontos. Agressões ocorreram no domingo (19) e segunda (20), no Centro de São Paulo.
GCM afasta 4 agentes envolvidos em conflitos com foliões durante blocos em SP
Vídeos gravados por testemunhas, e que circulam nas redes sociais, mostram agentes da Guarda Civil Metropolitana (GCM) e da Polícia Militar (PM) usando cassetetes contra pessoas que participavam da festa popular (veja acima).
Os desfiles tinham horário para começar e terminar, mas mesmo assim pessoas continuavam ocupando as ruas. Os foliões agredidos relatam que a retirada do público pelas forças de segurança foi feita de violenta.
Casos de agressão foram relatados nas redes sociais — Foto: Reprodução/ Instagram
Bloco do Fuá
O tradicional bloco “Fuá”, que fez no domingo passado o cortejo pelas ruas do Bixiga e Bela Vista, no Centro, informou que guardas-civis e policiais militares agrediram ao menos quatro foliões após o caminhão de som ter ido embora. Os organizadores afirmaram que denunciaram as agressões às autoridades.
Nas imagens que circulam nas redes sociais, um dos foliões segura o cassetete de um dos agentes da GCM, que reage dando golpes nele. Em seguida, outras guardas se aproximam batendo em algumas pessoas que estavam próximas.
Folião levou 13 pontos na cabeça depois de ser golpeado por cassetete de agente de segurança — Foto: Reprodução/Divulgação
Um folião teve um corte na cabeça e precisou tomar 13 pontos, mesmo tendo obecedido o pedido policiais para liberar a via.
“A PM passou pedindo para as pessoas irem para a calçada (corta) Eu me retirei e fiquei esperando um amigo. Senti que o clima estava ficando um pouco tenso. Como eu era a primeira pessoa que estava na guia, fui o primeiro a ser atingido. Recebi uma pancada na cabeça e fui segurado por três ou quatro policiais me cercaram e me deram dez cacetadas pelo corpo”, disse o rapaz, que não quer se identificar.
“Foi a minha primeira vez indo em um bloquinho em São Paulo e eu saí com um certo trauma”, completou.
Mulher exibe marcas da violência sofrida após participar de um bloco de carnaval na Bela Vista, no Centro de São Paulo, no último domingo (19). — Foto: Acervo pessoal
Uma outra mulher também disse que foi chutada no peito por um PM e caiu no chão. Ela exibiu marcas da agressão na altura do peito e da coxa.
“Eu lembro que era um homem. Eu olhei pra cara dele e disse: ‘calma’. Mas não deu nem tempo de nada. Ele me deu uma voadora embaixo do peito, bem na região da costela. E me derrubou no chão”, disse a foliã. “Foi muito rápido. Eu só vi cacetete no ar. Eu até ajudei um folião que ele abriu a testa.”
O bloco “Ursal” publicou uma foto que mostra duas pessoas com marcas de sangue nos calçados. “Nossa solidariedade e apoio aos camaradas do @blocodofua que tiveram foliões e componentes barbaramente agredidos pela polícia […]”, diz a postagem.
Charanga do França
Agressão ocorreu após o bloco ‘A Espetacular Charanga do França’ — Foto: Reprodução/ Instagram
Também há imagens de agressão no bloco “A Espetacular Charanga do França”, que desfilou na última segunda, entre as ruas Martim Francisco e Canuto do Val, em Santa Cecília, Centro da capital. Um folião que participava de um bloco foi agredido com golpes de cassetete durante uma abordagem de um agente da GCM. Não havia confirmação se ele ficou ferido.
A ação dos agentes da GCM ocorreu após o desfile. O g1 procurou as organizações dos blocos para obter mais detalhes sobre o caso, mas não recebeu retorno até a última atualização desta reportagem.
Bloco ‘A Espetacular Charanga do França’ levou centenas de foliões para desfile — Foto: Darlan Helder/g1
O que diz a GCM
Procurada para comenta o assunto, a Secretaria Municipal de Segurança Urbana, responsável pela Guarda Civil Metropolitana, confirmou que afastou temporariamente dos trabalhos nas ruas os guardas envolvidos nas agressões para que as condutas deles sejam apuradas internamente.
“A secretaria não compactua com esse comportamento inadequado. Serão apurados, rigorosamente apurados e o servidor ou servidores que forem efetivamente confirmados na sua irregularidade. A gente busca imagem antes para entender todo o processo que se deu. Aí sim, a gente aplica a pena até pena de demissão”, disse Elza Paulina de Souza, secretária Municipal de Segurança Urbana.
A secretária Municipal de Segurança Urbana, Elza Paulina de Souza. — Foto: Reprodução/TV Globo
O que diz o Bloco do Fuá
O coordenador do Bloco do Fuá, Marco Ribeiro, disse que os organizadores tentaram negociar com a PM e a GCM para que a dispersão do bloco acontecesse na rua Major Diogo, que prejudica menos o trânsito. Mas que não teve a demanda atendida pelo comando da Polícia Militar.
“A gente tentou negociar da gente fazer a dispersão três quarteirões pra frente, que era uma rua menor, a Rua Major Diogo, que é menorzinha e interfere menos no trânsito. Eles falaram não, a gente não vai permitir. Terminamos no horário. Fomos embora e, quem ficou aqui, apanhou da polícia daqui pra lá, e da GCM de lá pra cá”, contou.
“Desobstruir a via é motivo para espancar as pessoas? Não é. Não existe motivo para a polícia bater em folião”, completou.
O que diz a PM
Procurada para comentar o assunto, a PM informou, por meio de nota, que a ação dos policiais foi correta e ocorreu para ajudar a GCM. Segundo a corporação, foliões ainda jogaram objetos nos agentes e feriu um deles. A Polícia Militar também alegou que não houve registro de feridos na ocasião. Nenhum PM foi afastado.
“A Polícia Militar informa que no último domingo (19), após o término de um bloco, na Rua Rui Barbosa, houve tumulto devido à aglomeração e algumas pessoas arremessaram garrafas e latas de bebidas contra os policiais militares – um deles foi ferido na cabeça e precisou ser socorrido. Os PMs intervieram para retomada da ordem pública com o apoio da Guarda Civil Metropolitana. Não foi reportado nenhum caso de pessoas feridas relacionadas ao evento”, informa o comunicado da corporação.