Prefeito de SP diz que mandou apagar pintura feita por usuários de drogas da Cracolândia em rua do Centro

Ricardo Nunes afirmou que gestão municipal é quem delimita espaço público. Segundo moradores do bairro, faixa foi feita nesta terça (10). Dependentes químicos voltaram a se aglomerar e estão concentrados na Rua Vitória.


Usuários de drogas da Cracolândia demarcam rua no Centro de SP — Foto: Arquivo Pessoal

Usuários de drogas da Cracolândia demarcam rua no Centro de SP — Foto: Arquivo Pessoal

O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), disse nesta quarta-feira (11) que mandou apagar a faixa branca feita por usuários de drogas da Cracolândia na Rua Vitória.

Segundo moradores da região, a pintura foi feita nesta terça (10), para delimitar o espaço do chamado “fluxo”, onde ocorre a venda e o consumo das drogas.

Nunes afirmou que quem delimita espaço público é a prefeitura.

O prefeito também disse que irá se reunir nos próximos dias com o Ministério Público para ter uma ação conjunta voltada pra internação compulsória.

Questionada sobre o episódio, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) se limitou a dizer que as forças de segurança da região central acompanham as variações do fluxo e estão intensificando as ações de policiamento na área citada.

“A Polícia Civil, por meio do trabalho de inteligência e investigação, já identificou e prendeu 196 criminosos que atuavam na região da Cracolândia, desde junho de 2021. As investigações integram o trabalho multidisciplinar que visam o combater ao tráfico de drogas e a garantia do atendimento de saúde aos usuários. Já a PM realiza o policiamento ostensivo e preventivo na área e, periodicamente, reorienta as equipes nas áreas com maior incidência criminal”, diz a nota da SSP.

Foto mostra momento em que homem demarca com tinta parte da rua na Cracolândia  — Foto: Arquivo Pessoal

Foto mostra momento em que homem demarca com tinta parte da rua na Cracolândia — Foto: Arquivo Pessoal

Em 2022 a prefeitura e o governo do estado realizaram diversas ações para tentar combater o tráfico de drogas da região.

As medidas, entretanto, não impediram a venda e o consumo no local, apenas fizeram com que os usuários se espalhassem pelo Centro.

Donos de hotéis do bairro chegaram a enviar pedidos de ajuda à Secretaria do Turismo por causa dos prejuízos acumulados por conta das ações de dispersão.

No ano passado, mais de 100 hotéis registraram queda nas reservas. A área é procurada principalmente por dois tipos de turistas: os que vão para as compras em regiões como a 25 de Março e o Brás, e os que participam de eventos corporativos.

De acordo com a Associação da Indústria de Hotéis, por medo, as pessoas estão preferindo se hospedar em áreas mais distantes.

Fechamento do Liceu

O tradicional colégio Liceu Coração de Jesus, na região central de São Paulo, encerrou as atividades neste ano.

Fundada há 137 anos, em um edifício já tombado pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico da Cidade de São Paulo), a instituição ligada à igreja católica chegou a ter mais de 3 mil alunos, mas passou a sofrer com o problema de insegurança causado por sua proximidade com a região da Cracolândia, um dos fatores que levou à diminuição do número de estudantes.

Dispersão de usuários

Mapa com áreas de pequenas Cracolândias pelo Centro de SP — Foto: Reprodução/TV Globo

Mapa com áreas de pequenas Cracolândias pelo Centro de SP — Foto: Reprodução/TV Globo

Novos locais com concentração de pessoas em situação de rua usando drogas surgiram após a dispersão de dependentes químicos da Praça Princesa Isabel, no Centro de São Paulo, segundo pesquisa da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da Universidade de São Paulo (USP) em 2022.

Os pesquisadores identificaram que a maior parte desses pontos está na região central da capital. Eles reúnem de 20 a 200 usuários em cada local.

Na ocasião, o estudo apontou que a tática usada pela prefeitura para a dispersão dos dependentes químicos não era a mais adequada para resolver o problema da Cracolândia.

A prefeitura defende que as ações no centro provocaram um aumento no atendimento aos dependentes químicos, e que desde 2017 é possível verificar uma redução do número de pessoas na Cracolândia.

Entretanto, uma investigação do Ministério Público que apontou ilegalidade no processo afirmou que a grande maioria dos internados não tinha histórico de dependência química.

Cracolândia é desafio há décadas

Dispersão da Cracolândia em SP — Foto: Reprodução/Fantástico

Dispersão da Cracolândia em SP — Foto: Reprodução/Fantástico

A Cracolândia já se mudou para a Praça Princesa Isabel mais de uma vez. Em 2017, depois de uma operação policial com mais de 900 agentes, os usuários que ficavam na Rua Helvétia se espalharam pelo Centro, concentrando-se na praça Princesa Isabel durante um mês.

O então prefeito da capital paulista, João Doria (PSDB), chegou a dizer que a Cracolândia havia acabado em São Paulo. Mas, depois da operação, os dependentes químicos voltaram para o mesmo lugar.

A Cracolândia é um desafio para São Paulo há cerca de 30 anos. Especialistas apontam que a solução passa por medidas efetivas e permanentes nas áreas de saúde, assistência social e segurança pública.

As operações são criticadas por movimentos sociais. Ativistas acusam as forças de segurança de agirem com violência contra usuários de drogas, espalhando eles pela cidade.

Cracolândia se espalha pelo centro de SP; moradores reclamam dos transtornos — Foto: Reprodução/Hora 1

Cracolândia se espalha pelo centro de SP; moradores reclamam dos transtornos — Foto: Reprodução/Hora 1

Fonte: G1

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