Mulher agredida por bolsonarista no Centro de SP tentou defender jornalista de 83 anos; deputado pede identificação de agressor
Parlamentar também pediu investigação por tentativa de abolição ao Estado democrático de Direito e lesão corporal. Homem deu socos e prensou mulher contra grade de prédio. Cena foi presenciada por policiais militares, que liberam o agressor sem que fosse encaminhado à delegacia.
Imagens mostram mulher sendo agredida por integrante de carreata bolsonarista em SP
A mulher que foi agredida na tarde da última sexta-feira (6) por um homem que participava de uma carreata de apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em Higienópolis, no Centro de São Paulo, tentava defender Tellé Cardim, jornalista de 83 anos.
- Debora Alba, de 39 anos, afirmou ao g1 que voltava do mercado quando presenciou um grupo de bolsonaristas indo para cima de Tellé, que estava na calçada com uma bandeira do PT;
- Ela contou que foi tentar defender a senhora, quando outro homem desceu de um carro e partiu para cima dela;
- Um vídeo feito por um morador da região mostra o momento em que o agressor dá um tapa no rosto de Debora e a empurra contra a grade de um prédio;
- O vídeo também mostra que policiais militares presenciaram a cena, mas não detiveram o agressor;
- Debora registrou boletim de ocorrência no domingo (8).
Em nota, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP) prestou solidariedade às vítimas e exigiu “imediata investigação e punição dos responsáveis pelos ataques” (confira íntegra abaixo).
Diante dos fatos, o deputado estadual Emídio de Souza (PT) encaminhou ofícios à diretoria do Departamento de Polícia Judiciária da Capital, à Procuradoria Regional do Ministério Público Federal e à Procuradoria-Geral de Justiça do Estado de São Paulo com os seguintes pedidos:
- Abertura de inquérito para investigação e identificação do agressor;
- Investigação por tentar, com emprego de violência ou grave ameaça, abolir o Estado democrático de Direito (artigo 359-L do Código Penal);
- Investigação por lesão corporal leve (artigo 129 do Código Penal);
“Convém ressaltar que o agressor é parte do movimento extremista que não reconhece o novo Governo Federal eleito e empossado e que, desde o pleito, têm provocado baderna e violência política. O Brasil é uma sociedade democrática onde todos têm o direito de expressar livremente seus posicionamentos políticos e não pode, jamais, compactuar com cenas de violência política como esta”, afirmou o deputado no documento.
Como a agressão aconteceu
“Eu estava voltando para casa quando vi umas quatro pessoas tentando agredir essa senhora que estava na calçada hasteando uma bandeira do Lula. Eu corri para tentar ajudar, e veio esse outro homem na minha direção. Quando vi que ele estava com um objeto na mão que parecia um canivete, eu recuei. Mas aí ele me pressionou na grade, veio para cima do meu rosto”, disse Debora.
Segundo a vítima, os policiais presenciaram toda a agressão, mas apenas escoltaram o homem de volta ao seu carro.
“Os policiais fingiram que não viram nada, escoltaram o agressor para dentro do carro e liberaram ele. Protegeram o agressor. Quando eu e quem estava em volta fomos reclamar, eles disseram para me acalmar porque estava muito nervosa. Foi absurda a reação”, afirma.
O que dizem a SSP e a Polícia Militar
Em nota, a Polícia Militar afirmou “que foi acionada para atender a uma ocorrência de agressão, na Avenida Angélica. No endereço indicado, uma equipe constatou que houve desentendimento entre as partes, mas a situação teria sido resolvida. Por este motivo, não houve detenções”.
Debora afirma que não foi orientada pelos policiais a registrar o Boletim de Ocorrência no momento, mas que entregará as imagens que ajudam a identificar o suspeito à Polícia Civil.
Também por nota, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) de São Paulo informou que um inquérito policial foi instaurado para identificação e responsabilização do agressor que aparece nas imagens. Disse ainda que a conduta dos agentes envolvidos diretamente no atendimento da ocorrência está sendo apurada.
Nota do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo
“As hordas golpistas e terroristas que protagonizaram os mais grotescos ataques à democracia brasileira no domingo (8 de janeiro) também se fizeram presentes na cidade de São Paulo na última semana. A companheira Tellé Cardim, de 83 anos e que foi dirigente deste Sindicato por diferentes mandatos, foi covardemente agredida por esses criminosos na Avenida Angélica, na zona oeste da capital.
As agressões, que foram filmadas, mostram os golpistas cercando a companheira Tellé e demais pessoas que reprovavam a carreata bolsonarista, que percorria a cidade com palavras de ordem golpistas. Os criminosos realizaram xingamentos racistas a um homem que tentou conter os ataques e ficaram ainda mais raivosos ao saber que Tellé era jornalista.
O Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP) presta toda a solidariedade à Tellé e as demais pessoas agredidas por esses criminosos. Nos colocamos à disposição da companheira e exigimos das autoridades imediata investigação e punição dos responsáveis pelos ataques“.
Fonte: G1