Homem é flagrado roubando fios de cobre de semáforo do Centro de SP; roubos desse tipo cresceram 47% na cidade em 2022, diz CET
Com semáforos apagados em várias regiões da cidade, CET diz que registra cerca de 20 ocorrências por dia de furto, roubos e vandalismo de semáforos. Prejuízos da Prefeitura somam R$ 9 milhões. Zona Leste tem as três vias que mais sofrem com esse tipo de crime.
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Rota do cobre: material obtido em roubo de fiação de postes e semáforos é enviado para o exterior e depois retorna ao país
Um homem foi flagrado no Largo do Paissandu, no Centro de São Paulo, roubando os fios de um semáforo e fazendo uma bola do cobre retirado do poste.
Ali mesmo, no meio de rua e em plena luz do dia, o homem contou à produção do Bom Dia São Paulo que venderia o material por cerca de R$ 18,00 (veja vídeo acima).
Segundo a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), o furto de cabos de semáforos na cidade de São Paulo subiu 47% no primeiro semestre de 2022, na comparação com o mesmo período do ano passado.
Homem é flagrado roubando cobre de semáforo no Largo do Paissandu, no Centro de São Paulo. — Foto: Reprodução/TV Globo
A empresa municipal afirmou que precisou reinstalar 231 quilômetros de fiação elétrica no primeiro semestre deste ano. Para ter uma ideia, é a distância entre a capital e o município de Pirassununga, no interior paulista.
São em média, 20 ocorrências de furto por dia e o objetivo dos criminosos é sempre o mesmo: extrair o cobre.
Por isso que encontrar faróis sem funcionar, em todas as regiões da cidade, se tornou cada vez mais comum.
Homem é flagrado roubando cobre de semáforo no Largo do Paissandu, no Centro de São Paulo. — Foto: Reprodução/TV Globo
Zona Leste lidera roubos
Em 2022, as três vias que mais registraram ocorrências foram: Avenida Marechal Tito, Avenida Ragueb Chohfi e Avenida do Imperador. Todas na Zona Leste da cidade.
E foi justamente na Avenida do Imperador, na região de Itaquera, que uma câmera de segurança flagrou, na última quarta-feira (13), uma viatura da Polícia Militar avançando um semáforo quebrado e batendo contra outro carro.
Os dois PMs que estavam na viatura foram socorridos. Em nota, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) disse que investiga as circunstância do acidente.
Fome e miséria
A delegada Ana Lúcia Miranda, da 3ª Delegacia de Investigações sobre Crimes Patrimoniais contra Órgãos e Serviços Públicos, diz que parte das pessoas que praticam esse crime vive em situação de rua ou são usuários de droga.
As investigações apontam também que o cobre furtado é vendido internamente e depois exportado.
Mas a delegada confirma também que há quadrilhas envolvidas e que os bandidos muitas vezes se infiltram ou fingem fazer parte de empresas de telecomunicação e energia.
“Em razão da população crescente de rua, em razão da economia, que não está muito boa, tem aumentado, está crescente, os furtos desse material, do cobre. Então, nós temos executado trabalhos no sentido de tentar inibir que essa população de rua cometa esses furtos, como também, há pessoas que já estão, assim, organizadas, preparadas, pra estarem furtando esse material”, disse a delegada.
“Muitas vezes, assim, ex-funcionários, pessoas com conhecimento técnico simulando serem de empresas terceirizadas. Eles colocam biombos até, roupas características, pra não serem identificados. E acabam furtando também esse material em grande quantidade. Principalmente em área subterrânea, né?”, completou.
Operações da Polícia Civil
No começo da semana passada, policiais do DEIC encontraram uma grande quantidade de cabos da Enel nesse ferro velho, na Vila Sônia, Zona Oeste. Dois irmãos foram presos em flagrante por receptação qualificada.
Eles recebiam os fios de dois funcionários de uma empresa terceirizada da Enel que recolhiam os fios elétricos sem ordem de serviço. A dupla foi indiciada pelo crime de furto qualificado.
“Já realizamos, com a Prefeitura e a Guarda Civil Metropolitana, alguns trabalhos recentes. Autuamos, em flagrante, alguns comerciantes. Recolhemos alguns materiais identificados. E esses comércios foram fechados. Atualmente, estamos desenvolvendo trabalhos de inteligência com a Secretaria da Segurança Pública, em que tenha participação da Polícia Militar e, novamente, a Guarda Civil Metropolitana tem nos orientado, juntamente com a prefeitura, no sentido de intensificar ainda mais o trabalho que já vem sendo executado, em razão da demanda crescente, dos furtos que vem ocorrendo, dos cabos de rede, principalmente de semáforos”, disse Ana Lúcia Miranda.
As operações, no entanto, ainda não foram suficientes pra diminuir os furtos que só este ano já causaram um prejuízo de R$ 9 milhões para a Prefeitura de São Paulo. Nem diminuir a sensação de risco dos motoristas e pedestres que ficam sem a principal sinalização do trânsito.
Homem é flagrado roubando cobre de semáforo no Largo do Paissandu, no Centro de São Paulo. — Foto: Reprodução/TV Globo
Alto valo do cobre
A professora de Engenharia Elétrica da FEI-SP, Michele Rodrigues, explica que o alto valor do cobre no mercado mundial despertam o interesse dos criminosos.
“O cobre é o terceiro elemento mais utilizado, né? Isso faz dele muito importante na cadeia. Estratégico no mundo. O cobre é uma commoditie. E vai oscilar. E está oscilando conforme a demanda. E a gente tem uma demanda grande. Uma demanda que tem uma possibilidade de aumento. Então, por exemplo. Veículos. Mobilidade. Carros elétricos, né? Eles têm uma quantidade de cobre grande na sua manufatura. E isso vai cada vez aumentar mais com a tendência dos carros elétricos. Então, o cobre vai acabar sendo mais requerido aí”, afirmou.
“A gente tem alguns reflexos da pandemia, que impactaram no valor do cobre, nessa cotação. Tem também a guerra na Ucrânia, que acaba impactando. Isso tudo faz dele um alvo muito importante, né? Sem contar que ele é um excelente condutor elétrico. Muito mais do que o aço, do que o alumínio. Ele é mais resistente a oxidação. Então, para alguns sistemas, como aterramento, tem que ser cobre, pra ter uma durabilidade maior. Instalações subterrâneas tem essa obrigatoriedade de ser o cobre também, porque, às vezes, são instalações que ficam imersas, submersas, à água por um grande período de tempo. E tudo isso dentro aí dele ser um excelente condutor elétrico”, declarou.
Fonte: G1