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Empresa que opera ônibus na Zona Leste de SP é investigada por suspeita de ser comandada por facção criminosa

Prefeitura de São Paulo afirmou que vai manter contrato com a Upbus, que opera 13 linhas de ônibus na Zona Leste, mesmo depois da operação da Polícia Civil contra empresa, alvo de investigação sobre lavagem de dinheiro.


Polícia diz que chefes de facção criminosa são diretores em empresa de ônibus em SP

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Polícia diz que chefes de facção criminosa são diretores em empresa de ônibus em SP

A empresa de transporte público Upbus está no centro de uma das maiores investigações do Departamento Estadual de Prevenção e Repressão ao Narcotráfico (Denarc). A companhia é uma das 32 que venceram a licitação para operar o transporte de passageiros na cidade de São Paulo em 2019, e a suspeita é a de que ela seja comandada por uma facção criminosa.

A suspeita veio à tona quando a polícia começou a investigar um dos donos da empresa por uso de nome falso e lavagem de dinheiro. Anselmo Bicheli Santa Fausta, conhecido como “Cara Preta”, em alguns documentos, usava o nome de Eduardo Camargo de Oliveira e, em outros, o nome verdadeiro.

A empresa – contratada pela prefeitura – é responsável por 13 linhas de ônibus, nos bairros de Itaquera e São Miguel Paulista, na Zona Leste da capital.

A polícia diz ter provas de que cinco chefes de uma facção criminosa paulista fazem parte da direção da Upbus. Dois deles aparecem entre os sócios: Alexandre Salles Brito, chamado de Buiú, e Claudio Marcos de Almeida, o Jango.

A ata da empresa, registrada na Junta Comercial do estado, mostra que a Upbus tem hoje 60 sócios. Quando foi criada, em 2015, eram três sócios, e um capital registrado de R$ 1 milhão.

Em 2021, apenas um dos diretores permaneceu, e a empresa passou a ter 60 sócios, com um capital muito maior, de R$ 20 milhões. Para a polícia, esse é um dos indícios de lavagem de dinheiro.

Parentes dos cinco investigados também entraram para a sociedade. No lado de Anselmo, estão no contrato um primo, a irmã, o pai e dois advogados. No lado de Décio Gouveia Luiz, o Décio Português, está a mulher dele.

Também são sócias as esposas de Claudio, de Alexandre e de Silvio Luiz Correia, o Cebola.

Empresa de ônibus da Zona Leste da capital é investigada pela polícia

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Empresa de ônibus da Zona Leste da capital é investigada pela polícia

Anselmo foi assassinado e degolado em dezembro de 2021. A cabeça dele foi deixada em uma praça do Tatuapé, também na Zona Leste. Claudio foi encontrado morto debaixo do Viaduto Vila Matilde, na mesma região.

Em um ano de investigações, o Denarc encontrou também, entre os sócios da Upbus, pessoas rastreadas pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), ou seja: pessoas que investiram na empresa sem ter como provar a capacidade financeira.

Sócios da empresa já foram investigados por crimes graves como homicídios, tráfico de drogas, sequestros e roubo a bancos. O delegado que acompanha a investigação já ouviu 10 dos 60 sócios. Os depoimentos revelaram que a facção criminosa se apropriou de alguns ônibus e usou o nome dos proprietários sem que eles soubessem.

A polícia encontrou um dos sócios na imagem de um ataque a caixa eletrônico em Sertãozinho, interior do estado, em março de 2019. Os investigadores afirmam que o homem que aparece abrindo um buraco na máquina com um pé de cabra é Luiz Roberto Almeida Santos Junior, preso na época. A mãe dele também é sócia da Upbus, com uma cota de R$ 123.700.

A Prefeitura de São Paulo , em nota, informou que recebeu um ofício da Polícia Civil de que a investigação não afeta o serviço de transporte público e, por isso, manterá o contrato com a empresa. Disse também que vai acompanhar o caso. A TV Globo tentou contato com a Upbus, mas não obteve resposta até a última atualização desta reportagem.

Operação da Polícia Civil

Uma operação da Polícia Civil de São Paulo cumpriu, na última quinta-feira (2), 62 mandados de busca e apreensão para averiguar a movimentação de R$ 500 milhões de reais da Upbus.

A polícia acredita que as identidades de Anselmo foram usadas para “esquentar” dinheiro do tráfico de drogas. Segundo a investigação, ele fazia apostas em casas lotéricas que variavam de R$ 200 mil a R$ 800 mil reais e, numa delas, recebeu parte de um prêmio de R$ 40 milhões, que ganhou com um sócio, um contador.

Segundo o delegado Fernando Santiago, a empresa faz “lavagem de capitais, inclusive com integração de valores com seus acionistas”. “Muitos deles, quando têm profissões declaradas, são profissões que não propiciam um regular aporte financeiro dentro dessa empresa.”

Na operação, quando a polícia chegou a um dos endereços no começo da manhã, o dono da casa via tudo pelas câmeras de segurança. Os policiais cumpriram 62 mandados de busca e apreensão.

Eles recolheram computadores, R$ 55 mil em dinheiro e documentos. Duas mulheres foram detidas. Elas aparecem como donas de um arsenal: um fuzil, uma submetralhadora, seis pistolas, dois revólveres e muita munição. Para a polícia, elas são parentes dos investigados e estão registradas como colecionadoras, atiradoras desportivas e caçadoras.

Os investigadores explicaram que este é um novo meio usado por criminosos para ter armas de forma legal. O caso é acompanhado há um ano pelos policiais.

A TV Globo entrou em contato com a empresa de ônibus UpBus, mas não obtiveram resposta até a última atualização desta reportagem. A SPtrans esclareceu que a UpBus é concessionária operadora do transporte público, depois de vencer uma licitação pública.

Fonte: G1

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