Educação

Incidentes em escolas acendem um alerta sobre a saúde mental dos estudantes brasileiros

Um grupo de alunos de uma escola do interior de São Paulo utilizou lâminas de apontador de lápis para se cortar. No Recife, estudantes tiveram uma crise de ansiedade coletiva em um dia de prova. Especialistas afirmam que pandemia pode ter funcionado como gatilho para que sofrimentos aumentassem.


O que pode estar acontecendo com a saúde mental dos estudantes brasileiros?

O que pode estar acontecendo com a saúde mental dos estudantes brasileiros?https://eb07c2d797a534a72aef22584494d466.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html

No interior de São Paulo, nove alunos da mesma escola se cortaram com lâmina de apontador na sala de aula e no banheiro do colégio. No Recife, quase 30 estudantes foram socorridos depois de uma crise de ansiedade coletiva. São casos que acendem um alerta: o que pode estar acontecendo com a saúde mental dos estudantes brasileiros? Veja a reportagem completa no vídeo acima.

Era dia de prova para alunos do Ensino Médio de uma escola pública de Recife. Quem estava lá, não esquece. Muitos alunos passaram mal, alguns desmaiaram. Foi a primeira vez que as equipes do Samu foram chamadas pra atender esse tipo de urgência na capital de Pernambuco.

Diante da quantidade de adolescentes, o Samu ativou o protocolo de atendimento de múltiplas vítimas. Os estudantes tiveram que ser atendidos no local mesmo, mas ninguém precisou ir pra um hospital.

“Na verdade, começou por uma situação de uma estudante, essa situação de apresentar angústia, de ansiedade, de medo, que acabou gerando um efeito dominó junto a outros colegas”, explica Neuza Pontes, gerente regional da Secretaria de Educação de Pernambuco.

Durante a semana, teve gente que duvidou dessa ansiedade coletiva. Como se fosse possível fingir todos aqueles sintomas.

“Fingimento, uso de drogas ou de bebidas, intoxicação alimentar, tudo isso foi descartado. A sudorese, ataque cardíaco, é em relação são relacionadas a crise de ansiedade”, afirma.

Carolina Campos, diretora executiva da consultoria em inteligência educacional Vozes da Educação, explica que os jovens têm algo chamado contágio emocional. Segundo ela, eles conseguem contaminar o ambiente de uma forma muito rápida.https://eb07c2d797a534a72aef22584494d466.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html

“Mas é claro que não é em qualquer adolescente que isso vai acontecer, são adolescentes que muito provavelmente tem uma suscetibilidade prévia, uma fragilidade, do ponto de vista emocional. No grupo, esse sofrimento pode se potencializar e os comportamentos se repetirem”, afirma Guilherme Polanczyk, professor de Psiquiatria da Infância e Adolescência da USP.

A mais de dois mil quilômetros dali, em Jarinu, no interior de São Paulo, mais um alerta que vem da escola. Alunos do sexto e sétimo anos do Ensino Fundamental se cortaram com lâminas de apontador de lápis.

A primeira a se cortar foi uma estudante. Ela falou ao Fantástico na presença da mãe.

“Eu achava que me machucar – de qualquer maneira – podia aliviar aquela dor que eu senti”, relata.

Depois, foi a amiga dela, que também recebeu a equipe de reportagem ao lado da mãe.

“Eu fui lá no banheiro e me cortei também. E aí outros alunos viram o que aconteceu e também foram se cortar”, conta.

Uma professora levou o caso à direção da escola. Segundo a Secretaria de Educação, 9 crianças se automutilaram. Foram ferimentos leves. Agora, vão receber acompanhamento psicológico.

O que os especialistas dizem é que, por trás de uma autolesão, pode existir uma ferida interna. Um transtorno de fato ou um sofrimento que precisa ser cuidado. Abandono, violência, falta de atenção do pai ou da mãe. Alguma coisa que esteja doendo muito e que agora – na adolescência – eles não estão sabendo lidar e não conseguem mais esconder.https://eb07c2d797a534a72aef22584494d466.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html

E a pandemia parece ter funcionado como um gatilho para que esses sofrimentos aumentassem. Um mapeamento feito no estado de São Paulo, em 2021, aponta que 69% dos estudantes avaliados relatam sintomas de depressão e ansiedade. O que representa mais de 443 mil estudantes.

Como a escola e a família podem ajudar

“É muito difícil a gente falar que a gente vai voltar a ser como antes. Não há volta, há recomeço. A prevenção passa por uma série de políticas públicas, mas também por ações simples que as escolas podem adotar. As escolas podem criar um formulário de avaliação diagnóstica socioemocional. A gente precisa de entender que a escola pode ser um espaço de cura. É o lugar que estabelece rotinas, a escola é o lugar que pode promover atividades lúdicas, culturais”, diz Carolina Campos.

O psiquiatra Guilherme Polanczyk reforça ainda que, para esses adolescentes que estão sofrendo com isso, simplesmente retornar à escola não é suficiente.

Eles precisam de uma ajuda, de um olhar de tratamento eventualmente especializado. As famílias tendem a adiar muito a busca por um profissional de saúde mental. São aconselhamentos, intervenções psicoterápicas que bem localizadas podem ter um efeito muito importante de fato prevenir problemas futuros”, explica.

Fonte: G1

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