Jovem acusa diretor de chantagem sexual para manter emprego em hospital de SP: ‘vida desabou’
Diretor de Saúde nega o crime e alega armação política para prejudicá-lo. Polícia Civil em Pedro de Toledo (SP) instaurou inquérito.
Funcionária diz que sofreu violência sexual de diretor de Saúde de Pedro de Toledo, SP — Foto: Arquivo Pessoal https://89af36eed5359f166920bf23e7864387.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html
A coordenadora de Saúde Priscila Lima, de 32 anos, registrou um boletim de ocorrência contra o diretor de Saúde de Pedro de Toledo, no interior de São Paulo, alegando que foi vítima de violência sexual. De acordo com ela, seu então superior à época a levou para uma sala, tirou a calça e disse que “eram regras da casa”, para que mantivessem relação sexual. O diretor nega os fatos, e alega que trata-se de uma armação política para prejudicá-lo (leia mais abaixo).
Priscila afirma que foi trabalhar na cidade após a morte do ex-marido, que era médico e já trabalhou na região de Pedro de Toledo. “A minha vida desabou, tudo dele foi para inventário, e nossa pensão [dela e da filha] diminuiu muito”, diz.
Após o óbito dele, ela se viu em situação financeira difícil e, segundo conta, como fazia faculdade de medicina no Paraguai, resolveu tentar algum trabalho na área da Saúde no município, e contatou o prefeito. A conversa inicial foi referente à adoção de um cachorro, mas Priscila aproveitou para comentar que procurava trabalho durante a conversa. Segundo ela, o prefeito ofereceu um cargo na área de Saúde.
Ainda de acordo com Priscila, em dezembro do ano passado, foi à cidade fazer uma entrevista, e acabou contratada como coordenadora de Saúde, se mudando para Peruíbe – município vizinho a Pedro de Toledo – para começar no novo cargo. Em seguida, já passou a atuar na função.
Priscila afirma que, em conversa sobre emprego, superior mandou print de foto sua com decote e perguntou ‘como fazia para ver de perto’ — Foto: Arquivo Pessoal https://89af36eed5359f166920bf23e7864387.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html
Porém, a profissional afirma que, no meio de fevereiro, no período da tarde, foi chamada pelo diretor de Saúde da cidade, Ranulfo Pereira, para uma sala do pronto-socorro. Conforme relata, assim que entrou, ele trancou a porta, tirou a roupa de baixo e disse “essas são as regras da casa, estou te dando boas-vindas”.
“Eu, sem entender nada, cedi, e tive relações sexuais com ele, porque precisava do serviço. Estava em uma situação difícil, e tenho uma filha para criar, pensei que precisava sustentar minha família. E aí, ele disse que sempre que ele quisesse, faria um sinal com a cabeça, e eu saberia e teria que esperar ele naquele sala, porque era assim que funcionava ali”, afirma.
Antes de ser contratada
Ainda de acordo com Priscila, em janeiro, pouco antes de ser contratada, foi orientada a manter contato sobre o trabalho com o diretor de Saúde, por isso, mandou mensagens a ele perguntando da vaga. De acordo com ela, logo na primeira conversa, ele enviou um print de uma foto dela das redes sociais, e perguntou como faria para “ter acesso aos seios dela”, e se ela teria mais fotos como aquela.
“Eu percebi que se tratava de um jogo sexual, e realmente conversei com ele, entrei no jogo, porque estava desesperada, precisando de um emprego”, diz. Ela também afirma que o diretor enviava mensagens fora do horário de trabalho, muitas vezes até de madrugada, e ela não gostava, e às vezes nem respondia. https://89af36eed5359f166920bf23e7864387.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html
“Um dia, ele voltou de viagem e fez sinal com a cabeça [para ir na salinha], e eu fiz sinal dizendo que não iria. Então, ele saiu e voltou, me demitindo na frente de todos os funcionários, sem nenhuma justificativa. Até aí, tudo bem, eu já queria pedir demissão pela situação, mas ele também passou a prejudicar minha imagem com os outros funcionários, dizendo que eu não tinha a documentação certa para o cargo, e que minhas roupas eram indecentes”, diz Priscila.
A profissional também relata que uma colega de trabalho chegou a concordar, em mensagem, que as roupas dela eram inapropriadas. “Eu sempre me vesti normalmente, super bem, não tinha nada demais, tenho fotos para comprovar. Depois de todo o ocorrido, relatei tudo ao prefeito, mas não tive resposta. Eu não teria porque mentir sobre isso e me expor dessa forma, e é muito difícil você ir contra o sistema”.
Dias após a demissão, a profissional compareceu à delegacia e registrou boletim de ocorrência contra o superior. Em nota, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) informou que o caso é investigado pela Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) de Peruíbe, que instaurou inquérito policial para apurar os crimes de violação sexual mediante fraude e assédio sexual. A investigação tramita em segredo de Justiça, por se tratar de crime sexual. https://89af36eed5359f166920bf23e7864387.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html
Profissional relatou que uma funcionária também disse que ela usava roupas ‘vulgares’ — Foto: Arquivo Pessoal
Defesa
Em nota, a Prefeitura de Pedro de Toledo informou ao g1 que a administração não recebeu qualquer denúncia sobre o assunto em questão, porém, ao tomar conhecimento informal sobre o fato – por meio das redes sociais -, o prefeito questionou o diretor de Saúde, por expediente próprio, e o mesmo se defendeu.
A prefeitura afirma que o diretor de Saúde negou os fatos a ele imputados, inclusive colocando seu celular à disposição da autoridade policial e da Justiça Criminal para ser periciado. Alegou que é vítima de uma armação política para prejudicá-lo, e que os prints expostos pela denunciante são parciais, mas que o conteúdo completo encontra-se sob seu poder, e será entregue à polícia em momento oportuno, o que demonstrará sua inocência.
A administração municipal também alega que, considerando que não existe qualquer denúncia formal contra o diretor de Saúde, e que a administração deve agir em respeito ao sacrossanto direito à ampla defesa, dentro do devido processo legal, garantidos os direitos constitucionais do contraditório e da ampla defesa, a administração entendeu por bem manter o diretor no cargo até que exista algo que de fato o desabone.
Fonte: G1