Bancas do Mercadão seguem aplicando ‘golpe da fruta’ depois de denúncias virem à tona; veja flagrante

O g1 esteve no Mercado Municipal de SP nesta segunda, visitou 4 barracas e fez compras em três delas. No total, o g1 gastou quase R$ 100 por uma única unidade de fruta-do-conde, cinco morangos e 18 tâmaras. O Procon-SP afirma que está monitorando o golpe.


Frutas são vendidas no Mercadão Municipal de São Paulo por valores muito acima da média

Frutas são vendidas no Mercadão Municipal de São Paulo por valores muito acima da média https://697534bc13c6d8770763ca9e2acf5d42.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html

Mesmo após internautas denunciarem o chamado “golpe da fruta” e a concessionária responsável pela administração do Mercado Municipal de São Paulo advertir e multar lojistas, bancas do Mercadão seguem tentando impor preços abusivos aos clientes.

O g1 esteve no local na segunda-feira (14), visitou quatro barracas e, em todas, a equipe foi constrangida a comprar frutas por valores muito acima da média.

No total, o g1 gastou quase R$ 100 por uma única unidade de fruta-do-conde, cinco morangos e 18 tâmaras.

Uma das estratégias mais usadas e presenciadas pela reportagem foi a de tentar convencer os consumidores a levar bandejas de frutas pelo preço do grama de cada produto, que segundo eles, é mais barato que o quilo (veja mais abaixo). https://697534bc13c6d8770763ca9e2acf5d42.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html

No sábado (12), a concessionária responsável pela administração do Mercadão informou que 10 lojistas foram advertidos e multados após as denúncias.

Barraca de frutas no Mercadão Municipal de São Paulo.  — Foto: Deslange Paiva/ g1 SP

Barraca de frutas no Mercadão Municipal de São Paulo. — Foto: Deslange Paiva/ g1 SP

Como funciona o golpe?

Logo quando se entra no Mercadão, vendedores já iniciam a abordagem, insistindo que o cliente prove diversas frutas. Enquanto isso, eles contam histórias sobre a origem dos produto e em nenhum momento citam os preços.

Em todas as barracas eles usam o mesmo argumento e falam que, por ser “a primeira compra do dia, o cliente recebe promoções”.

Em uma das barracas, um vendedor informou ao g1 que o quilo da fruta-do-conde, também conhecida como pinha, sairia por R$ 69,90, porém, se levasse em gramas, o valor ficaria mais barato. De acordo com a Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), o preço médio do quilo da fruta-do-conde no atacado é de R$ 8.

O vendedor argumentou que, levando duas frutas-do-conde, o cliente não teria 1 kg da fruta, já que em média, cada uma pesava 300 gramas.

Na hora de pesar e calcular o pagamento, o primeiro valor apresentado foi de R$ 80 por duas frutas-do-conde. Com a recusa, o vendedor insistiu em embrulhar duas unidades e disse que faria o valor “especial” de R$ 60 pelas duas. Apesar da insistência, a reportagem levou apenas uma, que saiu por R$ 40.

“Olha, as duas dariam esse valor [R$ 80], mas eu posso fazer um preço especial, R$ 60 para você. Vai pagar R$ 40 em uma só? Leva as duas por R$ 60, você tem dinheiro, sim”, disse o vendedor.

Bandeja com uma fruta-do-conde pelo valor de R$ 40 — Foto: Deslange Paiva/g1 SP

Bandeja com uma fruta-do-conde pelo valor de R$ 40 — Foto: Deslange Paiva/g1 SP

Em uma outra banca, o vendedor informou que estava com uma promoção em que 100 gramas de qualquer fruta sairia pelo valor de R$ 12.

“É [sic] R$ 12 cada 100 gramas, você pode misturar as frutas que mais gostou. Pega só um pouquinho das frutas que você mais gostou de provar. O mix fica R$ 12 , baratinho”, disse.

A reportagem pediu que colocassem 200 gramas de morango e tâmaras e, depois disso, a bandeja foi mandada para os fundos da barraca, onde seria feito o pagamento.

Na hora do pagamento, o funcionário do caixa não soube explicar com qual referência de quilo ele iria fazer o cálculo do valor, já que tinha duas frutas diferentes na pesagem. Apenas acrescentou o valor de R$ 129,90 no caixa como referência e tentou cobrar de início R$ 80 por 5 morangos e 10 unidades de tâmaras.

A reportagem falou sobre a promoção informada de R$ 12 por 100 gramas, mas na hora da pesagem os 200 gramas se tornaram 400 gramas. Depois de muita insistência, o vendedor ofereceu a bandeja por um preço “especial” de R$ 40.

Segundo a Ceagesp, a média do quilo do morango é de R$ 12 em São Paulo.

Os tipos de golpes:

  • Ofertar um produto por um valor e cobrar mais do que o dobro na hora do pagamento;
  • Apresentar o valor por grama em vez de falar por quilo para tentar confundir o consumidor;
  • Colocar mais produtos do que o solicitado pelo cliente nas bandejas para aumentar o peso e elevar o valor da compra.
Bandeja com morangos e tâmaras — Foto: Deslange Paiva/g1 SP

Bandeja com morangos e tâmaras — Foto: Deslange Paiva/g1 SP

Os preços de cada barraca também não seguem um padrão. Em uma terceira, um vendedor tentou montar mais uma bandeja de morango com tâmaras, o g1 recusou algumas vezes, ainda assim ele insistiu em montar uma somente com tâmaras. A bandeja com 8 unidades saiu por R$ 13. Em outras lojas no varejo, 200 gramas de tâmara saem por cerca de R$ 10. https://697534bc13c6d8770763ca9e2acf5d42.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html

O g1 também abordou uma turista que estava andando pelo Mercadão, e ela disse que gastou R$ 80 em uma bandeja com quatro frutas. “Pelo que percebemos aqui, esse é o preço na bandeja, não sai menos que isso.”

O funcionário do estacionamento também comentou sobre os preços e disse que no Mercadão a tradição é a de uma única fruta custar R$ 50.

“Quem vem aqui precisa ter dinheiro, tem que vir para gastar. Mas eu jamais sairia de casa para gastar com fruta, não dá certo.”

Ainda segundo relatos de consumidores do local, além dos preços abusivos, os vendedores também costumam colocar açúcar na fruta na hora de ser degustada. A reportagem não conseguiu verificar se as facas que os vendedores usaram para cortar as frutas tinham açúcar, mas todas as frutas provadas estavam extremamente doces.

O g1 esteve no local por cerca de 2 horas e visitou quatro barracas, com compras em três delas. Uma fruta-do-conde, 5 morangos e 18 tâmaras saíram por R$ 93, após muito “choro”. Segundo a Ceagesp, a média do kg do morango, por exemplo, é R$ 12 em São Paulo.

O Procon-SP informou que está monitorando o golpe.

“Trata-se de oferta enganosa e abusiva a abordagem do modo como é feita e, se houver ofensas ao consumidor, pode ser até crime”, afirmou o diretor-executivo do Procon-SP, Fernando Capez.

“O golpe está sendo monitorado pelo Procon. Se alguma das vítimas reclamar no site do Procon-SP, nós iremos multar o estabelecimento”, completou.

Mais relatos nas redes

No Instagram, o perfil golpe_do_mercadao_sp, recebe relatos de consumidores que sofreram o golpe no Mercadão. A conta já tem mais de 11 mil seguidores e centenas de relatos entre postagens e comentários.

Em um deles, um consumidor informou que a polícia foi acionada depois de uma briga em que uma família se recusou a pagar R$ 370 em uma bandeja de frutas.

“Somos do Paraná, em uma visita em São Paulo fomos até o Mercadão. Nos ofereceram várias frutas para degustação, segundo eles, exóticas. Enquanto provávamos, eles preparam uma bandeja com todas as frutas, nos recusamos a pagar. Eles nos chamaram de folgados, e o meu primo acabou deferindo um soco contra um vendedor. Argumentaram para os policiais que a gente tinha comido tudo e se recusado a levar a bandeja”, informou uma consumidora.

Uma outra pessoa afirmou que pagou R$ 200 em uma bandeja de laranja porque um dos vendedores estava com uma faca na mão, e ela se sentiu ameaçada.

Relato de consumidor que caiu no golpe da fruta — Foto: Reprodução/ Redes sociais

Relato de consumidor que caiu no golpe da fruta — Foto: Reprodução/ Redes sociais

Multas aplicadas

Segundo a concessionária Mercado SP SPE S.A., as multas aplicadas aos lojistas variam de 10% a 100% do valor da locação do box do lojista. Se houver uma segunda multa, o contrato com o lojista será rescindido, e a concessionária irá ajuizar ação de despejo.

“A Concessionária realiza reuniões rotineiras com os responsáveis pelas bancas de frutas, orientando e advertindo sobre as boas práticas a serem observadas por todos, bem como, advertindo das consequências do não cumprimento do Regimento Interno, do Contrato firmado e da legislação em vigor”, afirmou a empresa em nota.

“É muito importante que a companhia seja informada de eventuais abusos para que sejam tomadas as medidas necessárias. Para isso, entre em contato conosco pelo e-mail: sac@mercadospspe.com.br”, informou a concessionária.

O Mercadão de São Paulo, no Centro da cidade, é um dos principais pontos turísticos da capital, famoso pelo sanduíche de mortadela e pela pastel de bacalhau.

Fonte: G1

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