Educação

Alunos de escolas públicas têm aprendizagem afetada por falta de estrutura

Alunos de escolas públicas têm aprendizagem afetada por falta de estrutura

Dados do Anuário Brasileiro da Educação Básica apontam impactos na aprendizagem; só 38,7% das salas têm ar-condicionado

André Nicolau e Sidney Gonçalves do Carmo, colaboração para a CNN

O Brasil ainda enfrenta desafios significativos na oferta de infraestrutura básica nas escolas públicas, segundo dados divulgados nesta quinta-feira (25) pelo Anuário Brasileiro da Educação Básica 2025, elaborado pelo Todos Pela Educação, Fundação Santillana e Editora Moderna. Menos da metade das unidades tem acesso a esgoto, mais de 20% não contam com coleta de lixo e apenas 38,7% das salas de aula têm algum tipo de climatização, como ar-condicionado ou aquecedor. Minas Gerias apresenta o menor índice do país (11,7%), enquanto Rondônia lidera com 91,4%.

Para Gabriel Corrêa, diretor de Políticas Públicas do Todos Pela Educação, “a ausência de infraestrutura básica está diretamente ligada às condições de aprendizagem. No Norte, os custos logísticos e operacionais tornam a situação ainda mais crítica”. “Já houve muitos avanços no país, mas há regiões em que a situação permanece crítica. No caso do Norte, por exemplo, esses fatores são ainda mais complexos, e é fundamental que as políticas levem em consideração o Fator Amazônico, ou seja, os custos logísticos e operacionais adicionais que a região impõe.”

Fonte: Anuário Brasileiro da Educação Básica 2025 • Divulgação
Fonte: Anuário Brasileiro da Educação Básica 2025 • Divulgação

Entre as regiões menos preparadas para as intempéries, o Sudeste (21,5%) apresenta a menor taxa, enquanto o Centro-Oeste (64,2%) tem o maior índice. Ainda quanto à climatização em sala de aula, estados como São Paulo aparece com o menor percentual (12,4%) e Rondônia, com o maior (91,4%). Confira os dados completos do Anuário Brasileiro da Educação Básica 2025.

Em entrevista exclusiva à CNN Brasil, Ivan Gontijo, gerente de Políticas Educacionais da ONG Todos Pela Educação, destaca que a pauta conhecida como educação resiliente a mudanças climáticas se caracteriza por duas grandes questões. “O que fazer para proteger as escolas e a aprendizagem das crianças diante de eventos como as enchentes do Rio Grande do Sul ou na pandemia. E como a escola dialoga com esse mundo em transformação e com as mudanças climáticas?”

Um possível caminho, segundo o especialista, está justamente na adoção da educação ambiental no currículo escolar. “É importante trazer essas discussões para dentro da escola para criar cidadãos mais conscientes, porque o fato é que o mundo está ficando mais quente e isso é um desafio, especialmente no caso brasileiro, que é um país tropical.”

Anuário Brasileiro da Educação Básica 2025 • Divulgação
Anuário Brasileiro da Educação Básica 2025 • Divulgação

O especialista destaca também que eventos climáticos críticos impactam não apenas a aprendizagem, mas contribuem para fatores como abandono e evasão escolar. “Uma instituição que acolhe o estudante não atende apenas princípios básicos. Ou seja, a climatização não uma questão de luxo, mas pauta estritamente necessária, porque se ela não for cumprida, a depender dos contextos, os alunos vão ser afastar das escolas.”

Quanto à tecnologia, 44% das escolas públicas estão conectadas com parâmetros adequados para uso pedagógico em sala de aula. Por outro lado, 4,6% não possuem nenhuma conexão ou nem mesmo energia elétrica confiável, dificultando a implementação de aulas digitais ou híbridas.

Dados do Anuário Brasileiro da Educação Básica 2025 • Divulgação
Dados do Anuário Brasileiro da Educação Básica 2025 • Divulgação

Desigualdade na educação

O relatório destaca ainda como a desigualdade de aprendizagem entre estudantes brancos, negros, indígenas e amarelos se acentuou entre 2013 e 2023. Enquanto 91,5% dos jovens brancos concluem o ensino fundamental aos 16 anos, esse índice cai para 83,5% entre os pardos e para 80,9% entre os pretos.

A defasagem é ainda maior entre estudantes do ensino médio, onde aos 19 anos 79,4% dos brancos concluíram essa etapa, frente a 66,6% dos pardos e 62,1% dos pretos.
As desigualdades também se manifestam nos níveis de aprendizagem, com alunos brancos e amarelos registrando desempenho superior ao de alunos pretos, pardos e indígenas em avaliações de língua portuguesa e matemática.

O levantamento também traz como os impactos da pandemia de covid-19 ainda se refletem nos níveis de aprendizagem. Apenas 37,2% dos alunos do 5º ano do ensino fundamental da rede pública têm aprendizado adequado em língua portuguesa e matemática, índice menor do que o pré-pandemia. Entre estudantes do 9º ano, apenas 13,3% atingem a aprendizagem adequada, e na 3ª série do ensino médio, esse percentual cai para 4,5%. Apesar de avanços pontuais, o índice de alunos com aprendizagem adequada em matemática e língua portuguesa permaneceu em 7,7% em 2023, estatisticamente similar a 2021.

Já o acesso à educação infantil melhorou entre 2014 e 2024. A matrícula de crianças de 0 a 3 anos passou de 29,7% para 41,2%, o maior percentual já registrado. Ainda assim, 19,7% permanecem fora da rede, devido à falta de creches, distância até as unidades, ausência de vagas ou recusa por idade. Entre crianças de 6 a 10 anos, a taxa de matrícula nos anos iniciais do ensino fundamental foi de 93,3% em 2024, o menor nível da série histórica pelo segundo ano consecutivo.

Educação de Jovens e Adultos e analfabetismo funcional

O Anuário Brasileiro da Educação Básica 2025 também aponta que o acesso à EJA (Educação de Jovens e Adultos) caiu 34,5% na última década, somando 2,4 milhões de matrículas em 2024, sendo 140 mil integradas à educação profissional. Por outro lado, a escolaridade média da população de 18 a 29 anos subiu para 11,9 anos, e o analfabetismo funcional entre pessoas de 15 a 64 anos caiu de 37% para 29% em duas décadas. Entre homens, o índice é de 32%, entre pessoas pretas, 26%, e entre aqueles com escolaridade até os anos iniciais do ensino fundamental, 82%. Mesmo entre quem concluiu o ensino médio, 17% permanecem analfabetos funcionais.

Formação docente avançou na última década

Nos anos iniciais do ensino fundamental, 75,3% dos professores possuem licenciatura ou complementação pedagógica em 2024, contra 56,6% em 2014. No entanto, 19,4% dos docentes da educação infantil ainda não têm diploma superior. Quanto à remuneração, 68,5% dos municípios pagavam em 2023 pelo menos o piso nacional do magistério para jornadas de 40 horas semanais, no valor de R$ 4.420,55.

Dados do Anuário Brasileiro da Educação Básica 2025 • Divulgação
Dados do Anuário Brasileiro da Educação Básica 2025 • Divulgação

A 12ª edição do Anuário Brasileiro da Educação Básica amplia o monitoramento, incorporando dados da rede privada e consolidando indicadores como o Criança Alfabetizada, o que reforça o compromisso com a aprendizagem na idade certa. “Reunir e organizar dados com rigor técnico é essencial para orientar políticas públicas e fortalecer o direito à aprendizagem em todo o país”, afirma Priscila Cruz, presidente-executiva do Todos Pela Educação. O levantamento confirma que, embora o país tenha avançado em alguns indicadores, desigualdades estruturais de infraestrutura, aprendizagem e equidade racial continuam a comprometer a qualidade da Educação Básica.

Fonte: CNN

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