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Dia do Imigrante: Vila Maria se torna reduto de bolivianos na cidade de SP

Maior comunidade estrangeira em São Paulo é de bolivianos

De “ora pois” “hola, que tal?” — há cerca de uma década, os bolivianos ultrapassaram os portugueses e se tornaram a maior comunidade estrangeira da cidade de São Paulo. O bairro da Vila Maria, na Zona Norte da capital, representa bem essa mudança.

O fluxo crescente de imigrantes bolivianos mudou a cara e o sotaque do bairro, antes conhecido como reduto português.

São vários comércios da região que exibem bandeiras da Bolívia na fachada, uma forma de comunicação com os clientes, quase todos bolivianos ou descendentes.

A padeira Angela Rebeca Mamani imigrou para o Brasil ainda criança e, atualmente, segue na Vila Maria a profissão que o pai exercia quando eles viviam em La Paz, capital da Bolívia. Em sua ‘panadería’ , nada do tradicional pão francês; no lugar, são oferecidos diversos pães típicos bolivianos, que ela prepara com carinho nas madrugadas.

“A gente oferece um produto de lá. Tenta trazer um sabor mais autêntico possível. É simples pela receita talvez, mas é especial por estar no Brasil, ser produzido aqui no Brasil e acaba te levando um pouco pra La Paz”, conta com orgulho.

Pão boliviano produzido por Angela Mamani — Foto: Hermínio Bernardo/TV Globo

Pão boliviano produzido por Angela Mamani — Foto: Hermínio Bernardo/TV Globo

Cliente fiel da padaria, o boliviano Rodrigo Ornéu encontra na comida uma forma de matar um pouco da saudade de casa.

“A gente, quando vem comprar pão boliviano, se lembra do nosso país porque aqui o pão é diferente, é só o francês, né? É bonito poder experimentar a nossa comida”, diz o rapaz.

A grande presença dos bolivianos na Vila Maria levou à fundação de uma igreja voltada justamente para esse público. Segundo o pastor Moisés Velasco, mais de 2 mil fiéis frequentam o local.

“Os bolivianos moravam no Brás, no Pari, mas começaram a vir pra Vila Maria porque tinha um bom preço na época (há cerca de 20 anos). Então, eles estavam nas feiras, nos supermercados… e trouxemos para o culto. Tudo com idioma, música e instrumentos da Bolívia, com obreiros que são bolivianos”, explica o pastor.

Na igreja, não há cultos em português. Todas as celebrações são realizadas em espanhol, com exceção de um culto semanal feito em aymará, um dos idiomas dos povos originários da Bolívia.

Filho de bolivianos, o pastor Moisés diz que a igreja acabou se tornando um ponto de encontro e atendimento social para a comunidade, com auxílio jurídico e outras orientações para ajudar, principalmente, quem acabou de chegar no Brasil.

“Ver um boliviano que estava com dificuldade vir aqui à igreja e depois você ver ele com o problema resolvido, e daqui 2 anos ver ele bem de vida, é um orgulho pra gente” relata.

Do outro lado da Avenida Guilherme Cotching, a dentista Elizabeth Torrejon possui uma clínica de saúde que oferece atendimento em diversas especialidades, como odontologia, ginecologia e pediatria. Falar castelhano é uma exigência para todos os funcionários da recepção, já que praticamente todos os pacientes são bolivianos.

Clínica de Elizabeth Torrejon na Vila Maria, em SP — Foto: Hermínio Bernardo/TV Globo

Clínica de Elizabeth Torrejon na Vila Maria, em SP — Foto: Hermínio Bernardo/TV Globo

Elizabeth diz que ter um consultório para atender seus compatriotas virou uma necessidade, já que muitos têm dificuldade em aprender português. Ela conta que, com frequência, atende bolivianos que não conseguiram tratamento médico em hospitais ou postos de saúde da região devido à barreira linguística.

“Os bolivianos que chegam aqui não conseguem se expressar em português. Muitos pacientes falam ‘doutora, aqui eu me sinto no meu país porque eu posso te falar e te explicar melhor o que estou sentindo, e você me entende e me explica… já fui em posto de saúde e não me entendem’. Isso é muito comum”, relata a dentista.

Com o aumento da comunidade boliviana e de estabelecimentos comerciais voltados para ela, houve também uma mudança na forma como essa população é vista.

“O boliviano se superou. Não é mais o empregado, costureiro, às vezes escravizado, que antigamente se ouvia. Muitos se esforçaram, se tornaram empresários e isso me deixa feliz”, diz Elizabeth Torrejon.

Para a padeira Angela Mamani, os laços entre brasileiros e bolivianos estão cada vez mais fortes.

“Os brasileiros estão descobrindo a nossa cultura, nosso costume, gastronomia e até o nosso jeito de se vestir porque a gente tem uma roupa típica. Era aquele abraço e agora é mais apertado ainda”, diz a moça.

Imigrantes em SP

O Dia Nacional do Imigrante é celebrado nesta terça-feira, 25 de junho.

De acordo com dados do Portal da Imigração, sistema ligado ao Ministério da Justiça, quase 80 mil bolivianos foram registrados no estado de São Paulo entre 2010 (início da série histórica) e 2023, sendo a nacionalidade com maior número de imigrantes no período.

Na sequência, aparecem os imigrantes vindos do Haiti e da Venezuela, países que enfrentaram crises políticas e econômicas nos últimos anos.

Estrangeiros registrados no estado de São Paulo entre 2010 e 2023 — Foto: Reprodução/TV Globo

Estrangeiros registrados no estado de São Paulo entre 2010 e 2023 — Foto: Reprodução/TV Globo

Enquanto outros grupos se espalham pelo estado, os dados mostram que os bolivianos se estabelecem majoritariamente na capital paulista.

Dos quase 80 mil bolivianos que foram registrados desde 2010, mais de 65 mil vieram para a cidade de São Paulo. O número é mais que o dobro do segundo maior grupo, os haitianos, com 25 mil imigrantes. A terceira maior comunidade registrada na capital nos últimos anos é a de chineses, com 17 mil.

Estrangeiros registrados na cidade de São Paulo entre 2010 e 2023 — Foto: Reprodução/TV Globo

Estrangeiros registrados na cidade de São Paulo entre 2010 e 2023 — Foto: Reprodução/TV Globo

Fonte: G1

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