Brasil registra quase 300 mil falhas na assistência à saúde em 2022, diz levantamento com base em dados da Anvisa
Levantamento foi feito pela Sociedade Brasileira para a Qualidade do Cuidado e da Segurança do Paciente (Sobrasp), com base em informações da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)
Banco de imagens/Pexels/Anna ShvetsO Brasil registrou 292 mil incidentes envolvendo falhas na assistência à saúde no ano de 2022. Os dados foram levantados pela Sociedade Brasileira para a Qualidade do Cuidado e da Segurança do Paciente (Sobrasp), com base em informações da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Entre os casos estão erros de diagnóstico, medicação equivocada ou problemas envolvendo comunicação entre equipes na transição de cuidado.
Do total notificado, 6.000 foram classificados na categoria “never events” (eventos que nunca podem acontecer). São situações que levam o paciente à morte ou a ter graves sequelas.
É a primeira vez que essas informações são agrupadas e, agora, segundo o presidente da Sobrasp, Victor Grabois, vão ajudar o poder público e os serviços de saúde da iniciativa privada a traçarem planos de cuidados aos pacientes.
“Essa gestão baseada em dados, em evidências do que ocorre, é fundamental. Primeiro para que a sociedade possa entender a magnitude do problema. E dois: para que profissionais e gestores tomem ciência e possam a agir para que esses eventos adversos não aconteçam”, explica.
Ainda de acordo com Grabois, muitos desses dados são relativos a danos evitáveis.
A CNN entrou em contato com o Conselho Federal de Medicina (CFM) e espera um posicionamento sobre o levantamento.
“Eles poderiam não acontecer em mais da metade dos casos. Se os profissionais de saúde estão cientes desses riscos, elas vão ter mais chance de tomar as atitudes corretas”, completa.
O psicólogo Sandro Machado de Lima sabe da importância da mudança de cultura nos ambientes de saúde. Há treze anos, perdeu o pai por conta de um procedimento errado durante internação.
“Ele estava ótimo, fazendo exercício no quarto, pronto para ter alta. Do nada, fomos informados de que ele precisaria fazer uma transfusão. Fez. Minutos depois recebemos a informação de morte”, conta.
Depois de mais de uma década na Justiça, a família de Sandro conseguiu provar que o procedimento foi um erro da equipe de saúde.
O casal Nicolas e Cristiane Boukouvalas também precisaram fazer uma peregrinação em consultórios para provar que o filho Heitor, hoje com 13 anos, foi vítima de erro durante o parto. “Ele nasceu prematuro e teve paralisia cerebral”, diz Nicolas.
Segundo os pais, provavelmente causada pela Manobra de Kristeller (forte pressão na região do útero) durante o parto, que não é mais indicada na obstetrícia.
Dia Mundial
Um projeto de lei que visa a criação do Estatuto dos Direitos do Paciente está em tramitação no Congresso Nacional desde 2022. O Brasil é um dos poucos países que não tem uma lei de direitos do paciente.
Neste domingo (17), a Organização Mundial da Saúde (OMS) comemora cinco anos da criação do Dia Mundial da Segurança do Paciente com o tema “Engajando o paciente para segurança do paciente”, e o slogan de 2023 é “Eleve a voz dos pacientes”.
De acordo com a OMS, mais de 3 milhões de pessoas morrem por ano em todo o mundo por danos associados aos cuidados em saúde não seguros (1 em cada 10 pacientes, antes da pandemia).
O cuidado inseguro impacta desproporcionalmente os países de renda baixa e média, onde 134 milhões de eventos adversos ocorrem em hospitais a cada ano, contribuindo para 2,6 milhões de mortes. A maior parte desses óbitos é evitável.
Fonte: CNN