Alexandre de Moraes quer R$ 50 mil de indenização de criminalista que o chamou de advogado de facção durante júri em SP; ÁUDIO
Ministro do STF foi criticado por advogado Celso Vendramini por prender golpistas em Brasília em 8 de janeiro. Declarações ocorreram em 12 de junho, em júri em que defendia 2 PMs acusados de homicídio. Alexandre de Moraes nega ter defendido PCC.
Ministro do STF entra com ação contra criminalista que o chamou de advogado de facção
Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), pediu à Justiça de São Paulo que condene o advogado criminalista Celso Machado Vendramini a pagar indenização de R$ 50 mil por danos morais por tê-lo chamado de “advogado do PCC” durante o júri de dois policiais militares acusados de assassinar dois suspeitos de roubo.
Além de associar Moraes à facção criminosa que atua dentro e fora dos presídios no país, Vendramini, que defende os agentes da Polícia Militar (PM), falou no julgamento que o ministro decretou prisões ilegais de bolsonaristas que invadiram e depredaram as sedes dos Três Poderes no dia 8 de janeiro de 2023 em Brasília.
Essas pessoas foram presas e acusadas de golpe de Estado por não aceitarem o resultado das eleições presidenciais que deram vitória a Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre Jair Bolsonaro (PL), em 2022.
As declarações de Vendramini ocorreram em 12 de junho de 2023, durante julgamento de dois PMs no Fórum da Barra Funda, Zona Oeste da capital paulista, e foram gravadas em vídeos e áudios com autorização judicial. O g1 teve acesso aos áudios (ouça acima).
Moraes não estava participando do júri em São Paulo e nega ter advogado para a facção criminosa (leia mais abaixo). Mesmo assim, o ministro teve o nome citado por Vendramini naquele dia:
Os senhores viram aqui quando eu falei de Alexandre de Moraes, o promotor falou ‘ó, está sendo gravado, hein…’tá querendo me intimidar. eu não tenho medo não, dele, de ninguém. me processa, doutor, não me ponha medo, pelo amor de… não tenho medo de ninguém. que ajudar, doutor. é um indivíduo que tá lá, que foi secretário (inaudível), da PUC de SP, que é advogado do PCC.
“Me processa, doutor”, fala Vendramini ao promotor Leonardo Spina durante a fase de debates. Nessa fase do julgamento, defesa e acusação debatem suas teses para tentar convencer os jurados, que votarão se condenam ou absolvem os réus.
Naquela ocasião, o representante do Ministério Público (MP) acusava dois policiais militares de executarem a tiros dois suspeitos de assalto em 2017. Os rapazes já estavam rendidos e estariam desarmados quando foram abordados, de acordo com a Promotoria.
A defesa dos acusados alegava que seus clientes atiraram nos dois homens porque eles estavam armados e para se defender dos tiros que eles teriam dado antes. Os PMs respondiam ao crime de duplo homicídio em liberdade, mas estavam no plenário. Ao defender a tese de inocência, Vendramini continuou usando Moraes como exemplo:
“O indivíduo que tá lá, que pensa que tá com (inaudível) na PUC de São Paulo, que é advogado do PCC. Tá. E se todo mundo se cala. Se teme pra esse homem. É o Ministério Público, é a magistratura, é a OAB. Ele, quando prendeu em 8 de janeiro aqueles infelizes, não teve audiência de custódia“, diz Vendramini, acusando Moraes. “Não sou bolsonarista. Não tenho nada a ver com Bolsonaro.”
O promotor chegou a pedir que as acusações do advogado dos PMs contra Moraes constasse na ata do julgamento. A juíza Paula Marie Konno pediu para Vendramini não ofender mais ninguém. Ele respondeu, porém, que poderia falar o que quisesse para defender seus clientes no plenário. E que teria como provar, por meio de informações que circulam na internet, que o ministro do STF foi advogado do PCC.
Por causa do comportamento do advogado, considerado inapropriado e desrespeitoso, podendo influenciar os jurados, a magistrada anulou o julgamento, que foi remarcado para 27 de maio de 2024. Nessa data, além dos dois policiais defendidos por Vendramini, outros dois PMs também serão julgados pelo mesmo crime.
As gravações com as falas do advogado também foram encaminhas à Polícia Federal (PF) por envolverem acusações contra um ministro do STF.
Advogado foi condenado por homofobia
Advogado foi acusado de fazer comentários homofóbicos durante júri
Esta é terceira vez que o júri dos PMs é remarcado. Na primeira, em 2019, os mesmos PMs defendidos por Vendramini foram absolvidos do crime. Apesar disso, o advogado foi acusado pela promotora Cláudia Ferreira Mac Dowell de fazer comentários homofóbicos durante os debates, ao defender a inocência de seus clientes:
“Vai ser gay na Rússia pra ver o que acontece”, falou Vendramini.
O governo russo tem a política de proteger o que chama de “valores tradicionais” do país. A repressão aos LGBTQIA+ (lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, travestis, queer, intersexuais, assexuais e outros) começou há uma década.
Cláudia, que acusava os policiais de executarem os suspeitos, é casada com outra mulher e conhecida publicamente como ativista dos direitos da comunidade LGBTQIA+.
Em julho de 2023, a Justiça condenou Vendramini por homofobia, mas o absolveu da acusação de injúria contra a promotora. O advogado foi punido com a pena de três anos de prestação de serviços comunitários e o pagamento de 20 salários mínimos por ter feito comentários homofóbicos durante o júri. Cabe recurso.
Promotora acusa advogado de homofobia
Moraes nega ter advogado para PCC
Essa também é a terceira vez que Moraes move uma ação contra quem o chama de advogado do PCC. Em 2017, quando foi sabatinado no Senado antes de se tornar ministro do STF, ele já havia respondido perguntas dos parlamentares negando ter defendido a facção criminosa.
Ele esclareceu que o escritório de advocacia em que trabalhava em São Paulo atendeu a cooperativa de transportes Transcooper em casos relacionados a acidentes de trânsito causados por motoristas.
Segundo o ministro, em 2014, durante a campanha eleitoral, um deputado estadual de São Paulo pediu a seu irmão, vereador da capital paulista e cooperado da Transcooper, uma garagem emprestada para uma reunião. Na ocasião, estavam presentes na garagem duas pessoas investigadas por ligação com a facção, disse Moraes.
“Absolutamente nada ficou comprovado em relação ao deputado, à Transcooper, que emprestou a garagem, muito menos nada em relação ao escritório. Primeiro que [o escritório] não sabia da reunião, segundo nada sabia em relação à garagem”, afirmou Moraes em 2017.
Ele ainda lembrou decisões judiciais de São Paulo que mandaram retirar notícias “caluniosas e difamatórias” sobre o episódio.
A Justiça paulista ainda não tomou uma decisão a respeito do novo pedido de indenização feito pelo ministro, desta vez contra Vendramini. Ele feito na última quinta-feira (24) por Barci de Moraes, escritório de advocacia da família do ministro.
“É a terceira vez que o requerente é vítima das mesmas imputações! A cada ofensa ao seu direito de personalidade no aspecto honra, as consequências são ainda mais gravosas, pois reforçam uma imaginação pública a seu respeito”, informa trecho do pedido de indenização feito pelos advogados de Moraes sobre a acusação de que advogaria para o PCC.
“Diga-se, também, que ao proferir insultos e ofensas ao Requerente, direcionando-os ao Conselho de Sentença, o desígnio do Requerido não poderia ser entendido como outro que não o de instigar, isto é, incutir, ao menos, àqueles 07 (sete) jurados, o odioso discurso de ódio e a deturpação de fatos com conteúdo falso”, continua o documento do escritório de advocacia que defende os interesses do ministro.
“Claramente demonstra apreço pelos atos golpistas de 8 de janeiro, já considerados em nossa história como o maior ataque concreto à democracia brasileira, ao rotular os criminosos de ‘infelizes que não tiveram audiência de custódia’’’, prosseguem os advogados de Moraes sobre a conduta de Vendramini.
O g1 não conseguiu localizar os advogados de Moraes, nem Vendramini para comentarem o assunto até a última atualização desta reportagem.
O ministro do STF, Alexandre de Moraes, em imagem de novembro de 2022 — Foto: Adriano Machado/Reuters
Fonte: G1