Apenas 15% dos apartamentos de até R$ 350 mil foram construídos nos eixos de transporte e a maioria é de 35 m², diz estudo da USP


Prédios em construção em São Paulo. Foto tirada em 27 de junho de 2023.  — Foto: Luiz Franco/g1

Prédios em construção em São Paulo. Foto tirada em 27 de junho de 2023. — Foto: Luiz Franco/g1

Na última audiência pública geral antes da segunda votação da revisão do Plano Diretor da cidade de São Paulo, na metade de junho deste ano, a urbanista Raquel Rolnik subiu no plenário da Câmara de SP e disse que o “boom imobiliário” que aconteceu na capital nos últimos anos “não correspondeu a uma maior oferta ou acesso à moradia de quem mais precisa”, ou seja, as pessoas economicamente vulneráveis. A revisão do Plano Diretor foi sancionada na sexta-feira (7).

Um estudo feito pelo Laboratório Espaço Público e Direito à Cidade (LabCidade), da Universidade de São Paulo (USP), coordenado por Rolnik, vai ao encontro da fala:

  • São Paulo produziu mais de 100 mil unidades do segmento econômico (de até R$ 350 mil, segundo a pesquisa) entre 2014 e 2019;
  • No entanto, apenas 15% (15,1 mil) dessas unidades foram feitas nos eixos, ou seja, com fácil acesso ao transporte de alta e média capacidade;
  • Além disso, 90% das unidades de até R$ 240 mil estão longe dessa região considerada privilegiada para os pesquisadores da área;
  • E grande parte das unidades produzidas nos eixos, segundo o LabCidade, são pequenas e com metro quadrado caro.

“É preciso chamar os estudos para entender a falácia da HIS [habitação de interesse social]. O que nós tivemos produzido é fake HIS”, destacou Rolnik em seu discurso na Câmara.

“Com aquilo que está no projeto de revisão, o que vai ser produzido é muito mais apartamentos para investimento, apartamentos para a classe média alta, para usuários de automóvel, que não têm nada a ver com as maiores necessidades da cidade”, completou.

Produção do ‘segmento econômico’

De acordo com o estudo, as construtoras se utilizam de incentivos urbanísticos para produção das habitações de interesse social nos eixos, mas, na prática, leva o público-alvo desse tipo de empreendimento para longe dos pontos mais bem localizados na cidade.

mapa abaixo, elaborado pelo LabCidade, mostra as regiões em que as unidades de segmento econômico foram lançadas entre 2014 e 2019 — a maioria está afastada dos eixos (trechos em azul claro):

Mapa elaborado pelo LabCidade — Foto: Reprodução/LabCidade

Mapa elaborado pelo LabCidade — Foto: Reprodução/LabCidade

“A produção do segmento econômico é de unidades com área útil pequena. Nos eixos, elas são minúsculas”, destaca o estudo.

Isso quer dizer que, apesar de haver imóveis com valores teoricamente mais acessíveis para as classes mais vulneráveis economicamente, esses empreendimentos são, na maioria dos casos, pequenos, sem a capacidade de comportar uma família de forma confortável.

  • Em 2012, a área útil média das unidades de habitação (UHs) com valor entre R$ 240 mil e R$ 350 mil nos eixos era de 63 m²;
  • Em 2019, a média passou para 35 m²;
  • Nos eixos, 45% das UHs com preço até 350 mil têm até 25 m².

‘Quanto melhor localizada, menor a área e maior o preço’

A pesquisa do LabCidade também aponta que, quanto melhor localizada a UH de segmento econômico, menor sua área e maior o preço do metro quadrado.

  • Em 2015, por exemplo, o valor do m² das UHs de até R$ 350 mil dentro do eixo era de R$ 6,2 mil;
  • Em 2019, o mesmo tipo de imóvel passou a valer R$ 9,8 mil por metro quadrado;
  • Fora do eixo, pelo contrário, houve queda no preço — em 2015, o m² dessa UH era de R$ 7,3 mil;
  • Em 2019, o valor passou para R$ 6,8 mil;
  • Veja abaixo.

 

Média ponderada do preço do m² útil das UHs até 350 mil — Foto: Reprodução/LabCidade

Média ponderada do preço do m² útil das UHs até 350 mil — Foto: Reprodução/LabCidade

O estudo conclui que São Paulo produziu “fake HIS”, ou seja, um tipo de empreendimento que deveria ser voltado para um público menos favorecido financeiramente, mas que acaba não atendendo as demandas dessa parcela da população, seja em relação ao preço, seja em relação à localidade.

“Apesar dos incentivos abundantes para a produção do segmento econômico/HIS, esta não se dá nos eixos, áreas bem servidas de transporte público, e quando acontece, produz unidades minúsculas e caras”, diz o relatório da pesquisa.

Fonte: G1

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