Secretário da Educação de SP diz que estuda reduzir opções de formação específica do ensino médio

Em entrevista ao SP2, Renato Feder afirmou que vai consultar a rede sobre a possibilidade de oferecer menos opções dos chamados itinerários formativos para os estudantes, para poder ‘estruturar melhor e apoiar melhor a escola e a aula’. Medida só seria tomada a partir de 2024.


Secretaria Estadual da Educação estuda mudanças no novo ensino médio

O secretário estadual da Educação, Renato Feder, afirmou na tarde desta terça-feira (14) que pretende consultar professores e estudantes das escolas paulistas sobre a possibilidade de reduzir a quantidade dos chamados “itinerários formativos”, que são os conjuntos de disciplinas focando em uma ou mais áreas específicas do conhecimento, e que foram criados depois da Lei da Reforma do Ensino Médio, de 2017.

“O Novo Ensino Médio de São Paulo é um Novo Ensino Médio que tem muitas opções. Então são 10 itinerários formativos possíveis pro estudante”, afirmou Feder. “Isso é positivo por um lado porque dá muitas opções. Mas, por outro lado, a capacidade da secretaria de apoiar cada itinerário diminui.”

“Então a gente tem esse dilema, e a gente está conversando com a rede pela possibilidade de fazer ajustes. Seria diminuir a quantidade de dez itinerários para que cada um a gente pudesse estruturar melhor e apoiar melhor a escola e a aula.” (Renato Feder, secretário estadual da Educação)

Segundo ele, nenhuma medida será tomada antes da consulta à comunidade escolar, e nenhuma mudança passará a valer ainda em 2023.

“Seria para o próximo ano e a gente não quer fazer de uma maneira de cima pra baixo. A gente quer conversar com a rede, conversar com os professores e ver o que eles acham de uma oferta menor. São dez opções de itinerários. Para cada itinerário você tem mais um monte de opções para o estudante num menu de disciplinas semestrais que ele tem, que são quase 300 possibilidades. Então é bonito, é muito legal ter tantas opções, mas a gente suporta pouco a rede. Então é esse o dilema que a gente quer trazer para os professores, para os alunos, ver o que eles acham”, disse o secretário, em entrevista ao SP2.

Implantação começou em 2021

A rede estadual de São Paulo foi um dos primeiros a implementar o Novo Ensino Médio, que ampliou a carga horária total dessa etapa do ensino básico para 3 mil horas (mil horas por ano), e dividiu o tempo em duas partes: a chamada “formação geral básica”, num total de até 1.800 horas (60% da carga horária), e os itinerários formativos, com pelo menos 1.200 horas.

Apesar de a rede estadual ter criado várias opções de itinerários possíveis, nem todos são oferecidos em todas as escolas. Mas a regra é que cada escola ofereça pelo menos duas escolhas para os estudantes, ainda que com vagas limitadas.

Nas escolas estaduais paulistas, o Novo Ensino Médio começou em 2021, restrito às turmas do primeiro ano, e teve expansão gradual.

A carga horária também é distribuída de forma diferente ao longo da etapa. No primeiro ano do ensino médio, apenas 5 das 35 aulas são de disciplinas do Novo Ensino Médio. Nesse caso, todos os estudantes têm as mesmas disciplinas, que incluem, por exemplo, o Projeto de Vida. No segundo semestre do ano, eles poderão fazer a opção do itinerário que querem seguir no segundo ano do ensino médio.

Em 2023, os primeiros estudantes chegam ao terceiro e último ano do Novo Ensino Médio. Segundo a Secretaria Estadual da Educação, cerca de 1,3 milhão de estudantes em 3,7 mil escolas terão aulas no novo formato neste ano letivo.

Formação geral faz falta, dizem alunas

O Gabriel Teixeira Guedes é um deles. Estudante da Escola Estadual Professor Milton da Silva Rodrigues, no Moinho Velho, Zona Norte da capital, ele tem nove horas de aulas por dia e, na tarde desta terça-feira, uma delas misturava conhecimentos de ciências humanas e exatas. Era parte do itinerário formativo “#quemdividemultiplica”.

“Eu escolhi porque eu gosto bastante de exatas. Mas também fala de sociologia, filosofia que são importantes para o cidadão”, explicou ele à reportagem.

A Sofia Barbosa, de 18 anos, está cursando o itinerário formativo “Corpo, saúde e linguagens”, que mescla conhecimentos de linguagens e ciências da natureza. Ela vai tentar uma vaga no vestibular esse ano, e diz sentir falta de mais conteúdo. “Ele [o itinerário formativo] tem umas matérias focadas nele junto, só que eu sinto falta de uma matemática pura, básica, básica, básica.”

A colega dela, Amanda Pereira, de 16 anos, também vai concluir o ensino médio em 2023, mas diz que não chegou a se acostumar com o novo modelo. “São varias matérias que a gente já tinha focando os temas numa coisa só. Mas ao mesmo tempo, as matérias que saíram um pouco da carga horária fazem um pouco de falta para vestibulares e afins.”

O diretor da escola, Osmar Carvalho, diz que tem feito reuniões periódicas com pais e alunos para que eles compreendam as mudanças. E tranquiliza quem, no fim do ano, vai fazer o primeiro vestibular depois de três anos do novo ensino médio. “Conforme as orientações que temos recebido, os vestibulares, o próprio Enem, as universidades estaduais e privadas vão estar adequando [o conteúdo]. Esse é o primeiro ano para os aprofundamentos que envolvem o itinerário formativo.”

O secretário explicou, ainda, que a consulta tem como objetivo reaproximar o conteúdo do ensino médio do conteúdo pedido nos vestibulares.

“É um ensino novo. Todas as redes do Brasil estão construindo isso, e quiseram construir algo interessante. Então, na vontade de construir algo interessante, em algumas situações se construiu algo interessante e distanciou do vestibular”, disse Renato Feder.

“O que a gente vai fazer, a Secretaria do Estado dessa gestão: a gente não vai deixar o vestibular de lado, o Enem de lado. A gente vai focar no vestibular, vai focar no Enem, nos conteúdos que o aluno precisa aprender, então a gente precisa fazer esse ajuste. É esse o objetivo.”

Fonte: G1

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