Advogada cadeirante diz ter sido expulsa de mostra de decoração em SP após reclamar de falta de acessibilidade
Nathalia Blagevitch chamou a polícia após ter sido ofendida por funcionária. Exposição tem sete andares, e elevador não estava funcionando. Casacor informou que ‘repudia qualquer ato discriminatório’ e que ‘em nenhum momento a visitante foi expulsa do local’.
Por Paula Paiva Paulo, g1 SP — São Paulo
24/10/2021 15h31 Atualizado há 14 horas
Advogada cadeirante é levada em elevador de carga em evento de decoração em SP https://07ad87dbbf4f43576d90069574598ab7.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html
A advogada Nathalia Blagevitch, de 30 anos, disse que foi expulsa da mostra de arquitetura e decoração da Casacor em São Paulo, após reclamar da falta de acessibilidade do local e pedir seu dinheiro de volta. Nathalia tem paralisia cerebral e estava em uma cadeira de rodas motorizada.
Nathalia foi à mostra, localizada em um anexo do Allianz Parque, na Zona Oeste de São Paulo, na tarde deste sábado (23). Ela e uma acompanhante haviam comprado o ingresso pela internet – R$ 50 cada um.
Após ver a exposição do primeiro andar, Nathalia perguntou como poderia acessar os próximos, já que a mostra ia até o sétimo andar do edifício. A organização do evento respondeu que, por um problema de energia, o elevador principal não estava funcionando, e que ela poderia usar o elevador de carga para acessar apenas mais um andar.
Sem poder ver nem um terço da exposição, a advogada chegou a perguntar se alguém poderia carregá-la para acessar os outros andares. Essa opção foi negada. A advogada pediu, então, seu dinheiro de volta, o que não foi autorizado.
Nathalia foi conduzida para fora de mostra da Casacor em São Paulo — Foto: Arquivo pessoal https://tpc.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html
Quando saiu do elevador de carga, Nathalia contou que viu uma mulher com um carrinho de bebê e uma idosa com uma bengala. Ela as informou que seria melhor voltar outro dia porque o local estava sem acessibilidade. “Cala a boca, sua mentirosa, você não sabe o que está falando”, teria dito uma funcionária do local à advogada.
Após a ofensa, Nathalia informou que iria chamar a polícia. Em seguida, ela foi impedida de permanecer na mostra e foi conduzida para fora do local, para esperar a polícia na rua.
A advogada contou que a falta de acessibilidade é comum, mas os espaços costumam tentar contornar o problema. “Em 90% dos casos, me carregam no colo ou dão outra opção, nunca fui chamada de mentirosa ou colocada para fora do evento.”
Quando a polícia chegou, Nathalia contou que os policiais disseram que “não podiam fazer nada” e a orientaram a fazer um Boletim de Ocorrência pela internet.
A advogada registrou um B.O. online e disse que, nesta segunda-feira (24), irá à Delegacia de Polícia da Pessoa com Deficiência, no Centro da capital, para reforçar a denúncia.
“Eu estou revoltada, indignada. Meu objetivo não é ganhar dinheiro. Estou construindo um apartamento, fui para ter ideias para a minha casa, já que a Casacor se diz uma referência para pessoas com deficiência”, disse ela.
Nathalia contou que apenas na tarde deste domingo, após o caso ser revelado pelo jornal “O Estado de S. Paulo”, um diretor da Casacor entrou em contato com ela, se desculpou e a convidou a voltar ao evento. A advogada não pretende voltar.
Em nota, a Casacor informou que “repudia qualquer ato discriminatório e que ministra treinamentos aos funcionários, bem como aos seus terceirizados, enfatizando sempre os protocolos internos de conduta e responsabilidade no trato com seus visitantes”. O texto diz também que “em nenhum momento a visitante foi expulsa do local”. (leia mais abaixo) https://tpc.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html
Questionada sobre a postura dos policiais militares ao chegar ao evento, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) não se manifestou até a última atualização desta reportagem.
O que diz a Casacor
Em nota, a organização do evento informa que “repudia qualquer ato discriminatório e que ministra treinamentos aos funcionários, bem como aos seus terceirizados, enfatizando sempre os protocolos internos de conduta e responsabilidade no trato com seus visitantes”.
Sobre a queda de energia, o texto diz que “houve uma situação de força maior e o fornecimento de energia teve de ser interrompido por algumas horas, impactando diretamente nos elevadores que dão acesso à mostra e a todos os andares do estacionamento”.
“O procedimento adotado pela CASACOR foi o de avisar a todos os visitantes sobre o problema, oferecendo ressarcimento ou remarcação da visita em outras datas e horários. Para acomodar e atender aos visitantes que não poderiam retornar e gostariam de seguir com a visita mesmo com a limitação do uso de elevadores de acesso, a organização ofereceu, em caráter de exceção, acesso pelo elevador de carga, único equipamento não afetado pela queda de energia”, diz o texto.
“No caso de Nathália, no entanto, no qual o uso do elevador era essencial para acesso, o mesmo não foi possível, nem pelo elevador de carga, já que o caminho era alternativo e não comportava corretamente a scooter elétrica de propriedade da visitante. A opção de carregá-la no colo não foi considerada por fatores de segurança.
A partir desse momento, a equipe CASACOR reforçou com a visitante que ela poderia solicitar ressarcimento ou reagendar a visita. Ao chegar no piso térreo, Nathália se dirigiu até a bilheteria, como indicado pela equipe, para explicação do procedimento de estorno do valor de ingresso pela operadora de cartão de crédito. Nesse momento, a visitante comunica que a polícia seria acionada por conta da questão de acessibilidade”, diz o texto. https://tpc.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html
A Casacor afirma que acompanhou Nathalia durante a chamada da PM e diz que “solicitou que ela aguardasse a chegada da viatura em local de sua escolha”.
“A CASACOR reforça que em nenhum momento a visitante foi expulsa do local, como afirmado em reportagem sobre o caso, e que toda sua visitação foi acompanhada pela organização e equipe brigadista, procedimento padrão adotado em todas as visitas de pessoas com deficiência”, afirma.
A organização do evento diz que vai apurar a conduta da funcionária citada por Nathalia “para que as medidas administrativas cabíveis sejam tomadas” e que as câmeras de segurança registraram a visita e estão disponíveis para apuração total do caso.
“Com o funcionamento normal dos elevadores, a CASACOR São Paulo é uma mostra 100% acessível, procedimento adotado desde 2016”, finaliza.
Nathalia Blagevitch, na mostra da Casacor em São Paulo, antes de descobrir que não conseguiria acessar os outros andares do evento — Foto: Arquivo pessoal
Fonte: G1