Há 47 dias sem chuva, cidade de SP tem um dos meses de julho mais secos da história, diz USP

Desde que começaram as medições em 1933, há 89 anos, nunca houve um mês de julho sem nenhum dia com chuva como ocorre até esta quarta na capital paulista, de acordo com dados do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG-USP).


Vista da névoa de poluição que encobre a cidade de São Paulo, nesta quarta-feira (28). A cidade vive o mês de julho mais quente da história - desde o início das medições em 1943 - e está sem chuvas há 47 dias. — Foto: BRUNO ESCOLASTICO/PHOTOPRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

Vista da névoa de poluição que encobre a cidade de São Paulo, nesta quarta-feira (28). A cidade vive o mês de julho mais quente da história – desde o início das medições em 1943 – e está sem chuvas há 47 dias. — Foto: BRUNO ESCOLASTICO/PHOTOPRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

Sem chuvas há 47 dias, o atual mês de julho é um dos mais secos da história da cidade de São Paulo, de acordo com dados do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG-USP).

Não houve precipitação de chuva até esta quarta-feira (27) na capital paulista. A última vez que choveu foi no dia 10 de junho, de acordo com os dados do Centro de Gerenciamento de Emergências (CGE) da Prefeitura de São Paulo. Além de poder causar falta de água nas casas, a falta de chuvas aumenta a poluição atmosférica.

Desde que começaram as medições do IAG, em 1933, há 89 anos, nunca houve um mês de julho sem nenhuma chuva na capital paulista, de acordo com a análise do professor titular Pedro Côrtes, do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo (IEE-USP).

Até então, os piores meses de julho foram:

  • 2006 – com 3 dias de chuva e um total acumulado de 0,4 mm.
  • 1974 – com 4 dias de chuva e um total acumulado de 0,5 mm;
  • 1933 – com 13 dias de chuva e um total acumulado de 2 mm;
Vista de São Paulo em dia de sol forte e calor e destaque para a poluição do horizonte na tarde de 23 de julho.  — Foto: BRUNO ROCHA/ENQUADRAR/ESTADÃO CONTEÚDO

Vista de São Paulo em dia de sol forte e calor e destaque para a poluição do horizonte na tarde de 23 de julho. — Foto: BRUNO ROCHA/ENQUADRAR/ESTADÃO CONTEÚDO

Sistema Cantareira

No caso do Sistema Cantareira, até quarta-feira (26), choveu 0,7mm no acumulado do mês, que só não foi mais seco que julho de 2008, quando choveu apenas 0,4mm. São considerados dados da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) desde 2000.

O Sistema Cantareira é localizado nos municípios de Bragança Paulista, Piracaia, Vargem, Joanópolis, Nazaré Paulista, Franco da Rocha, Mairiporã, Caieiras e São Paulo. Considerado o maior reservatório de água da região metropolitana, o reservatório abastece cerca de 7,2 milhões de pessoas por dia. Nesta quarta-feira (27), o Cantareira operava com 36,7% de sua capacidade, considerado estado de alerta (saiba mais abaixo).

A falta de chuvas preocupa o Professor Titular Pedro Côrtes, do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo (IEE-USP), já que o período de seca deve seguir até outubro, segundo ele. Moradores da região metropolitana de São Paulo já têm notado períodos maiores do que o de costume sem água nas torneiras de casa.

“É necessário que a Sabesp assuma uma posição proativa e indique quais são as suas previsões para os próximos meses. Estamos diante de uma redução significativa no volume de chuvas. É fundamental que Sabesp apresente os cenários e os números com os quais ela vem trabalhando. A crise climática está estabelecida”, afirma Côrtes.

Em nota, a Sabesp afirma que não há risco de desabastecimento neste momento na região metropolitana de São Paulo, mas reforça a necessidade do uso consciente da água (veja nota completa abaixo).

Tendência

O déficit de chuvas Cantareira no mês de julho tem sido uma tendência. Nos últimos 23 anos (2000-2022), houve 12 meses de julho com acumulado bem abaixo da média.

Metade dessas ocorrências concentram-se nos últimos sete anos. Desde 2016, todos os anos – exceto 2019 – apresentaram um mês de julho muito seco, de acordo com análise de Côrtes com dados da Sabesp.

“Conforme as previsões climáticas indicavam desde o ano passado, o primeiro semestre apresentou chuvas abaixo da média, tendência essa que se mantém pelo menos até outubro. Isso demanda uma atenção especial com o nível do Sistema Cantareira, pois em 26/07/2022 estávamos com 361,36 hm³ armazenados contra 409,90 hm³ em 26/07/2021. Isso representa uma queda de 11,8% em relação ao volume armazenado e temos uma previsão climática desfavorável para o segundo semestre.”

O estado de alerta é atingido quando o Cantareira opera com volume igual ou maior que 30% e menor que 40% no último dia do mês. Na quarta-feira (27), o manancial operava com 36,7%. Para ser considerado normal, o volume tem de ser de pelo menos 60%.

Faixas de armazenamento do Sistema Cantareira — Foto: Elcio Horiuchi/g1

Faixas de armazenamento do Sistema Cantareira — Foto: Elcio Horiuchi/g1

O que diz a Sabesp

A Sabesp informa que não há risco de desabastecimento neste momento na Região Metropolitana de São Paulo, mas orienta o uso consciente da água em qualquer época e em todos os municípios em que opera. Neste momento, o Sistema Integrado composto pelo Cantareira e por outros 6 mananciais (Alto Tietê, Guarapiranga, Cotia, Rio Grande, Rio Claro e São Lourenço) opera com 50,2% da capacidade, nível similar, por exemplo, aos 47,6% de 2021, quando não houve problemas no abastecimento da Região Metropolitana.

Desde a crise hídrica, os investimentos da Companhia tornaram o Sistema Integrado mais robusto e flexível, sendo possível abastecer áreas diferentes com mais de um sistema. Os investimentos são parte de um conjunto de medidas adotado para a segurança hídrica, que inclui também a implantação do novo sistema São Lourenço e a interligação da bacia do Paraíba do Sul com o Cantareira, além da ampliação da infraestrutura e gestão da pressão noturna para redução de perdas na rede.

A Sabesp esclarece ainda que a Faixa 3 – Alerta, iniciada agora em julho conforme as regras da outorga (Resolução Conjunta ANA/DAEE 925/2017), não causou alteração na operação do Sistema Cantareira. A Companhia está retirando atualmente 22 m³/s, inferior ao limite máximo de 27 m³/s autorizado, o que é possível graças à integração com os demais sistemas. A Sabesp também tem reforçado o pedido de uso consciente da água.

Fonte: G1

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