Grupo faz manifestação após morte de homem na região da Cracolândia
Cerca de 200 pessoas protestaram na praça Júlio Prestes, no Centro de São Paulo, próximo ao local onde rapaz foi baleado durante operação para prender traficantes e que retirou dependentes químicos da Praça Princesa Isabel.
Manifestantes fazem homenagem à Raimundo Nonato Fonseca Junior, de 32 anos, baleado e morto durante a operação na Cracolândia na última quinta-feira (12). — Foto: Arquivo pessoal
Um grupo de cerca de 200 pessoas fez uma manifestação neste domingo (15) na Praça Júlio Prestes, no Centro de São Paulo, próximo ao local onde Raimundo Nonato Fonseca Junior, de 32 anos, foi baleado e morreu durante operação na Cracolândia na última quinta-feira (12).
A ação policial tinha como objetivo prender traficantes e retirou dependentes químicos da Praça Princesa Isabel.
Participaram do protesto movimentos ligados ao atendimento e promoção de bem-estar a moradoras em situação de rua e a dependentes químicos da região da Cracolândia. A Pastoral do Povo da Rua, liderada pelo Padre Júlio Lancellotti também aderiu.https://dfe16cb77dbc15e55f6b002226c37329.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html
Grupo de cerca de 200 pessoas fez manifestação neste domingo (15) na Praça Júlio Prestes, no Centro de São Paulo — Foto: Arquivo pessoal
A manifestação foi pacífica – em determinado momento, houve um princípio de bate-boca com uma família de moradores da região que criticou a manifestação.
A PM acompanhou de longe o ato e interditou um trecho da Avenida Rio Branco para os manifestantes passarem.
Grupo de cerca de 200 pessoas fez manifestação neste domingo (15) na Praça Júlio Prestes, no Centro de São Paulo — Foto: Arquivo pessoal
Policial autor do disparo foi identificado
DHPP investiga morte de homem em situação de rua durante ação policial
Investigadores do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) identificaram neste sábado (14) o policial que fez o disparo de arma de fogo na quinta-feira (12) na Cracolândia, no Centro de São Paulo. Raimundo foi baleado e morreu.
O policial é integrante do Grupo Armado de Repressão a Roubos e Assaltos (Garra) e se apresentou na sexta-feira (13), espontaneamente, junto com os outros dois colegas da equipe.
Dois dos três policiais da equipe efetuaram disparos durante a ação: um com arma de fogo e outro de elastômero (bala de borracha), um armamento menos letal.
O objetivo do DHPP agora é tentar traçar a provável trajetória da bala, para descobrir se esse tiro matou Raimundo.
Os investigadores do DHPP e da Corregedoria também querem entender o que levou o policial a efetuar o disparo de arma de fogo no meio da multidão. O tiro de advertência até é admitido nessas situações, mas apenas em último caso, quando há risco iminente de vida para o policial, mas precisa ser feito de forma “controlada”, em direção a um barranco ou numa área gramada, por exemplo, pra evitar o risco de o projétil ricochetear, como parece ter ocorrido na madrugada de quinta-feira.
Também está sendo apurado porque esses policiais estavam sem o uniforme e os equipamentos de proteção do Garra. Eles disseram que estavam chegando ao trabalho quando ouviram, pelo rádio, que a situação no Centro era crítica e resolveram dar apoio antes mesmo de vestirem o uniforme e os equipamentos de proteção.
Investigadores apuram se partiu da arma de um policial tiro que matou homem na Cracolândia, em SP
Morte
Raimundo morreu após ter sido atingindo com um tiro do tórax por volta das 21h de quinta-feira (12). Imagens de moradores da região mostram um grupo de pessoas pela avenida, três homens armados e, em seguida, barulhos de tiros.
Ele chegou a ser socorrido pelo Corpo de Bombeiros e levado para a Santa Casa, mas não resistiu aos ferimentos.
O corpo de Raimundo foi liberado pelo Instituto Médico Legal (IML) neste sábado e será enterrado em Campinas, no interior de São Paulo, no domingo (15). Raimundo deixou três filhos.
Aline Fonseca, irmã da vítima, contou que ele parou de estudar na sétima série para ajudar no orçamento da casa. À época, a mãe dele trabalhava como vendedora ambulante em Campinas.
Ela disse que eles foram muito próximos na infância. Já na vida adulta, chegaram a trabalhar juntos. Ela fazia marmitas para vender e ele entregava a comida.
A jovem disse que Raimundo tinha histórico de dependência química, mas a família não sabia que ele estava na Cracolândia, em São Paulo. E se revoltou contra a forma como o irmão foi tratado pelas forças de segurança.
“Podia ter sido uma bala de borracha, alguma coisa para dispersar os dependentes químicos. Mas não, optaram por matar mesmo. (…) É muita injustiça, injustiça demais. Muito difícil. Para a gente que não tem condição financeira, vai acabar ficando por isso mesmo”.
Homem morre baleado durante ação policial na Cracolândia
Na tarde desta sexta, uma equipe da perícia esteve no local. Ainda não há informações se Raimundo fazia parte do fluxo da Cracolândia na Praça Princesa Isabel, que foi dispersado na última quarta-feira (11). Ele tinha passagens policiais por roubo e tráfico de drogas.
O advogado Ariel de Castro Alves, presidente do Grupo Tortura Nunca Mais, informou que pediu para a Ouvidoria da Polícia apurar se algum policial está envolvido na morte do homem na região da Cracolândia.
“Precisa ser apurado de quem partiu o disparo. Se, inclusive, ele foi vítima de disparo feito por policiais durante a dispersão do fluxo da Cracolândia”, disse Ariel. “Encaminhei ao ouvidor de polícia.”
A Defensoria Pública do estado disse que também está acompanhando essa e outras histórias para saber se houve violação de direitos humanos nas ações da polícia na Cracolândia.
Para entidades de direitos humanos, as operações – como as desta semana – deveriam ser acompanhadas de estrutura para atendimento de saúde.
O secretário-executivo de Projetos Estratégicos da prefeitura disse que os dependentes estão recebendo apoio durante as operações. “De janeiro para março, a gente aumentou 7 vezes o número de encaminhamentos para acolhimento terapêutico, aumentou 28% o atendimento no Centro de Atenção Psicossocial [Caps] em frente à Praça Princesa Isabel”, afirmou Alexis Vargas.
Para Raphael Escobar, integrante do coletivo A Craco Resiste, a assistência oferecida pela prefeitura é quase nula. “Eles podem oferecer um albergue ou outro, mas assim, albergue é moradia? Você dividir o quarto com 160 pessoas? Então tem um histórico de violência gigantesco dentro desses serviços”, avalia.
Tumulto na Av. Rio Branco na noite desta quinta, 12 de maio — Foto: TV Globo
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP), informou “que três policiais civis se apresentaram voluntariamente, nesta sexta-feira (13), como autores de disparos durante ação contra o tráfico de drogas na região central de São Paulo, na noite anterior. No mesmo local um homem de 32 anos foi atingido no tórax por um projétil e morreu. O caso está sendo investigado pelo Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa”.
Disse ainda que a perícia vai apurar se o tiro que causou a morte do homem saiu da arma de um destes policiais e as circunstâncias do fato.
Usuários da Cracolândia dispersos
Após a operação que envolveu 650 oficiais e retirou os dependentes químicos da Cracolândia da Praça Princesa Isabel, a quinta-feira (12) foi marcada por deslocamentos e busca por novos pontos para se fixar nas ruas do Centro, principalmente próximo à Praça Marechal Deodoro.
Divididos em grupos, antigos moradores da Praça Princesa Isabel estão circulando pelos seguintes pontos: Rua Helvétia, Alameda Barão de Piracicaba, Alameda Glete, Rua Mauá, Rua Barão de Limeira, Rua Barão de Campinas e Rua Conselheiro Nébias.
A movimentação dos usuários levou medo aos comerciantes da região, e alguns trabalharam com portas entreabertas nesta quinta (12). Viaturas da Polícia Militar e da Guarda Civil Metropolitana circulavam pela região, assim como agentes de saúde.
Esta foi a segunda mudança de endereço da Cracolândia em pouco mais de um mês.
Grupo tenta se fixar na Praça Marechal Deodoro, no Centro, após ação na Cracolândia
Fo0nte: G1