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Bucho, goela e cangote: palavras do dialeto caipira do interior de SP estão caindo em desuso, aponta pesquisadora da USP

Pesquisa verificou como é o uso do vocabulário para partes do corpo em oito cidades do interior de São Paulo. Estudo mostrou que dialeto caipira é mais usado por pessoas mais velhas e homens.


Obra "Caipira picando fumo", de Almeida Júnior, de 1893  — Foto: Google Art Project/Domínio público

Obra “Caipira picando fumo”, de Almeida Júnior, de 1893 — Foto: Google Art Project/Domínio públicohttps://6779684f6c71ba7081958c900558ff94.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html

Uma pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP) verificou que o dialeto caipira está caindo em desuso em pelo menos oito cidades do interior do estado. Termos como bucho, goela, lombo, beiço e sovaco foram usados pelos entrevistados mais velhos, mas pouco lembrados pelos jovens, o que indica o desuso.

A pesquisa, da filóloga Lívia Carolina Baenas Barizon, teve a participação de moradores de CapivariItuPiracicabaPirapora do Bom JesusPorto FelizSantana de ParnaíbaSorocaba e Tietê.

Para realizar a pesquisa, Barizon se concentrou em palavras que descrevem partes do corpo humano. Com a ajuda de um desenho e munida de um questionário, ela entrevistou pessoas de diversas faixas etárias para saber como eles se referem a cada parte do corpo.https://6779684f6c71ba7081958c900558ff94.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html

“Como se chama isto? Você conhece outro nome para isto? Quando a pessoa fica doente, às vezes, fica com dor no…?”, perguntava a pesquisadora.

“Eu chegava pros entrevistados e explicava o trabalho, de forma simples, antes de fazer as perguntas. Tem que ter muita sensibilidade para fazer esse trabalho de campo para a pessoa não ficar parecendo que está em um teste de conhecimento e não se sentir julgada”, explicou.

Seguindo esse método, o estudo verificou a frequência relativa de 85 termos – e quais as variações possíveis para cada um deles.

“Foi muito interessante ver como as partes íntimas foram as que mais tiveram variações e diversidade de vocabulário”, contou Barizon, autora da pesquisa.

“É engraçado porque a gente imagina que vai ter menos, que a pessoa vai ficar tímida, e ocorreu o contrário”, comentou.

Sob orientação dos professores Manoel Mourivaldo Santiago Almeida, da USP, e Maria do Socorro Vieira Coelho, da Unimontes, a pesquisadora apresentou os resultados do estudo em sua tese de doutorado na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) em fevereiro deste ano.

Mapa da região do Médio Tietê, destacando as cidades de Capivari, Piracicaba, Tietê, Pirapora do Bom Jesus, Santana do Parnaíba, Itu, Porto Feliz e Sorocaba — Foto: Reprodução/USP

Mapa da região do Médio Tietê, destacando as cidades de Capivari, Piracicaba, Tietê, Pirapora do Bom Jesus, Santana do Parnaíba, Itu, Porto Feliz e Sorocaba — Foto: Reprodução/USPhttps://6779684f6c71ba7081958c900558ff94.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html

A tese mostrou uma maior tendência de desuso nos termos pesquisados. De um total de 60 léxicos selecionados, 58% apresentaram tendência ao desuso, enquanto 27% tiveram tendência de manutenção.

O desuso é verificado quando uma palavra é menos utilizada pelos jovens, e mais pelos idosos. Já a tendência à manutenção ocorre quando os jovens estão utilizando mais um item lexical que os idosos.

Convergência com o galego

Um dos objetivos da pesquisa era mostrar a convergência entre o vocabulário do galego e o do português que é falado na região do Médio Tietê. Muito semelhante à nossa, a língua galega é falada na Galícia, uma região do Norte da Espanha próxima à fronteira com Portugal.

Região da Galícia, na Espanha, marcada em vermelho no mapa — Foto: Reprodução/Tubs/Wikimedia

Região da Galícia, na Espanha, marcada em vermelho no mapa — Foto: Reprodução/Tubs/Wikimediahttps://6779684f6c71ba7081958c900558ff94.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html

Das 85 palavras pesquisadas do galego, 70 também foram encontradas no vocabulário dos entrevistados do interior de São Paulo, o que demonstrou a semelhança entre os idiomas.

De acordo com Lívia Barizon, autora da pesquisa, essa semelhança ocorre por questões sócio-históricas.

“O galego foi virando uma língua de camponês, e eu percebi uma certa similaridade com o dialeto caipira, de que foi virando uma língua rural, uma língua que não é tão prestigiada. Elas têm em comum essa característica ser um falar interiorano”, explicou.

Enquanto na Espanha houve um estímulo oficial para a valorização do galego, em São Paulo, Barizon acredita que o vocabulário caipira deve se perder progressivamente conforme aumenta a escolaridade da população e o acesso às redes sociais.

Fonte: G1

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