100 anos da Semana de 22: artistas ecoam heranças do modernismo em São Paulo e no Brasil
Rappin Hood e Tulipa Ruiz discutem como as artes modernistas criaram raízes nos movimentos artísticos seguintes e em suas próprias obras.
Os herdeiros da Semana de Arte Moderna, que há 100 anos mudou a cultura brasileira
No início do Século 20, uma São Paulo que tinha triplicado sua população em poucos anos e multiplicado a riqueza do café, uma elite orgulhosa tinha erguido o Theatro Municipal como uma ode a uma grande arte europeia, a ópera. E foi lá mesmo que um grupo de jovens, filhos disruptivos dessa elite, inaugurou um movimento artístico efetivamente brasileiro, que ecoa por mais de um século, inspirando gerações de novos artistas. Assim foi fundado o modernismo, com a Semana de Arte Moderna de São Paulo, em 1922. Veja a reportagem completa sobre o centenário do modernismo no vídeo acima.
O Theatro Municipal, localizado no centro de São Paulo, é um dos ícones do modernismo, porque apesar da aspiração europeia, ele foi engolido pela brasilidade dos modernistas e apresentado aos brasileiros. Hoje em dia, mesmo em sua grandiosidade, o maior equipamento cultural da cidade não é suficiente para abarcar todas as manifestações culturais paulistanas.
“A produção de Sarau na periferia de São Paulo é muito forte. Existe um movimento que a gente também traz, resgata e traz para dar continuidade e ver o que está acontecendo”, diz Bruno Imparato, diretor artístico do Theatro Municipal. Para as comemorações do centenário, o balé do teatro está ensaiando novas performances. “A gente traz o máximo que a gente pode do popular e das nossas raízes”, diz a diretora da companhia de teatro do Municipal. “Isso é modernista”, acrescenta.
Outro local importante para o modernismo é um bar, também no centro. Lá, o rapper Rappin Hood e a cantora Tulipa Ruiz se encontraram para conversar sobre as heranças da Semana de Arte Moderna para as gerações seguintes, até a atualidade.
Rappin Hood: “Ode ao burguês”. Esse poema a gente ama, né? Tem a ver com o que eu escrevi.
Tulipa Ruiz: Que comunicam diretamente, tem força de navalha!
Rappin Hood: Esse dedo na cara da burguesia! Creio eu que hoje em dia esses caras seriam membros do hip-hop, do rap.
Tulipa Ruiz: Anita (Malfatti), Tarsila (do Amaral)…
Rappin Hood: Talvez elas fossem grafiteiras agora!
Mas até mesmo um movimento que foi revolucionário pode e deve ser aperfeiçoado. Assim como Tulipa, Aline e Chris Tigra levam adiante o desejo do novo, a força criativa e o espírito de 1922.
Chris Tigra é uma artista plástica que foi convidada para instalar na fachada do Theatro Municipal uma obra sobre a escravidão.
Tulipa Ruiz: A gente não parou de contestar, né?
Chris Tigra: Para a gente pensar no futuro, primeiro a gente precisa entender o passado. O que o passado representa num país tão desigual.
Já Aline Torres é uma mulher da periferia que passou a ocupar com orgulho um cargo que foi inaugurado por Mário de Andrade: Secretária de Cultura de São Paulo. Quando você olha na foto Mário, Oswald… Eram só homens e brancos, da academia e da classe mais alta da sociedade. Eu não estaria lá: sou negra, jovem e periférica. E hoje eu estou aqui, na cadeira que o Mário abençoou. Posso dizer que sou uma expressão real do novo modernismo! — Aline Torres, Secretária de Cultura de São Paulo
Fonte: G1