Saúde

Saúde de São Paulo reforça atendimento a mulheres em situação de violência

Saúde de São Paulo reforça atendimento a mulheres em situação de violência

Com a presença dos Núcleos de Prevenção à Violência, ações de prevenção e articulação intersetorial, pasta amplia enfrentamento ao problema

Na imagem, duas mulheres se abraçam em um gesto de acolhimento e afeto. A psicóloga Mariana Ferreira Garcia aparece de frente para a câmera, sorrindo de olhos fechados, transmitindo serenidade e empatia. Ela usa óculos, veste uma blusa clara e mantém os braços envolvidos na outra mulher, num abraço firme e cuidadoso.  A participante do grupo Girassóis, grupo de acolhimento às mulheres vítimas de violência doméstica, está de costas para a câmera. Ela veste uma camiseta rosa clara e tem os cabelos presos em um coque. O enquadramento valoriza o gesto do abraço, que ocupa o centro da imagem, reforçando a ideia de cuidado, escuta e apoio emocional.  O fundo é neutro e claro, sem muitos elementos, o que direciona o olhar para o encontro entre as duas mulheres e para a potência simbólica do acolhimento oferecido pelo grupo.

P.F.S se casou aos 15 anos e, por 10, viveu sob violência física e psicológica dentro de casa. Mesmo assim, não reconhecia aquela realidade como violência. “Foi no hospital que me encaminharam para o Núcleo de Prevenção à Violência (NPV). Nas rodas de conversa, comecei a entender que aquilo que eu vivia não era normal, finalmente consegui me separar”, conta.

A história de P.F.S é uma entre milhares, das mulheres acolhidas pela rede municipal de saúde de São Paulo. Na Assistência Médica Ambulatorial (AMA)/UBS Anhanguera I, na zona norte da capital, ela passou a frequentar o Grupo Girassóis, iniciativa criada em setembro de 2024 pelo NPV da unidade, após a identificação de uma alta demanda no território, em uma região marcada por vulnerabilidade social e elevados índices de violência doméstica.

Inspirado na música Girassol, de Priscilla e Whindersson Nunes, o grupo reúne atualmente cerca de 12 mulheres, entre 20 e 69 anos, que vivem ou já viveram situações de violência. Os encontros combinam rodas de conversa, fortalecimento emocional e encaminhamentos para atendimentos médicos, ginecológicos, de saúde bucal e de saúde mental, de acordo com as necessidades das usuárias. Também fazem parte da rotina atividades de convivência, a criação de um coral, idas ao cinema e momentos de leitura coletiva, para trabalhar os temas trazidos pelo grupo.

Para a alagoana J. S. P, 42 anos, que chegou a São Paulo há dois anos com o marido, o grupo foi fundamental para compreender que suas crises de ansiedade e depressão estavam ligadas a uma relação abusiva. “O Girassóis se tornou a minha família aqui em São Paulo. A história de cada uma me fortalece. Consegui perder o medo do meu marido e romper esse relacionamento. Hoje estou casada com outra pessoa, que me trata muito bem, mas as marcas do relacionamento anterior ainda me atravessam”, relata.

Segundo a assistente social Poligiana Roberta Nunes, da mesma forma que P e J, muitas mulheres chegam às unidades de saúde sem perceber que vivem uma situação de violência. “Elas procuram a UBS com queixas de ansiedade e depressão. Quando aprofundamos a escuta, identificamos que esses sintomas são consequência de relações tóxicas. O grupo nasceu a partir do trabalho do NPV para fortalecer a autoestima dessas mulheres e mostrar que existe saída, que é possível romper com a violência e construir uma nova vida”, explica.

A psicóloga Mariana Ferreira Garcia reforça que a violência doméstica impacta diretamente a saúde física e mental. “É essencial que a mulher encontre um espaço seguro para falar, sem julgamento, entender seus direitos e construir uma rede de apoio”, afirma. Entre os sinais de alerta, lembra, estão atitudes como controle da vestimenta e das saídas, medo constante do parceiro, sensação permanente de tensão, sentimentos de inadequação, angústia, ansiedade e depressão. “Muitas vezes, as pessoas ao redor percebem que a relação é abusiva antes da própria mulher”, ressalta.

Rede de proteção fortalecida em toda a cidade
O trabalho desenvolvido na Assistência Médica Ambulatorial AMA/UBS Anhanguera I não é isolado, pelo contrário: integra uma rede ampla de cuidado estruturada pela Secretaria Municipal da Saúde (SMS). Hoje os Núcleos de Prevenção à Violência (NPVs), sempre compostos por vários profissionais dos equipamentos, estão presentes em todos os serviços de saúde da rede municipal, incluindo as 480 Unidades Básicas de Saúde (UBSs), com atuação articulada a 19 Equipes Especializadas de Violência (EEVs), que recebem os casos mais complexos.

Entre janeiro e outubro de 2025, os NPVs realizaram 24.603 atendimentos na capital, número que reflete tanto o aumento da demanda quanto a ampliação da capacidade de acolhimento e identificação dos casos.

Para Cássia Liberato Muniz Ribeiro, assessora técnica da Área da Pessoa em Situação de Violência da SMS, o enfrentamento exige articulação permanente. “É fundamental que a resposta seja transversal, para que se construa uma rede protetiva capaz de atuar desde a identificação dos casos até o cuidado terapêutico, garantindo proteção e continuidade do acompanhamento”, destaca.

Dados da série histórica também mostram crescimento das notificações de violência física e sexual contra mulheres acima de 20 anos na capital. Entre 2021 e 2025, os registros de violência física cresceram 23%, enquanto os de violência sexual tiveram aumento de 63,6%, reforçando a urgência de fortalecer ações de prevenção, acolhimento e proteção. O crescimento traduz maior incidência dos casos de violência, mas também melhor reconhecimento e qualificação das notificações pela rede de saúde. “O crescimento dos registros resulta do aumento de notificações e também acompanha o aumento dos casos. Por isso, fortalecer a rede e capacitar as equipes é essencial para garantir cuidado integral e protegido”, reforça Cássia Ribeiro.

UPAs em Ação: acolhimento também na urgência
Já na rede de urgência e emergência, o Projeto UPAs em Ação identificou a violência doméstica entre as principais causas de atendimento. A iniciativa estrutura trilhas de cuidado específicas, garantindo acolhimento qualificado, notificação e encaminhamentos adequados já na porta de entrada.

A UPA Pirituba foi pioneira e criou o chamado Código Lilás, garantindo reconhecimento imediato, exames, profilaxias, notificação e todos os encaminhamentos necessários. A unidade atende cerca de 150 casos por mês. No último mês foram registrados: 69 notificações de violência contra a mulher, sendo 40 delas física e 1 sexual.

Para Bianca Maia de Carvalho, responsável pelo NPV da unidade, o enfrentamento exige preparo contínuo: “A violência doméstica acontece em ciclos e com múltiplas formas de agressão. Por isso, é fundamental capacitar os profissionais para identificar, acolher e seguir os protocolos, acompanhando a paciente em toda a jornada.”

Com presença em todos os territórios, a rede municipal de saúde segue ampliando o cuidado às mulheres em situação de violência e oferecendo escuta empática, proteção, orientação e caminhos possíveis para a reconstrução de vidas com mais segurança, autonomia e dignidade.

Como procurar ajuda na rede municipal de saúde
Mulheres em situação de violência podem procurar qualquer equipamento de saúde da rede municipal, como UBSs, AMAs, UPAs, hospitais e serviços especializados. O acolhimento é sigiloso, humanizado e garantido em todos os serviços.

Ao chegar a uma unidade de saúde, a mulher será acolhida por um profissional capacitado. A equipe do NPV realiza uma escuta qualificada, identifica riscos e necessidades e constrói, junto com a mulher, um Projeto Terapêutico Singular (PTS). A partir disso, podem ser articulados encaminhamentos para outros serviços da saúde, assistência social, justiça e segurança pública, sempre respeitando o tempo e as decisões da mulher.

“A equipe do NPV é referência para construir, junto com a mulher, caminhos de cuidado e segurança. Todos os profissionais da unidade estão aptos a acolher e acionar a rede protetiva”, enfatiza Cássia Ribeiro.

Desde 2019, a SMS promove capacitações contínuas e supervisão clínico-institucional para os profissionais dos NPVs e EEVs, abordando temas como psicodinâmica familiar, repercussões da violência ao longo da vida e estratégias de cuidado no território.

Fonte: Prefeitura Sp Gov

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