Após 6 dias, governador lamenta morte de são-paulino atingido por ‘bean bag’ e fala em reanalisar, revisar e ajustar protocolos da PM
‘É muito triste que isso aconteça. E obviamente isso implica em reanálise e revisão e ajuste’, disse Tarcísio de Freitas, no sábado (30) à Rádio CBN. Torcedor foi morto dia 24 por munição disparada contra cabeça em confronto com Polícia Militar. Polícia procura quem atirou.
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e o secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite, durante entrevista coletiva em julho de 2023. — Foto: RONALDO SILVA/PHOTOPRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
Seis dias após o são-paulino Rafael dos Santos Tercilio Garcia ter sido morto por uma “bean bag”, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos) lamentou a morte do torcedor e disse que os protocolos da Polícia Militar (PM) serão reanalisados, revisados e ajustados.
“Quando acontece um acidente, ele vai ter acontecido por quebra de protocolos. Os protocolos estabelecem distância de segurança para utilização de armamento não letal, enfim. Então isso vai ser completamente investigado pra fazer os ajustes tem termos de procedimentos e que tem que ser ajustados”, disse Tarcísio, neste sábado (30) em entrevista à Rádio CBN.
“A gente lamenta profundamente esse tipo de ocorrência. Era um dia de festa, não é pra gente tá lamentando a morte de ninguém. É muito triste que isso aconteça. E obviamente isso implica em reanálise e revisão e ajuste“, declarou o governador a rádio.
O g1 procurou a Secretaria da Segurança Pública (SSP), comandada pelo secretário Guilherme Derrite, para saber como será feita a revisão das “bean bags”. A pasta e a corporação não responderam o contato até a última atualização desta reportagem.
Torcedor foi morto por ‘bean bag’
Fantástico explica o que é a bean bag, a munição que matou um torcedor do São Paulo
Rafael foi morto no dia 24 de setembro após ser atingido pela munição disparada contra sua nuca. A “bean bag” atingiu a nuca durante confronto entre a PM e torcedores do lado de fora do Estádio do Morumbi, na Zona Sul da capital.
Naquela ocasião, os torcedores comemoravam o título da Copa do Brasil do São Paulo Futebol Clube (SPFC) sobre o Flamengo. Segundo a corporação, a munição “de menor potencial ofensivo” foi usada para conter os são-paulinos que estariam promovendo atos de violência.
Em resumo, Tarcísio prometeu mudanças nos protocolos da PM. Além disso, a própria corporação admitiu ter usado “bean bags”, juntamente com balas de borracha, no confronto do dia 24. A munição é de uso exclusivo dela.
Apesar disso, a Polícia Civil, que investiga o caso, ainda aguarda os resultados dos laudos periciais e dos depoimentos de testemunhas para confirmar se o tiro que matou Rafael foi dado por um policial militar. O caso é investigado como homicídio durante tumulto pelo Departamento Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).
Uma “bean bag” foi encontrada presa a nuca do são-paulino. O disparo ainda perfurou o boné que ele usava. Segundo a perícia da Polícia Técnico-Científica, Rafael foi morto por um disparo. A causa da morte foi traumatismo craniano em decorrência do impacto. Ele tinha 32 anos e possuía deficiência auditiva.
Mãe pede ‘justiça’
Vilma, mãe de torcedor morto por ‘bean bag’ chega ao DHPP — Foto: Anderson Colombo/TV Globo
Vilma Custódio dos Santos, mãe do são-paulino morto, foi nesta segunda-feira (2) depor na delegacia que investiga o crime.
“Vim conversar com a polícia para pedir que seja esclarecido o caso. O que eu mais desejo agora é ‘justiça’. Eu quero justiça. Ele não volta mais. Não posso deixar isso ser esquecido”, falou Vilma, nesta manhã, aos jornalistas que estavam em frente ao DHPP.
“Queremos que a PM [Polícia Militar] seja proibida de usar essa munição menos letal que matou meu filho”, disse Vilma na semana passada à reportagem. Ela não estava no confronto, mas poderá dar detalhes da vida pessoal do filho, com quem poderia estar no dia que foi morto etc.
“Também quero saber quem matou meu filho. Tudo indica que tenha sido um policial militar. Afinal de contas só a PM essa ‘bean bag’ em São Paulo. Se não foi a PM, quem foi? Algum policial deu a munição e a arma para outra pessoa atirar? Difícil acreditar nisso”, afirmou Vilma.
A Polícia Militar também investiga quais foram os policiais militares que usaram “bean bags” no domingo passado. O objetivo é tentar saber se algum dos agentes poderia ter disparado contra Rafael.
Apesar da confirmação de que foi uma “bean bag” que matou o são-paulino, a corporação informou continuará usando a munição e que nenhum dos PMs que participaram da ação foi afastado dos trabalhos de patrulhamento nas ruas. A PM paulista adotou as “bean bags” em 2021. Esse tipo de munição é disparada por uma espingarda calibre 12.
Imagens acima mostram vídeo que flagrou PM atirando contra torcedores, são-paulino Rafael Garcia, que foi encontrado morto; e saco apreendido pela perícia que pode ter matado ele. Artefato é semelhante a ‘bean bag’, munição menos letal usada pela PM — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal
O que são ‘bean bags’
Departamento de homicídios de São Paulo confirmou que bean bag causou morte do torcedor do São Paulo
“Beans bags” (“sacos de feijão”, numa tradução literal do inglês para o português) são na prática pequenas esferas de chumbo envoltas por plástico que ficam dentro de sacos de tecido sintético. A munição é de uso restrito à Polícia Militar paulista.
A corporação usa “bean bags” em substituição gradativa aos elastômeros (nome técnico das balas de borracha). A PM alega que a nova munição é mais segura do que a bala de borracha da brasileira Condor, que apresentou desvio de trajetória em testes de tiro. A empresa nega as falhas.
“A instituição substituirá gradativamente as munições de elastômero pelas ‘bean bags'”, informava trecho da nota divulgada ela SSP em junho deste ano para comentar a nova munição. “Estudos técnicos apontam vantagens no uso das ‘Ben Bag’, entre eles: são projetadas para dispersão de energia sobre uma área mais ampla, o que ajuda a reduzir o risco de ferimentos graves ou letais; capacidade de minimizar o risco de penetração em tecidos moles, como a pele humana.”
Rafael Garcia tinha 32 anos e possuía deficiência auditiva — Foto: Divulgação/Arquivo pessoal
O laudo da causa da morte está sendo feito pelo Instituto Médico Legal (IML). O laudo sobre o artefato que matou Rafael será produzido pelo Instituto de Criminalística (IC). Uma reconstituição virtual do crime também será realizada. Os resultados dos exames ainda não ficaram prontos.
A polícia também analisa as imagens de vídeos e câmeras de segurança para tentar identificar quem atirou na cabeça do são-paulino. Numa das imagens que circulam na web, um policial militar aparece armado, atirando para o chão na direção de torcedores. Não é possível saber que tipo de munição ele estava usando.
Segundo o DHPP, o disparo que matou Rafael foi dado por quem estava perto do torcedor e a curta distância. Segundo o protocolo da PM, as “bean bags” devem ser disparadas a uma distância mínima de até 6 metros. Abaixo disso há risco para quem for atingido.
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Un — Foto: g1 Design
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Fonte: G1