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‘Tranquilo SP’, rolê secreto e itinerante que acontece toda segunda


Tranquilo SP, o rolê secreto de segunda

Tranquilo SP, o rolê secreto de segunda

Segunda-feira é conhecida como um “dia morto” da vida noturna de São Paulo. Mas uma portinha de um estabelecimento, sem localização previamente divulgada, abre às 19h para receber os paulistanos dispostos a ouvir boa música e compartilhar experiências.

Ao entrar pela portinha, você encontra o “Tranquilo”, um “rolé” – como dizem os mineiros – itinerante que nasceu em Belo Horizonte e chegou a São Paulo em outubro de 2022. A proposta do evento é ser mais do que apenas entretenimento: é ser cultural e educativo ao juntar a boa música de artistas autorais com reflexões sobre a colaboração entre as pessoas na sociedade.

Cada semana o “Tranquilo” pousa em algum espaço da cidade, como em um imóvel que já funcionou uma antiga balada na Vila Madalena.

Só é possível descobrir o endereço e quem vai cantar no “Tranquilo” na própria segunda-feira ao reagir com um “foguinho” no story da página @tranquilosaopaulo no Instagram – e sim, precisa reagir ao story toda vez que quiser participar.

"Palco" do Tranquilo SP, na mesma altura que o público e bem próximo da plateia — Foto: Camila Quaresma/ g1

“Palco” do Tranquilo SP, na mesma altura que o público e bem próximo da plateia — Foto: Camila Quaresma/ g1

Mas é modelo de consumo na confiança é o que sempre chama atenção:

As bebidas ficam em coolers no chão _ vinho, cerveja e água. Uma folha com os preços e um código para pagar via Pix fica colada na parede. As pessoas se servem e pagam, mas ninguém cobra, nem observa ou pede comprovante. A ideia é confiar que o público vai pagar pelo produto.

“Dentro do evento, como ele tem esse caráter educativo, a gente vai tentando através das coisas mais básicas gerar pequenas provocações para as pessoas já entrarem com uma postura, com uma expectativa e com uma vontade de se portar diferente ali dentro”, afirmou Thales, idealizador e criador do “Tranquilo”.

 

Bar do Tranquilo SP, com bebidas em coolers com gelo. A ideia é não precisar de um caixa e deixar com que o público se sirva. — Foto: Camila Quaresma/ g1

Bar do Tranquilo SP, com bebidas em coolers com gelo. A ideia é não precisar de um caixa e deixar com que o público se sirva. — Foto: Camila Quaresma/ g1

A entrada não é obrigatoriamente paga, mas uma sugestão para colaborar. O valor sugerido é de R$ 25, mas o visitante pode ajudar com o que pode no momento, seja mais ou menos. A ideia é trazer um questionamento importante sobre o quanto a arte daquele cantor e o trabalho da equipe do “Tranquilo”, vale.

“Quanto um rolê como o ‘Tranquilo’ vale para você? A entrada é democrática, algumas pessoas vão pagar menos ou não vão pagar e, para equalizar, quem pode pagar mais, paga para que aquele que não pode pagar consiga participar também. O brasileiro não é acostumado a pagar por cultura, ele acha que cultura é uma coisa que tem que ser de graça, que ele está ajudando e aqui a gente tenta quebrar isso”, explica Thales.

Entrada de um bar de localização desconhecida que recebeu o Tranquilo SP em alguma segunda-feira.  — Foto: Camila Quaresma/ g1

Entrada de um bar de localização desconhecida que recebeu o Tranquilo SP em alguma segunda-feira. — Foto: Camila Quaresma/ g1

Placa decorativa com uma das frases que descrevem a energia e o intuito do rolê Tranquilo SP — Foto: Camila Quaresma/ g1

Placa decorativa com uma das frases que descrevem a energia e o intuito do rolê Tranquilo SP — Foto: Camila Quaresma/ g1

O público é diverso, há mais velhos, mais jovens, estrangeiros ou não. Sempre há alguém de terno, que foi para o “Tranquilo” direto do trabalho e entre as conversas sempre dá para escutar quem está ali sozinho e acabou de conhecer alguém ou um artista falando sobre a música que faz e como encontrá-lo nas redes sociais.

Mas como fazer um rolê secreto crescer? A ideia, segundo o fundador e idealizador do Tranquilo SP, Thales Silva é aguçar a curiosidade do público para conquistar o público e trazer ao “Tranquilo” só quem tem coração aberto e ouvidos atentos.

“Já que a música autoral, já que o autor livre é pouco valorizado no Brasil, a gente pensou em não forçar as pessoas, nós não vamos ficar invadindo o feed das pessoas com aquela comunicação insistente. A gente inverteu essa lógica e diminui a quantidade de conteúdos agressivos. Deixamos as pessoas interessadas virem até nós e com isso a gente consegue juntar uma comunidade de pessoas que são apaixonadas por música”, explica Thales, idealizador do Tranquilo.

O clima é realmente tranquilo e íntimo, principalmente depois que a música começa. E há um momento que o artista chama alguém da plateia para cantar para ele “olho no olho”.

Público em área externa no intervalo entre um show e outro, no Tranquilo SP — Foto: Camila Quaresma/ g1

Público em área externa no intervalo entre um show e outro, no Tranquilo SP — Foto: Camila Quaresma/ g1

Os artistas que tocam no “Tranquilo” são independentes e, na maioria das vezes, emergentes, aqueles que estão começando a se tornar conhecidos. Mas nomes famosos como Marcelo Jeneci, que trouxe o maior público na edição do “Tranquilo” em São Paulo, e Marina Sena, em Belo Horizonte.

Fernanda Bcheche que trouxe o “Tranquilo” para São Paulo, explica sobre como o evento inverte a lógica da demanda da música autoral. “O músico autoral pequeno geralmente pede para as pessoas irem aos shows dele e aqui a gente já tem o público para assistir ele”.

Em Belo Horizonte, nos últimos 3 anos, mais de 200 artistas já participaram nas mais de 60 edições presenciais. Durante a pandemia foram mais de 20 edições em formato live.

“Eu via que era muito gostoso ouvir shows autorais, em silêncio. E eu admirava muito o Tranquilo pela quantidade de pessoas que ele levava em Belo Horizonte e por BH ser uma local super difícil de fazer um negócio dar certo. Então dava certo lá e eu via que era muito incrível e precisava vir para São Paulo. Junto com isso eu percebi que os artistas aqui da cidade precisavam do espaço, de um local em que eles pudessem ser ouvidos e ter um público respeitoso”, afirma Fernanda.

Já foram mais de 18 edições em São Paulo e mais 24 estão para sair, com um bônus (e spoiler) de edições especiais de fim de semana.

 Fernanda Bcheche produtora e sócia do Tranquilo SP e Thales Silva, fundador e idealizador do projeto — Foto: Camila Quaresma/ g1

Fernanda Bcheche produtora e sócia do Tranquilo SP e Thales Silva, fundador e idealizador do projeto — Foto: Camila Quaresma/ g1

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