Atriz trans diz ter sido agredida por agente da GCM na Cracolândia, em SP: ‘Apanhando da polícia em ação de entrega de marmitas’
Segundo Leona Jhovs, agressão ocorreu em 26 de fevereiro. Ela é presidenta do Instituto Luz do Faroeste, que mantém projeto ‘Você Tem Fome do Que’, e recebeu recursos de emendas parlamentares da Bancada Feminista para distribuir alimentos na região da Luz.
Leona registrou o boletim de ocorrência acompanhada da ativista Amanda Amparo, que também foi agredida e pela CoDeputada Estadual da Bancada Feminista do PSOL, Carolina Iara, e por representantes de Erika Hilton (Psol) e do vereador Eduardo Suplicy (PT). — Foto: Reprodução/ Instagram
A atriz trans Leona Jhovs diz ter sido agredida por um agente da Inspetoria de Operações Especiais (Iope), da Guarda Municipal de São Paulo, enquanto entregava marmitas na região da Cracolândia, no Centro da capital.
Ela estava acompanhada da ativista Amanda Amparo, que também teria sofrido agressões verbais.
- A agressão ocorreu na tarde do último domingo (26), na esquina da Rua do Triunfo com a Rua dos Gusmões.
- O boletim de ocorrência do caso foi registrado na sexta-feira (3), e Leona estava acompanhada da codeputada estadual da Bancada Feminista do PSOL Carolina Iara e de representantes da deputada federal Erika Hilton (PSOLl) e do vereador e deputado estadual eleito Eduardo Suplicy (PT).
- As entregas são feitas com valores destinados de emendas parlamentares de Erika Hilton (PSOL) e da Bancada Feminista (PSOL).
Leona é presidenta do Instituto Luz do Faroeste, que mantém o projeto “Você Tem Fome do Que”, e recebeu valores de emendas. Ela entrega marmitas na região uma vez por semana.
A vítima informou também que inicialmente foi revistada por uma agente e sofreu agressões verbais. “Eles nos abordaram, a ação foi muito violenta, desde o primeiro momento estávamos com uma arma apontada para a gente”, afirmou a atriz ao g1.
Leona informou que pediu para ligar para o seu advogado, mas teve seu direito negado. “Eu afirmei que é um direito. Ela [agente] simplesmente chamou o colega [agressor]. Como eu estava de costas, com as mãos na cabeça e pernas abertas, eu não vi ele vindo, só senti o murrão nas minhas costas.”
“A violência no meu corpo vai ficar no meu inconsciente, mas está feito. Sou travesti, já passei por coisas piores. Estou de pé e vou continuar. Duas coisas me doeram: a primeira, quando passamos por eles, eu os cumprimentei. Como trabalhadores, sabe? Um aceno de cabeça e um boa tarde. A outra coisa foi quando tomei dimensão que estava apanhando da polícia em uma ação de entrega de marmitas. Ou seja: combatendo a fome. E ser agredida nesse movimento é realmente surreal”, continuou.
A atriz fez um boletim de ocorrência da agressão na sexta (3), no 96º Distrito Policial do Itaim Bibi, na Zona Oeste da capital.
“Sei que esse soco não é nada perto da violência que a população em situação de rua ou usuários passam. Já vi violências surreais. Já vi criança sofrendo com a ações policiais. Aquele território sangra há mais de 30 anos”, ressaltou.
Leona registrou o boletim de ocorrência acompanhada da ativista Amanda Amparo, que também foi agredida e pela CoDeputada Estadual da Bancada Feminista do PSOL, Carolina Iara, e por representantes de Erika Hilton (Psol) e do vereador Eduardo Suplicy (PT). — Foto: Arquivo pessoal/ Leona Jhovs
Carolina Iara, codeputada estadual da Bancada Feminista, informou em uma rede social que irá solicitar uma reunião com a Secretaria Municipal da Segurança para tratar o caso.
Em nota, a deputada federal Erika Hilton (Psol), que está auxiliando Leona, disse que “é um absurdo, um abuso de poder e de autoridade o que está acontecendo na região da Cracolândia. A agressão que ocorreu com Leona é parte da violência e desumanização a que estão submetidos os corpos desse território. E já temos percebido que a truculência dos agentes de segurança – praticamente o único braço do Estado que chega lá – têm aumentado com a dobradinha Nunes e Tarcísio”.
“Nossa parceira, a atriz Leona Jhovs, foi abordada violentamente e agredida por guardas da GCM no último domingo, enquanto fazia distribuição de marmitas para pessoas em situação de rua. O projeto, realizado pelo Instituto Luz do Faroeste com aporte financeiro de emendas parlamentares destinadas por três mandatos municipais – dos então vereadores Erika Hilton e Eduardo Suplicy – e da Bancada Feminista, cumpre um papel que o Estado deveria fazer – dar de comer a quem tem fome. Por isso, os agentes de segurança deveriam zelar pela proteção dessas pessoas e não atacá-las”, disse em nota.
Em nota, a Polícia Civil informou que o caso foi registrado como lesão corporal no 96º DP.
Também em nota, a Secretaria Municipal de Segurança Urbana informou que a “Guarda Civil Metropolitana não compactua com irregularidades e, desde 2002, conta com uma Corregedoria Geral, criada pela Lei 13.396/02, responsável por apurar rigorosamente todos os casos suspeitos de desvios de conduta de seus agentes. Neste sentido, a Corregedoria da GCM está à disposição para o registro de eventuais denúncias”.
Cracolândia é desafio há décadas
Mapa com áreas de pequenas Cracolândias pelo Centro de SP — Foto: Reprodução/TV Globo
A Cracolândia, que atualmente está espalhada pelos arredores da Rua Helvétia, já se mudou para a Praça Princesa Isabel mais de uma vez. Em 2017, depois de uma operação policial com mais de 900 agentes, os usuários que ficavam na Rua Helvétia se espalharam pelo Centro, concentrando-se na Praça Princesa Isabel durante um mês.
O então prefeito da capital paulista, João Doria (PSDB), chegou a dizer que a Cracolândia havia acabado. Mas, depois da operação, os dependentes químicos voltaram para o mesmo lugar.
A Cracolândia é um desafio para São Paulo há cerca de 30 anos. Especialistas apontam que a solução passa por medidas efetivas e permanentes nas áreas de saúde, assistência social e segurança pública.
As operações são criticadas por movimentos sociais. Ativistas acusam as forças de segurança de agirem com violência contra usuários de drogas, espalhando eles pela cidade.
Fonte: G1