Feder, indicado para Educação em SP, foi alvo de protestos por sala de aula sem professor e implementou 207 escolas cívico-militares no PR
No Paraná, Feder foi secretário da Educação durante toda a gestão de Ratinho Junior. Ele foi confirmado na Educação de São Paulo pelo governador eleito, Tarcísio de Freitas. Em livro, chegou a defender a extinção do MEC, mas diz que hoje ‘mudou de ideia’.
Novidades foram anunciadas pelo secretário da Educação do Paraná, Renato Feder, nesta segunda-feira (26) — Foto: Aen/Divulgação
Renato Feder, de 44 anos, atual secretário da Educação do Paraná e confirmado pelo governador eleito Tarcísio de Freitas (Republicanos) como futuro chefe da pasta no estado de São Paulo , foi alvo de protestos por implantar EAD em sala de aula sem professor, e responsável por colocar 207 escolas em modelo cívico-militar no estado.
Feder também já defendeu a extinção dos ministérios da Educação e da Saúde
Em novembro de 2021, o governo do Paraná contratou uma faculdade particular para dar aulas à distância aos alunos do ensino médio do estado, em disciplinas profissionalizantes.
A empresa de ensino Unicesumar foi contratada por R$ 38,4 milhões para “oferta de disciplinas técnicas, não constantes da Base Nacional Curricular Comum, em cursos de Educação Profissional para a produção, ministração e transmissão das disciplinas técnicas presenciais mediadas por tecnologia, síncronas, com sistemas de interatividade e disponibilização de monitores, para estudantes do ensino técnico profissional integrado ao Ensino Médio da rede estadual de ensino do Paraná”, segundo informações do contrato com o governo.
A medida foi alvo de protestos de alunos e professores. Pelas redes sociais, estudantes de escolas públicas compartilharam fotos, afirmando que foi colocada uma televisão em uma sala de aula com mais de 40 alunos, sem a presença de um professor para acompanhar a turma ou tirar dúvidas.
Alunos se recusaram a assistir a aula por televisão — Foto: Reprodução/ Redes sociais.
Em março, estudantes do Centro Estadual de Educação Profissional Pedro Boaretto Neto, de Cascavel, se recusaram a assistir às aulas dos cursos técnicos e se retiraram da sala como forma de protesto. Imagens do ato foram publicadas em uma rede social.
Uma aluna ouvida pelo g1, que preferiu ter a identidade preservada, disse que após os protestos eles conseguiram dialogar com a Secretaria da Educação do estado e reivindicaram a presença de um professor em sala. “Logo que começamos a manifestação, tivemos o resultado que estávamos lutando para ter, creio que levou uns 2 meses e depois tivemos de volta nossas aulas presenciais”, afirma.
O mesmo ocorreu no colégio Mario de Andrade, na cidade paranaense de Francisco Beltrão.
Alunos colégio Francisco Beltrão. — Foto: Reprodução/ Redes Sociais
Em ambos os casos, os alunos criaram páginas nas redes sociais para se manifestar contra a parceria do governo com a Unicesumar. Segundo informações do Sindicato dos Trabalhadores da Educação do Paraná (APP-Sindicato), mais de 30 escolas no estado realizaram protestos contra o método de ensino.
Em nota, a Secretaria da Educação e do Esporte do Paraná (Seed) afirmou que “tem como objetivo ter ao menos um terço dos estudantes do ensino médio em cursos da Educação Profissional. Quando a gestão do secretário Renato Feder começou, esse número era de 10% e a oferta estava concentrada, sobretudo, em grandes cidades do estado. O projeto aumentou a oferta de cursos técnicos em pequenos e médios municípios do interior do estado, nos quais poucos professores se dispunham a dar aulas”.
Afirmou também que os protestos realizados pelos alunos “foram importantes para que a secretaria, ao lado dos núcleos e da direção das escolas, ajustasse o modelo das aulas ainda no primeiro semestre. Tanto que uma equipe da Seed-PR passou a avaliar aula a aula para aprimorar o conteúdo (além do suporte ao estudante em sala e pedagógico, que sempre existiu) e também alterou seu formato, deixando as aulas mais interativas e menos expositivas”.
“Esse processo de diálogo nunca foi interrompido e após avaliação dos resultados do projeto em diferentes municípios ao longo de 2022, a Seed optou por realizar novas adaptações no modelo, de acordo com as demandas de cada colégio. Em parte das escolas, as aulas de cursos técnicos ministradas por docentes da Unicesumar serão mantidas. Em outros, de acordo com a oferta de profissionais habilitados, haverá a contratação de docentes para ministrar essas aulas. A contratação ocorrerá a partir de dois PSS (Processo Seletivo Simplificado), sendo que um deles está com inscrições abertas neste momento”, continua o comunicado.
A pasta informou também que os professores da Unicesumar ministram as disciplinas técnicas de três cursos (Administração, Agronegócios e Desenvolvimento de Sistemas).
A assessoria de comunicação do governo informou ao g1 que o modelo EAD foi implementado inicialmente em casos em que “não tinham professores disponíveis ou existia uma dificuldade em oferecer escolas profissionalizantes”, principalmente, no interior.
E, admitiu que o modelo não funcionou em alguns lugares. “Onde não funcionou a gente substituiu a faculdade [Unicesumar] por professores e, em outros casos, encerrou os cursos. Onde a Uni funcionou e tem aprovação ela fica, onde não funcionou serão colocados professores”.
A pasta informou também que abriu um novo edital para contratar novos profissionais, principalmente para regiões do interior.
Colégios cívico-militares
Colégio cívico-militar no Paraná. — Foto: Geraldo Bubniak/AEN
Foi também na gestão de Feder à frente da Educação no Paraná que foram implantadas escolas cívico-militares: 195 seguindo um modelo estadual e 12 seguindo o modelo federal.
O modelo cívico-militar é diferente do modelo das escolas militares mantidas pelas Forças Armdas. De acordo com o MEC, as secretarias estaduais da educação continuariam responsáveis pelos currículos escolares e caberia aos militares a atuação como monitores na gestão educacional. Na prática, a gestão da escola é compartilhada: professores cuidam da parte pedagógica e os militares, da administração e da disciplina.
No caso das escolas estaduais, inicialmente o governo do Paraná, seguiu o modelo onde dois diretores passariam a comandar a escola: um civil, que vai cuidar da parte pedagógica, e um militar da reserva para tratar de questões como disciplina e hierarquia. Mas para 2023, foi enviado um novo projeto para a Assembleia Legislativa do estado, onde novas contratações de diretores militares passariam a ser para o cargo de monitores educacionais e não mais de diretor.
A Secretaria da Educação informou ao g1 que não pretende aumentar o número de escolas no modelo cívico-militares no Paraná.
O ensino médio do Paraná atingiu a maior média do país no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) de 2021. Os dados foram divulgados pelo governo federal em setembro. A nota foi de 4,9, dois décimos acima da média que o estado tinha atingido em 2019. O índice não era divulgado há dois anos por conta da pandemia. Paraná ficou sete décimos acima do registro nacional.
No entanto, para especialistas, o índice nacional, por exemplo, deve ser interpretado com muita cautela para não levarem a conclusões enganosas. De um modo geral, os índices deste ano estão, na verdade, distorcidos, explicam especialistas ouvidos pelo g1: foram colhidos em condições que acabaram “mascarando”, de forma não intencional, o verdadeiro retrato da educação brasileira na pandemia.
O Ideb é medido pela porcentagem de alunos aprovados (ou seja, que não repetiram de ano) e as notas dos estudantes em uma prova chamada Saeb.
Só que, neste ano, esses dois “ingredientes” foram comprometidos, porque:
- Parte das redes de ensino adotou a aprovação automática na pandemia (e terá, portanto, um Ideb artificialmente mais alto).
- Pela primeira vez, também por causa da Covid-19, a porcentagem de alunos que fizeram a avaliação (Saeb) pode ser muito mais baixa em alguns estados, fornecendo dados estatisticamente pouco confiáveis. Comparações e rankings não serão fiéis à realidade.
O governo do Paraná informou que não adotou a aprovação automática e um número recorde de alunos realizaram a prova da Saeb. Disse também que chegaram “no primeiro lugar porque combatemos a evasão escolar e fizemos um trabalho muito forte de ensino à distância”.
Extinção do MEC
Em 2007, no livro “Carregando o Elefante – Como Transformar o Brasil no País Mais Rico do Mundo”, Feder e Alexandre Ostrowiecki sustentam que ambas as pastas devem ser extintas e todo o ensino público, privatizado, incluindo universidades.
Na publicação, Feder afirma que “devem-se eliminar também os Ministérios da Saúde e Educação. São assuntos de enorme importância. No entanto, no modelo proposto mais adiante, veremos que não fará mais sentido manter ministérios destinados a esses assuntos e que tal papel deverá ser realizado pelas agências reguladoras”.
No mesmo livro, o secretário também apoiou a extinção dos ministérios da Cultura e dos Esportes. “Esses são assuntos que não dizem respeito ao governo. É preciso eliminar também todo tipo de lei de incentivo cultural e esportivo, como por exemplo, a chamada Lei Rouanet”, afirmou.
Feder sugeriu também a implantação de um sistema de vouchers em que as famílias dos estudantes da rede pública receberiam um valor para matricular o filho em uma escola particular e este valor seria pago diretamente pelo governo ao colégio.
O g1 procurou o empresário para comentar sobre o assunto, mas ele não quis se manifestar.
Pelo Twitter, em 2020, Feder disse que escreveu “um livro quando tinha 26 anos de idade. Hoje, mais maduro e experiente, mudei de opinião sobre as ideias contidas nele”.
“Acredito que todos podem e devem evoluir em relação ao que pensavam na juventude. Gostaria de ser avaliado pelo que eu penso e faço hoje, como um gestor público, ao invés de um livro escrito quinze anos atrás. Tenho convicção de que a minha missão de vida é ajudar na educação do nosso país, sinto-me feliz fazendo esse trabalho e podendo devolver ao Brasil um pouco das bênçãos que recebi na vida”, disse.
Natural de São Paulo (SP), Feder é formado em administração pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e mestre em economia pela Universidade de São Paulo (USP). Ele foi professor, gestor e diretor de escolas. Foi professor da Educação de Jovens e Adultos de matemática por dez anos e diretor de escola por oito anos. Também foi assessor voluntário da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo.
Fonte: G1