Veja o que é #FATO ou #FAKE nas declarações dos candidatos ao governo de SP na 4ª semana de campanha
Frases foram ditas em redes sociais, no horário eleitoral e em entrevistas e sabatinas.
Candidatos ao Governo de São Paulo nas eleições de 2022 – Fernando Haddad (PT), Tarcísio de Freitas (Republicanos), Rodrigo Garcia (PSDB), Altino Júnior (PSTU), Carol Vigliar (UP), Elvis Cezar (PDT), Gabriel Colombo (PCB), Vinicius Poit (Novo), Edson Dorta (PCO) e Antonio Jorge (DC) — Foto: Celso Tavares/g1
Os candidatos ao governo de São Paulo deram continuidade à campanha eleitoral no estado nesta quarta semana após o registro oficial das candidaturas.
Eles postaram em redes sociais, falaram no horário eleitoral na TV e no rádio e participaram de entrevistas e outros eventos.
A equipe do Fato ou Fake checou as principais declarações dadas durante a semana pelos três candidatos que pontuaram 6% ou mais na pesquisa Ipec. A ordem dos candidatos segue a da pesquisa.
Além disso, a cada semana, é checada também a fala de pelo menos um dos candidatos que aparecem com menos de 6% na pesquisa.
Leia as checagens da segunda semana:
Fernando Haddad (PT)
O candidato do PT ao governo de SP, Fernando Haddad, em evento nesta segunda-feira (5) na capital paulista. — Foto: Reprodução/TV Globo
“[O governo do PT] é responsável pela menor taxa de desemprego da história. A presidenta Dilma, em 2014, entregou o país [com] 4,9% de desemprego.” (em agenda de campanha, 4/09)
— Foto: g1
A declaração é #FATO. Veja por quê: A ex-presidente Dilma Rousseff realmente conseguiu baixar o índice de desemprego e alcançar a mínima histórica de 4,3%, em dezembro de 2013. O país fechou dezembro de 2014 com este mesmo indicador.
Já em relação à taxa média anual, o ano de 2014 ficou com 4,8%, na comparação com a média de 5,4% registrada em 2013. Também foi a menor taxa desde o início da série histórica anual, em 2003.
Estes indicadores foram registrados pela antiga Pesquisa Mensal de Emprego (PME), calculada pelo IBGE até 2015. Ela foi descontinuada e substituída pela PNAD Contínua, utilizada até hoje pelo instituto. Nessa nova pesquisa, a menor taxa foi de 6,3%, no trimestre encerrado em dezembro de 2013.
Vale dizer, no entanto, que o governo de Dilma não conseguiu manter o nível do indicador e terminou o mandato com o desemprego maior do que quando assumiu.
Ainda de acordo com a Pnad Contínua, o desemprego no país chegou a 10,3% no trimestre encerrado em fevereiro de 2016 — último ano do governo Dilma. Em 2015, Dilma já admitia que as medidas anticíclicas — que haviam começado ainda no governo do presidente Lula — estavam no limite e que não seria possível adiar por muito mais tempo o ajuste fiscal.
“Tem cerca de 16 mil vagas públicas [em albergues da cidade de SP] e nós temos 40 mil pessoas em situação de rua. Se todas forem para o abrigo, elas não têm o que fazer [onde ficar].” (em agenda de campanha, 5/09).
selo não é bem assim — Foto: arte
#NÃOÉBEMASSIM. Veja o porquê: Segundo a Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS), a capital paulista tem atualmente cerca de 18 mil vagas permanentes em abrigos para atender a população em situação de rua, além de 2.049 novas vagas que foram criadas para a atender a Operação Baixas Temperaturas (OBT) durante o inverno. O valor é maior que o citado pelo candidato.
No entanto, Haddad acerta ao dizer que o número de vagas é insuficiente, uma vez que o último Censo da População de Rua realizado pela própria prefeitura apontou que há 32 mil pessoas vivendo nas ruas. Estudo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) estima valor ainda maior, chegando a 42 mil pessoas em situação de rua na cidade.
“O Brasil ainda continua entre os dez mais desiguais do mundo” (em agenda de campanha, 4/09)
— Foto: g1
A declaração é #FATO. Veja por quê: Diversos estudos apontam que, de fato, o Brasil é um dos países mais desiguais.
Um estudo do IBGE do final de 2020 mostrou que o país era o novo mais desigual do mundo. A estimativa foi feita com base no índice de Gini, indicador que mede o grau de concentração de renda.
Já um relatório de dezembro de 2021 do World Inequality Lab (Laboratório das Desigualdades Mundiais), que integra a Escola de Economia de Paris, apontou que o Brasil é “um dos países mais desiguais do mundo” e que as discrepâncias de renda “são marcadas por níveis extremos há muito tempo”.
“Entre os mais de 100 países analisados no relatório, o Brasil é um dos mais desiguais. Após a África do Sul, é o segundo com maiores desigualdades entre os membros do G20”, disse Lucas Chancel, principal autor do relatório.
O relatório aponta alguns dados que mostram a desigualdade de renda e de patrimônio no país:
- Os 10% mais ricos no Brasil ganham quase 59% da renda nacional total;
- Os 50% mais pobres ganham 29 vezes menos do que os 10% mais ricos;
- A metade mais pobre no brasil possui menos de 1% da riqueza do país;
- O 1% mais rico possui quase a metade da fortuna patrimonial brasileira;
“Conseguimos da Open Society contratar uma ONG para fazer uma avaliação externa do programa [Braços Abertos], que não fosse uma avaliação da prefeitura. Resultado: dois terços dos beneficiários tinham reduzido drasticamente o consumo de drogas pela chance que obtiveram” (em agenda de campanha, 5/09)
— Foto: g1
A declaração é #FATO. Veja por quê: Pesquisa feita em 2016 pela Plataforma Brasileira de Política de Droga, financiada pela Open Society, apontou que 2 em cada 3 beneficiários do Braços Abertos diminuíram o consumo de drogas após passarem pelo programa. O Braços Abertos foi implantado em 2014, quando Haddad era prefeito de São Paulo, com o objetivo de combater o uso de drogas na região da Cracolândia. A ação era baseada na política de redução de danos, com oferta de vagas em hotéis da região, pagamento por diária em serviços de zeladoria e atendimento de saúde.
Tarcísio de Freitas (Republicanos)
Candidato ao governo de São Paulo Tarcísio de Freitas (Republicanos) durante sabatina para O Globo, Valor e CBN — Foto: Maria Isabel Oliveira / Agência O Globo
“São mais de 400.000 novas propriedades [de regularização fundiária no Brasil]. Famílias que vão poder tirar do seu trabalho o sustento e o alimento” (redes sociais, 6/09)
— Foto: g1
A declaração é #FATO. Veja por quê: Segundo nota divulgada pela Casa Civil em 5 de setembro, entre janeiro de 2019 e agosto de 2022 o governo federal emitiu 404.993 documentos de titulação em assentamentos da reforma agrária e áreas públicas passíveis de regularização fundiária.
“[O Brasil é] o único país no mundo hoje que está gerando emprego, (…) que está conseguindo combater a inflação. Não tem outro.” (em discurso de 7 de setembro na Paulista)
Selo fake — Foto: G1
A declaração é #FAKE. Veja por quê: Não é verdade que o Brasil é o único país do mundo que está gerando emprego e conseguindo diminuir a inflação.
Nos últimos meses, por exemplo, a criação de vagas de trabalho nos Estados Unidos vem superando as expectativas de analistas. Em julho, foram abertas 528 mil vagas de trabalho fora do setor agrícola, segundo dados do Departamento do Trabalho americano coletados pela Reuters. Este foi o 19º mês consecutivo de abertura de vagas no país. Com isso, a taxa de desemprego nos Estados Unidos caiu para o mínimo pré-pandemia, de 3,5%.
No mesmo mês, a economia brasileira criou 218,9 mil empregos com carteira assinada, segundo o Ministério do Trabalho e da Previdência Social. Foi o 7º mês consecutivo com saldo positivo. A taxa de desemprego brasileira está em 9,1%.
Sobre a inflação, o IPCA acumulado em 12 meses do Brasil caiu de 11,89% em junho para 10,07% em julho. Mas, na comparação com julho de 2021 (8,99%), o valor segue em alta.
Em um ranking com a inflação registrada no início do segundo semestre de 170 países, 74 países mantinham inflação de 10% ou mais no período, incluindo o Brasil. Na comparação histórica, 63 dos 170 países (37%) conseguiram reduzir a inflação no período mais recente em relação ao anterior.
Além disso, o indicador para o Brasil segue acima, por exemplo, que o dos Estados Unidos, que reduziram a taxa de 9,1% para 8,5%. Já a Alemanha teve alta recente, mas segue com inflação menor que a brasileira (7,9%), assim como a média da União Europeia (9,8%) e a média dos países da Zona do Euro (9,1%).
“A tabela SUS está congelada desde a década de 2.000.” (em entrevista em 9/9)
— Foto: arte
#NÃOÉBEMASSIM. Veja o porquê: Apesar do último reajuste mais geral da Tabela de Procedimentos Hospitalares do SUS ter sido feito em 2007 pelo então ministro José Gomes Temporão, a Tabela SUS sofreu reajustes pontuais de procedimentos ao longo da última década. No próprio governo Jair Bolsonaro (PL) houve um reajuste valores repassados para o custeio de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI), a partir de 1º de março de 2022.
Naquela data, o Ministério da Saúde aumentou os valores repassados para o custeio de leitos. Com a medida, a diária da UTI para Queimados, por exemplo, passou de R$ 322,22 para R$ 700. A UTI Adulto III foi de R$ 508,63 para R$ 700. A UTI Adulto II sobe de R$ 478,72 para R$ 600 (veja o decreto aqui).
Rodrigo Garcia (PSDB)
Rodrigo Garcia (PSDB) em evento na Associação Comercial de São Paulo, no Centro. — Foto: Divulgação
“São Paulo manda R$ 716 bilhões [em imposto] e voltam R$ 47 bi. Se voltasse 20% a mais em um ano, a gente zerava o déficit habitacional da cidade” [referindo-se a pacto federativo] (em agenda de campanha, 4/09)
— Foto: g1
A declaração é #FATO. Veja por quê: A arrecadação de impostos federais no território de São Paulo é mais alta do que o retorno recebido em transferências da União para o estado. Em 2021, dos quase R$ 1,9 trilhão de impostos federais arrecadados, como o imposto de renda e o imposto sobre produtos industrializados, o IPI, R$ 716 bilhões saíram de São Paulo, segundo tabela da Secretaria do Tesouro Nacional (STN). Esse valor foi mais alto do que o de 2019 e 2020, quando a arrecadação em SP ficou perto de R$ 560 bilhões.
Considerando dados divulgados pela Controladoria Geral da União (CGU), em 2021, o governo federal repassou a São Paulo um total de R$ 50,3 bilhões, considerando a soma de repasses para o Estado e para os municípios. Esse repasse foi de R$ 58,2 bilhões em 2020 e R$ 40,1 bilhões em 2019.
“Sabe quantos hospitais federais tem em São Paulo? Um [Hospital São Paulo]. (…) Eu fui lá como governador de São Paulo e dei dinheiro para um hospital do governo federal.” (no programa eleitoral de 7 de setembro).
— Foto: arte
#NÃOÉBEMASSIM. Veja o porquê: Considerando apenas a capital, a afirmação é verdadeira. Mas, considerando o Estado de São Paulo, existem dois hospitais universitários federais.
O Hospital São Paulo, apesar de ser ligado à Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), é considerado pelo governo federal como sendo de natureza privada, porque foi fundado e até hoje é gerido pela Sociedade Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM), mesmo após ter sido vinculado à Unifesp.
No Interior paulista, a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) também tem um hospital universitário federal, mantido pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH), empresa pública do governo federal que cuida da gestão da grande maioria dos hospitais universitários.
Em março de 2022, depois de mais uma série de denúncias sobre falta de medicamentos e materiais no Hospital São Paulo, o governo paulista anunciou um repasse de R$ 58 milhões para a unidade. Do montante, R$ 50 milhões eram para o custeio do hospital e R$ 8 milhões para a obra de reforma do pronto-socorro.
O hospital há anos disputa na Justiça o direito de receber recursos federais pelo Programa Nacional de Reestruturação dos Hospitais Universitários Federais (Rehuf). O governo federal, por sua vez, entende que, pela natureza jurídica do hospital, ele não tem direito aos repasses.
“Despoluímos o Rio Pinheiros, mais de 600 mil ligações residenciais que foram feitas” (no programa eleitoral de 04/09)
— Foto: arte
#NÃOÉBEMASSIM. Veja o porquê: O Rio Pinheiros não está totalmente despoluído. Na última medição divulgada pelo governo de SP, em março de 2022, a qualidade da água que estava no nível satisfatório – dentro do limite para que não tenha cheiro e permita vida aquática – era de 85% do leito. Na ocasião, o governo paulista recolheu amostras em treze pontos de medição ao longo do rio e, em ao menos 11 deles, os trechos apresentavam medidas abaixo de 30 miligramas de DBO por litro (mg/l).
DBO (demanda bioquímica de oxigênio) é uma sigla que mede a quantidade de oxigênio que é perdida na água por causa da poluição. É uma das principais métricas usadas no mundo para medir a limpeza de um rio. Os 30 mg/l é a quantidade mínima para que a água não tenha mais odor, melhore a turbidez e permita vida aquática.
Para que esteja 100% despoluído, o governo de São Paulo disse que a meta é que a água do Rio Pinheiros tenha justamente 30mg/l em todo o leito. Para melhorar a qualidade da água do rio, a Sabesp diz que conectou 650 mil imóveis à rede de esgoto até setembro de 2022.
Um relatório divulgado pela Fundação SOS Mata Atlântica dois dias antes dos dados do governo de SP mostrou, também em março, que seis rios e córregos da cidade de São Paulo estão com o resultado da água ruim ou péssima. Os três piores locais foram em trechos do Rio Pinheiros.
Elvis Cezar (PDT)
Elvis Cezar, candidato do PDT ao governo de SP, posa para foto antes de conceder entrevista ao g1 — Foto: Celso Tavares/g1
“O governo deixou guardado R$ 54 bilhões nos cofres.” (postagem em rede social, em 07/09)
— Foto: g1
A declaração é #FATO. Veja por quê: Na afirmação, o candidato não deixou claro o ano de referência. Porém, segundo a prestação de contas de 2021 que o governo paulista enviou ao Tribunal de Contas Estadual (TCE-SP), o estado registrou R$ 53,8 bilhões em ingressos que constavam como “Saldo do Exercício Anterior”.
“600 mil pessoas esperam numa fila por uma cirurgia eletiva em São Paulo.” (postagem em rede social, em 06/09)
— Foto: arte
#NÃOÉBEMASSIM. Veja o porquê: Em maio deste ano, o estado de São Paulo chegou a ter uma fila de 538 mil pessoas esperando por uma cirurgia no SUS, com o acúmulo que ocorreu durante a fase mais aguda da pandemia. No entanto, o governo estadual iniciou um mutirão para a contratação de serviços de hospitais filantrópicos e particulares para diminuir a demanda represada. Segundo a Secretaria Estadual de Saúde, de janeiro a julho deste ano, foram realizadas 300 mil cirurgias, e a fila atual em setembro é de 365 mil pessoas que ainda aguardam pelos procedimentos.
— Foto: g1
Fonte: G1