Padrinhos anônimos pagam taxa de inscrição no Enem de estudantes de baixa renda na região de Ribeirão Preto
Flaviano e Vitor, que sonham entrar na faculdade, vão fazer a prova graças a ajuda de desconhecidos. Movimento Amplia nasceu em plena pandemia para ajudar jovens a chegarem ao ensino superior.

Voluntários custeiam taxa de inscrição do Enem para estudantes sem condições
Aos 21 anos, o estudante Flaviano Marques revisa em casa tudo o que aprendeu na escola pública em Ribeirão Preto (SP) para tentar uma vaga na faculdade de artes cênicas da Universidade de São Paulo (USP). Ele ainda vai fazer o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) no fim do ano, mas além da concorrência, esbarrou em outra dificuldade: a falta de dinheiro para pagar a inscrição.
“Eu acho que é a parte mais complicada porque são quase R$ 100 e é uma coisa um pouquinho para buscar ajuda. De um jeito ou de outro, tem que pagar para conseguir fazer [a prova]”, diz.
Flaviano tem direito à isenção, mas perdeu o prazo. O erro, no entanto, teve reparação em uma ajuda inesperada. Por meio do projeto Movimento Amplia, ele foi apadrinhado e conseguiu fazer a inscrição com o dinheiro doado por um voluntário que ele não conhece.
“Eu só tenho a agradecer. Não sei quem foi, mas quero agradecer quem quer que tenha sido, porque ajudou uma pessoa que vai conseguir fazer Enem neste ano”, diz.
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Flaviano Marques, de Ribeirão Preto (SP), estuda na sala de casa para fazer o Enem — Foto: Ronaldo Gomes/EPTV
Padrinhos voluntários
O Movimento Amplia nasceu em 2020, em meio a um contexto de queda no número de estudantes inscritos no Enem. Segundo a cofundadora do projeto, Luísa Guimarães, a situação serviu de motor para que uma ação fosse realizada.
“Um grupo de amigos, a maioria envolvidos com educação, viu que estava acontecendo uma iniciativa de outros grupos e a gente resolveu que a gente também precisava fazer alguma coisa […] Naquela época, em plena pandemia, vimos que mais de 300 mil estudantes não tinham pago a inscrição no Enem, a gente decidiu fazer alguma coisa. A gente queria transformar a indignação em ação”, afirma.
O projeto financia inscrições em vestibulares e mantém outras ações de fomento à educação. Por meio da plataforma, o movimento conecta quem precisa a quem pode ajudar.
Para ajudar quem não tem condições financeiras e tanto quer entrar no ensino superior, o doador só precisa fazer um cadastro na plataforma na internet. As contribuições em dinheiro podem ser mensais ou pontuais.
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Estudantes de Ribeirão Preto, SP, Flaviano e Vitor vão fazer o Enem com inscrição paga por padrinhos anônimos — Foto: Reprodução/EPTV
No primeiro ano do projeto, 120 estudantes de baixa renda foram contemplados. Em 2021, o número passou para 835 e, em 2022, são mil pessoas atendidas.
“A gente tem um foco na juventude preta, parda e indígena, que são grupos que são sub-representados nas universidades, mas a gente aceita todos os estudantes de baixa renda que procuram a gente e fazem as inscrições dentro do prazo”, explica Luísa.
Impacto
Na região de Ribeirão Preto, 11 estudantes vão poder fazer o Enem graças à generosidade de pessoas anônimas. Os beneficiados são moradores de Barretos, Batatais, Guariba, Jardinópolis, Monte Alto, Ribeirão Preto e Sertãozinho.
O estudante Vitor Emanuel Camargo de Almeida, que também é de Ribeirão Preto, conseguiu um padrinho para pagar a taxa de inscrição. Ele quer cursar administração de empresas em uma universidade pública, e sem o Enem, o objetivo ficaria mais distante.
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Estudante segura caderno de provas do Enem em Ribeirão Preto — Foto: Érico Andrade/g1
“O Movimento Amplia e outros projetos como esse podem trazer de volta o sonho dos jovens de concluir seus estudos e não sofrerem com isso, já que temos duas oportunidades: trabalhar ou estudar”, afirma.
Foi uma tia dele, que é professora, que o avisou sobre a ajuda que poderia vir do projeto.“Tendo essa oportunidade a gente não se vê obrigado a ir direto ao trabalho. Podemos concluir os estudos de maneira adequada para depois, sim, pensar na carreira profissional”, diz.
Quem quiser colaborar pode acessar a página do Movimento Amplia na internet.
Fonte: G1