Câmeras registram surgimento de nova Cracolândia em São Paulo

Na quinta-feira (19), ação policial contra o tráfico de drogas dispersou o grupo que se concentrava na rua, mas, na prática, dependentes químicos e traficantes de droga só mudaram de endereço: um trecho da rua Helvetia, a 600 metros de onde estavam.


Câmeras registram surgimento de nova Cracolândia em São Paulo

Câmeras registram surgimento de nova Cracolândia em São Paulo

Câmeras de vigilância registraram o tamanho do desafio que o tráfico de crack impõe às autoridades de São Paulo – as de assistência social, as de saúde e as de segurança pública.

As imagens registradas no último sábado (14) mostram uma rua da região central de São Paulo quase deserta. No dia seguinte, um homem chega sozinho, arrastando uma mesa e uma cadeira. Ele se acomoda atrás da caçamba, tira alguns pacotes de cor branca do bolso e põe sobre mesa. Não demora muito para outras pessoas aparecerem.

Em menos de 15 minutos, a rua Doutor Frederico Steidel já está tomada, e os cachimbos usados pelos dependentes químicos não param de ser acesos. Estava formada uma nova Cracolândia. A moradora de um prédio próximo, que pediu para não ser identificada, conta o que viveu nos últimos dias.

“Você não tinha como sair, total situação de desespero, de medo. Se você tentasse abrir a janela, eles mandavam fechar. Tivemos que estocar o lixo porque, de segunda até quinta, não foi possível jogar o lixo na rua. Não pudemos abrir a janela. Situação de refém – essa é a palavra”, relembra.

Na tarde de quinta-feira (19), uma ação da polícia contra o tráfico de drogas dispersou o grupo que se concentrava na rua. Mas, na prática, dependentes químicos e traficantes de droga só mudaram de endereço. Eles agora ocupam um trecho da rua Helvetia, a cerca de 600 metros de onde estavam. Durante a reportagem do JN, o trânsito estava bloqueado e dava para ver assistentes sociais da prefeitura por ali, de colete azul. E, do outro lado da rua, policiais e guardas civis metropolitanos acompanhavam tudo à distância.

Os dependentes químicos se dispersaram na semana passada, depois que foram expulsos da praça Princesa Isabel. Eram cerca de 2 mil pessoas que se dividiram em grupos menores, de no máximo 300, e se espalharam por diferentes pontos da região central, mas que agora se deslocam a cada nova operação policial.

O delegado Roberto Monteiro, que coordena as operações, afirma que o único objetivo da polícia é sufocar o tráfico, e que a divisão dos dependentes químicos facilita esse trabalho.

“Nós estamos seguindo, aqui em São Paulo, exemplos do mundo: Frankfurt, Lisboa, Nova York, Bogotá, onde se provou que a dispersão de fluxos de dependentes químicos, que sempre existe o traficante ali naquele meio, permite que a polícia reprima o tráfico com mais facilidade e mais eficácia, enquanto há a permeabilidade para que os dependentes aceitem o tratamento, não só social, também o tratamento de saúde pública”, afirma.

A Prefeitura de São Paulo diz que desde que a polícia intensificou as ações, a procura pelos serviços de saúde aumentou.

“As abordagens sociais no território da Cracolândia aumentaram 50%. Encaminhamento para o tratamento terapêutico aumentou cinco vezes entre janeiro e abril. Quando a gente combate o tráfico e dispersa os usuários, a gente consegue dar muito mais tratamento. Tira o traficante, requalifica o espaço, dá tratamento para as pessoas. A cada dia, estamos com conquistas significativas. Cada vez, tem menos gente na Cracolândia e cada vez a gente atende mais”, define Alexis Vargas, secretário de Projetos Estratégicos da Prefeitura de São Paulo.

Rafael Alcadipani, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, concorda que operações policiais frequentes são necessárias para desestabilizar o tráfico de drogas, mas alerta: só ações coordenadas colocarão fim à Cracolândia.

“É importante que a gente tenha ações focadas, direcionadas e que lidem com a questão de saúde porque, acima de tudo, as pessoas que estão ali enfrentam problema de saúde e tem que ser tratado como tal. Não adianta a gente ficar só na chave do uso policial, porque ele é limitado. A polícia vai prendendo traficante, mas traficantes vão aparecer. É preciso que você tire o mercado e, para tirar o mercado, é preciso tratamento para essas pessoas – tratamento difícil, especializado, que requer atenção dedicada do poder público. A Cracolândia está há dezenas de anos onde está e não aconteceu do dia para a noite”, enfatiza.

Fonte: G1

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