Ordem de mudança do local da Cracolândia partiu do tráfico, diz delegado; usuários se concentram na Praça Princesa Isabel

Usuários dizem que mudança de local é ‘momentânea’. Venda e consumo de drogas, em especial crack, continua no Centro à luz do dia. A Prefeitura da capital creditou a mudança como resultado de ações conjuntas entre o município e o estado para urbanização da área.


Mudança da Cracolândia foi ordem do tráfico, diz polícia

Mudança da Cracolândia foi ordem do tráfico, diz polícia

A mudança de endereço da Cracolândia para a região da praça Princesa Isabel, localizada entre as avenidas Rio Branco e Duque de Caxias, na Santa Cecília, Centro de São Paulo, no último final de semana, foi ordem de criminosos, segundo relataram usuários de drogas que consomem entorpecentes na região.

A informação foi confirmada oficialmente pelo delegado da Polícia Civil Roberto Monteiro e por fontes da Guarda Civil Metropolitana (GCM). Segundo Monteiro, a “mudança do fluxo foi ordem de uma facção criminosa”.

“Nós tivemos uma notícia de que o fluxo, por ordem de uma facção criminosa, um líder, se mudou para outros locais, não só para a Praça Princesa Isabel, onde nós já temos um trabalho sendo realizado de inteligência ali naquele local, como também para outros pontos, como já estava ocorrendo diante da nossa repressão ao tráfico de drogas”, afirmou ele.

Na segunda-feira (21), o SP2 mostrou que os usuários de drogas que ocupam normalmente a rua Helvétia saíram da região e se espalharam por outras ruas do Centro. A Prefeitura da capital creditou a mudança como resultado de ações conjuntas entre o município e o estado para urbanização da área.

Já nesta terça-feira (22), após a Polícia Civil admitir a saída dos usuários da Cracolândia por ordem de criminosos, a Prefeitura reafirmou que a mudança se deve “a ações que vem sendo realizadas há anos em parceria com o estado e que a versão do delegado só reforça que o tráfico saiu de lá sem o uso da força”.

Movimentação de usuários de drogas na Praça Princesa Isabel, no Centro da capital paulista, na tarde desta terça-feira (22). — Foto: TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO CONTEÚDO

Movimentação de usuários de drogas na Praça Princesa Isabel, no Centro da capital paulista, na tarde desta terça-feira (22). — Foto: TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO CONTEÚDO

A venda e o consumo de drogas continua constante e à luz do dia na região da Luz, no Centro, e concentrada na Praça Princesa Isabel. Com uma câmera escondida, a TV Globo filmou bancas improvisadas vendendo crack: os traficantes usam lâminas para cortar e vendas as pedras. Na região também há muito lixo espalhado.

Um homem que vive na Cracolândia contou que a mudança do fluxo de drogas na região é “momentânea”.

“Só liberou meia-noite que ia subir, mas aí foi na sexta, aí no sábado já ficou, ficou direto agora [na Praça Princesa Isabel”, disse o morador da Cracolândia.

“Tem que voltar [pra lá, no futuro], eu acho. Os cara mandou sair e nós ficou aqui mesmo, é mais suave, né?”, afirmou ele.

Ruas da Cracolândia vazias  — Foto: TV Globo

Ruas da Cracolândia vazias — Foto: TV Globo

Cracolândia é desafio

A mudança silenciosa da Cracolândia chamou a atenção porque, segundo fontes da GCM, por dia, entre 800 e 1.500 pessoas ocupavam a região. Desde sexta-feira (18), o fluxo mudou repentinamente.

Essa não é a primeira vez que a Cracolândia se muda para a Praça Princesa Isabel. Em 2017, depois de uma operação policial com mais de 900 agentes, os usuários que ficavam na rua Helvétia se espalharam pelo Centro, concentrando-se na praça Princesa Isabel durante um mês. Depois, voltaram para o mesmo lugar.

A Cracolândia é um desafio para São Paulo há cerca de 30 anos. Especialistas apontam que a solução passa por medidas efetivas e permanentes nas áreas de saúde, assistência social e segurança pública.

Segundo o professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Rafael Alcadipani, preocupa o fato de ter sido o tráfico a determinar a mudança do local do fluxo dos usuários.

“Quando você pulveriza [usuários e traficantes pela região também fica mais difícil pra você conseguir prender e localizar esses traficantes. É uma tentativa sempre de dificultar o trabalho da polícia, agora a polícia vai ter que aprimorar novamente as suas técnicas para conseguir prender esses sujeitos. Esse é um processo longo, e a gente está vendo mais uma etapa desse processo, que é um processo longo”, diz Alcadipani.

Cracolândia se dispersa e usuários ocupam outros locais do Centro de SP

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Fonte: G1

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