Professora trans supera bullying e se torna referência na educação em SP: ‘acolher e respeitar

Trabalhando há mais de dez anos em São Vicente (SP), Paloma Mello é referência para a comunidade LGBTQIA+ por sua profissão, e fala sobre assunto nesta terça-feira (15), Dia da Escola.


Paloma Mello, de 44 anos, é uma mulher transexual e trabalha na área da educação de São Vicente — Foto: Divulgação/Prefeitura de São Vicente

Paloma Mello, de 44 anos, é uma mulher transexual e trabalha na área da educação de São Vicente — Foto: Divulgação/Prefeitura de São Vicente

A professora Paloma Mello, de 44 anos, é uma mulher transexual que atua na rede municipal de ensino de São Vicente, no litoral de São Paulo. Em entrevista ao g1 nesta terça-feira (15), data em que se comemora o Dia da Escola, ela falou sobre a importância da educação e da inclusão nas instituições de ensino para garantir oportunidades a pessoas transexuais.

“Na época em que eu era adolescente, mulheres trans só tinham a possibilidade de serem cabeleireiras ou, exatamente pela falta de oportunidade, serem garotas de programa. Até que, com 17 anos, eu tive a possibilidade de ingressar em uma escola de Ensino Médio e Técnico por vestibulinho, que pagava uma bolsa de salário mínimo. Então, ali foi a porta que se abriu, e a maneira que tive de me custear para estudar. Aí se vê a importância das políticas públicas para jovens em vulnerabilidade. Depois dos estudos, já prestei concurso e passei para professora”, afirma.

Exercendo a profissão no país que lidera o ranking mundial de homicídios na comunidade transexual, a educadora já mudou a vida de diversos alunos, com uma didática voltada à inclusão. Paloma já atuou na área de Educação Especial, dando assistência a crianças e adolescentes com transtornos mentais, transtorno do espectro autista (TEA), déficit cognitivo e paralisia cerebral. Atualmente, trabalha na Secretaria de Cultura, Esportes e Cidadania.

Professora trans fala sobre a importância da educação para a inclusão — Foto: Arquivo Pessoal

Professora trans fala sobre a importância da educação para a inclusão — Foto: Arquivo Pessoal

Apesar da conquista, Paloma conta que superou muitos desafios para alcançar a posição na carreira. Inclusive, antes de fazer o curso técnico, havia parado de estudar por alguns anos, devido ao bullying que sofria por ser uma menina transexual. “Eu fui, ao longo da minha vida, de certa forma, tentando apagar esses olhares das pessoas, mas não foi fácil, e não é até hoje, porque sempre há uma pessoa que olha e fala ‘esse não é o seu lugar'”, afirma. https://852a4c3b599c660159e9f7dbdc54b31a.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html

Além de ter feito diferença para os estudantes, a posição profissional de Paloma se tornou referência para a comunidade transexual e travesti da região. Hoje, ela trabalha pautas inclusivas, juntamente com o governo municipal, e destaca a importância de gestores públicos darem oportunidade a pessoas transexuais nesses cargos.

“Não estou no cargo apenas por ser uma mulher trans, mas também por minhas capacidades e estudo. Digo isso porque muitos tentam desvaler nossas capacidades. E eu ainda sou uma, há milhões que não têm essa oportunidade, então, é muito pouco. Mas, quando estou nesse lugar, eu represento todas elas, dizendo ‘há espaço para você aqui, esse lugar também é seu’. É representatividade. Hoje, no lugar que ocupo, falo sobre o direito de muitos, e acabo ‘gritando’ por todas essas causas”, afirma.

Professora fala sobre a importância da educação para garantir direitos e oportunidades às pessoas transexuais — Foto: Divulgação/Prefeitura de São Vicente

Professora fala sobre a importância da educação para garantir direitos e oportunidades às pessoas transexuais — Foto: Divulgação/Prefeitura de São Vicente https://852a4c3b599c660159e9f7dbdc54b31a.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html

Inclusão e informação

Atualmente, Paloma cursa mestrado voltado à inclusão da comunidade LGBTQI +, e relata que, mesmo estando na área educacional por mais de 20 anos, e vendo avanços na pauta, há muitas coisas que precisam melhorar quando se fala da inclusão dessas pessoas.

“As instituições de ensino e as políticas públicas devem ser voltadas à inclusão, acolhimento e respeito. A educação no país ainda tem resquícios da divisão de classes, o que faz com que pessoas trans ainda desviem do caminho escolar. A lei garante que temos que fazer de tudo para a permanência do aluno, e as escolas precisam dialogar sobre isso. É preciso dar oportunidades para esses grupos minoritários, com oportunidades de emprego, estágios e cursos. Só assim irão poder mostrar seus talentos, que são muitos. Apenas são desperdiçados, por ser uma população que não é vista”, finaliza.

Fonte: G1

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