Após atingir recorde, transmissão de Covid-19 começa a desacelerar na cidade de SP

Apesar da melhora, pesquisador afirma que casos ainda estão em alta e pressão no sistema de saúde deve continuar nas próximas semanas.


Pedestre passa por cartaz que pede prevenção contra o coronavírus, no Centro de São Paulo, em 2021 — Foto: Suamy Beydoun/Estadão Conteúdo

Pedestre passa por cartaz que pede prevenção contra o coronavírus, no Centro de São Paulo, em 2021 — Foto: Suamy Beydoun/Estadão Conteúdo

Após atingir o maior valor desde o início da pandemia na semana passada, a taxa de transmissão de Covid-19 começou a desacelerar na cidade de São Paulo, segundo análise de pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Estadual Paulista (Unesp) feita por meio da ferramenta Info Tracker, que calcula a evolução da pandemia nos municípios que concentram mais casos e mortes por coronavírus no estado.

Apesar da melhora no indicador, especialista afirma que os novos casos ainda devem crescer nos próximos dias, embora em ritmo menor, e que a pressão no sistema de saúde deve continuar intensa nas próximas semanas devido ao avanço da variante ômicron (veja outros indicadores abaixo).

Nesta segunda-feira (31), a taxa de transmissão é de 1,80 na capital paulista. O valor é menor do que o registrado no sábado (29), de 1,81. Com base nos dados atuais, os pesquisadores projetam que a taxa deve cair para 1,79 até esta quinta (3 de fevereiro).

Taxa de transmissão da Covid-19 na cidade de São Paulo, segundo a ferramenta Info Tracker. — Foto: Reprodução/TV Globo

Taxa de transmissão da Covid-19 na cidade de São Paulo, segundo a ferramenta Info Tracker. — Foto: Reprodução/TV Globo

Simbolizado pela sigla RT, o “ritmo de contágio” é um número que traduz o potencial de propagação de uma doença: quando ele é superior a 1, cada infectado transmite para mais de uma pessoa, e a doença avança. Quando é menor do que 1, a contaminação recua.

Na prática, a taxa de 1,8 significa que cada 100 pessoas infectadas transmitem o vírus para outras 180.

Na semana passada, quando a capital atingiu o pior valor de RT desde o início da pandemia, a tendência era de aceleração. Mas, segundo o professor da Unesp e coordenador do Info Tracker, Wallace Casaca, a taxa de contágio se estabilizou nos últimos três dias.

“A gente observa uma estabilidade em relação ao índice. Ele parou de acelerar e agora está em uma leve tendência de início de declínio. Se continuar como está, em duas ou três semanas já poderá apresentar redução significativa no número de novos casos”, diz Casaca.

A desaceleração da taxa não implica, no entanto, uma queda imediata de novos casos e mortes. Para o pesquisador, o pico de mortes provocadas pela variante ômicron em São Paulo deve ocorrer em fevereiro.

“A taxa ainda está acima de 1, e isso significa que ainda teremos uma explosão de novos casos. As duas próximas semanas ainda serão bem duras de pressão para o sistema de saúde. Os óbitos também estão aumentando. O pico de mortes da ômicron em São Paulo deve ser em fevereiro.”

Teste de Covid 19 em posto de saúde na cidade de São Paulo — Foto:  ALLISON SALES/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

Teste de Covid 19 em posto de saúde na cidade de São Paulo — Foto: ALLISON SALES/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

O pesquisador alerta que a projeção é feita com base nas informações disponíveis no momento e que mudanças de políticas públicas e no comportamento da população podem afetar diretamente a evolução da taxa.

“São cenários de acordo com os parâmetros que temos hoje. Se as pessoas começarem a não usar máscaras, se cair o ritmo da vacinação, se festas de grande porte forem liberadas, isso pode causar uma distorção dos dados. Por outro lado, se os governos resolvessem endurecer um pouco mais as medidas de restrição, também ajudaria a ter um recrudescimento mais rápido.”

Segundo Casaca, ainda é cedo para dizer com certeza que o pior momento da ômicron na cidade já passou, uma vez que há limitação de testagem da população. No dia 15 de janeiro, a Secretaria Municipal da Saúde passou a orientar as unidades de saúde a testar para Covid-19, prioritariamente, as pessoas do grupo de risco da doença.

Para o público geral, a orientação é para que os médicos façam o diagnóstico de forma clínica, ou seja, avaliando os sintomas sem o auxílio do exame laboratorial. Esta nova política pode ter afetado os dados de novos casos na capital.

“Embora sejam os dados oficiais, as políticas que limitam o teste vão impactar na avaliação. De fato, está caindo, mas isso pode ser impacto também de não ter mais teste disponível. A oferta não consegue contemplar a demanda e isso tem que ser ponderado.”

Segundo o Info Tracker, a taxa de transmissão da capital está menor do que a do estado, que nesta segunda é de 1,88.

“São Paulo foi a primeira cidade acometida pela ômicron no estado, e é um hub que espalha o vírus. Faz sentido, então, que comece a ter a queda primeiro. A gente já começa a observar algumas cidades do interior e Grande SP com tendência de redução, mas a grande maioria ainda está em ascensão. E isso faz com que o estado, como um todo, suba”, completou Casaca.

Redução de casos

Fila nesta quarta-feira (5) no pronto socorro do Hospital São Camilo, na Zona Oeste de São Paulo. — Foto: CESAR CONVENTI/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO

Fila nesta quarta-feira (5) no pronto socorro do Hospital São Camilo, na Zona Oeste de São Paulo. — Foto: CESAR CONVENTI/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO

O número de casos é um dos indicadores que mais apresentou queda na cidade de São Paulo nos últimos dias. No entanto, essa redução nos casos confirmados pode ser reflexo da nova política de testagem nos serviços de saúde municipais.

São Paulo muda protocolo para testagem de casos de síndrome gripal

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O início da nova política de testagem coincide com a queda no número de casos na cidade. Segundo dados da Prefeitura de São Paulo, o pico de novos casos confirmados ocorreu em 13 de janeiro, quando a média móvel foi de 8.356 novos registros diários.

Logo depois, a prefeitura passou a utilizar os testes de antígeno prioritariamente em pacientes do grupo de risco para Covid-19, e o número passou a cair diariamente. Na última sexta (28), a média móvel de novos casos chegou a 3.314 registros diários na capital.

Exame de coronavírus do tipo antígeno de paciente positivo para COVID-19 na UBS Humaitá, bairro da Bela Vista, região central da cidade de São Paulo, na manhã desta quarta-feira 12   — Foto: SUAMY BEYDOUN/AGIF - AGÊNCIA DE FOTOGRAFIA/ESTADÃO CONTEÚDO

Exame de coronavírus do tipo antígeno de paciente positivo para COVID-19 na UBS Humaitá, bairro da Bela Vista, região central da cidade de São Paulo, na manhã desta quarta-feira 12 — Foto: SUAMY BEYDOUN/AGIF – AGÊNCIA DE FOTOGRAFIA/ESTADÃO CONTEÚDO

Questionada se a política de testagem dos serviços municipais afetou os dados de casos, a Prefeitura de São Paulo respondeu que realiza testagem em grupos específicos apenas para o Teste Rápido Antígeno (TRA).

“Os testes RT-PCR seguem sendo realizados normalmente, pois a pasta mantém contratos permanentes com laboratórios parceiros”, disse a administração municipal, em nota.

A Secretaria da Saúde da capital afirmou ainda que a política de usar testes de antígeno na população de risco deve ser mantida.

“No último dia 24, a capital recebeu 350 mil testes rápidos de Covid-19, que seguirão sendo usados em cidadãos que integrem grupos específicos, considerados em condições de risco (pessoas não vacinadas ou com apenas uma dose de vacina, gestantes e puérperas, indivíduos com comorbidades a critério médico, profissionais de saúde e população em situação de rua)”, disse, em nota.

Para além do número de casos confirmados, a prefeitura afirmou ainda que houve uma redução na procura por atendimento nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), nas Assistências Médicas Ambulatoriais (AMAs), nos Pronto Atendimentos (PAs) e nos Prontos-socorros (PSs) da capital.

Na primeira quinzena de janeiro foram realizados 162.612 atendimentos a pessoas com sintomas respiratórios, sendo 98.759 suspeitos de Covid-19, nessas unidades.

Já na segunda quinzena de janeiro, foram realizados 122.566 atendimentos a pessoas com sintomas respiratórios, sendo 66.747 suspeitos de Covid-19. O número representa uma queda de 25% na procura de pessoas com sintomas, e 32% no total de casos suspeitos.

Fonte: G1

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