Falta de dieta líquida deixa pacientes graves sem alimentação por mais de 24 horas no Hospital São Paulo, na Zona Sul

Funcionários e pacientes também denunciam falta de medicamentos básicos e para doenças graves como câncer, além de adiamento de cirurgias por ausência de insumos.


Familiares e pacientes reclamam de falta de insumos no Hospital SP

Familiares e pacientes reclamam de falta de insumos no Hospital SP

Funcionários e familiares de pacientes internados no Hospital São Paulo (HSP), na Vila Clementino, Zona Sul da capital paulista, denunciam que a unidade está sem nutrição líquida para alimentar cerca de 100 pacientes.

Eles fizeram um protesto na tarde desta terça-feira (7) na porta da unidade, exibindo cartazes contra a falta de insumos básicos no hospital, que é ligado à Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), de responsabilidade do governo federal.

Funcionários, que não querem se identificar por medo de retaliações, contam que as dietas começaram a faltar no fim do mês passado e que a diretoria foi avisada várias vezes. https://tpc.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html

A situação só não ficou pior porque chegaram doações. Mas elas acabaram já nesta segunda-feira (6), e o estoque está completamente vazio, conforme imagens obtidas com exclusividade pelo SP2.

“Esse é o nosso estoque central de dietas enterais do hospital e está zerado. Não temos o que servir para os pacientes que estão recebendo terapia nutricional, tanto por sonda quanto por suplementação via oral”, disse um funcionário que gravou o estoque do hospital.

Geladeiras vazias do Hospital São Paulo, sem a alimentação necessária para pacientes em UTI. — Foto: Reprodução/TV Globo

Geladeiras vazias do Hospital São Paulo, sem a alimentação necessária para pacientes em UTI. — Foto: Reprodução/TV Globo

A dona de casa Aline Alves de Amorim Rbeiro foi avisada na própria segunda (6) que o filho de 26 anos estava sem a nutrição líquida de que precisa. https://f242735d1db8a9ad0fdf858409c81674.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html

Só no fim da tarde desta terça (7), depois de mais de 24 horas em jejum, ele recebeu a alimentação. Aline afirma que não sabe como serão os próximos dias.

“Meu filho está desde o dia 3 de dezembro agora, sexta-feira, internado. Ele está com um quadro de pneumonia. E ele é deficiente físico e precisa [de dieta líquida]. Ele tem uma sonda gástrica e precisa ser alimentado por sonda”, afirmou.

Tratamentos prejudicados

Outro empregado que não quis se identificar afirma que a falta de insumos prejudica a recuperação dos pacientes, inclusive dos que recebem nutrição sólida, mas precisam de suplementação, item que também está em falta.

“Desde as 9h de ontem, do dia 6, até o dia de hoje, no momento em que está sendo gravada essa entrevista, todos os pacientes que precisam de nutrição enteral estão em jejum absoluto”, afirmou.

“E aos demais pacientes, que precisam de suplementação via oral, para recuperar o seu estado nutricional, para manutenção do estado nutricional, o hospital também não está ofertando os suplementos necessários”, completou.

O SP2 teve acesso ao prontuário de um paciente em que foi anotado “ok” para a dieta das 9h da manhã. Daí em diante, só há três anotações sobre a alimentação, dizendo “não entregou” e “não veio”. https://f242735d1db8a9ad0fdf858409c81674.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html

Nutricionistas da unidade enviaram uma carta ao Conselho Regional de Nutrição informando que há “subnutrição dos pacientes da enfermaria e da UTI”. O grupo também pede orientações.

Nutricionistas dos Hospital São Paulo denunciam situação da unidade ao Conselho Regional de Nutrição. — Foto: Reprodução/TV Globo

Nutricionistas dos Hospital São Paulo denunciam situação da unidade ao Conselho Regional de Nutrição. — Foto: Reprodução/TV Globo

Falta de medicamentos

Os funcionários do Hospital São Paulo relatam também um problema crônico de falta de medicamentos na unidade de saúde.

Na lista, estão antibióticos, remédios para enjoo, para a circulação e também medicamentos para tratar doenças graves, como o câncer.

O remédio que Maria Aparecida usa é um dos que estão em falta, segundo uma lista no quadro da farmácia da quimioterapia.

Ela e o marido, Benedito Aparecido Mendonça – os dois aposentados – tiveram que comprar o “cloridrato de irinotecano” para não precisar interromper o tratamento. A caixa custa mais de R$ 300. https://tpc.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html

“Quando falta, a gente compra e faz a doação pro hospital. Se for pra comprar muitos meses, a gente vai ter que parar com a quimioterapia porque a gente não pode comprar sempre”, afirmou Benedito.

Há 26 dias, o André Faustino de Souza testemunha os problemas do hospital. A irmã dele está internada com doença de Crohm e não fez cirurgia até agora justamente porque faltam insumos.

“Pra você ter uma ideia, remédio me pediram para comprar hoje. Eu tive que comprar Buscopan para ela, Noduporan, o leite dela… Acabei de comprar ali na farmácia”, afirmou.

Fachada do Hospital São Paulo (HSP) na Vila Clementino, Zona Sul de São Paulo — Foto: Divulgação

Fachada do Hospital São Paulo (HSP) na Vila Clementino, Zona Sul de São Paulo — Foto: Divulgação

O que diz o hospital

A produção do SP2 pediu entrevista com a direção do hospital, mas os responsáveis preferiram responder em uma nota.

Eles disseram que a unidade tem recebido mais pacientes graves e que aumentou a demanda por dietas especiais, mas que o estoque foi normalizado nesta terça (7).

A nota também afirmou que o hospital passa por dificuldades devido aos aumentos de preços, à inflação e à alta do dólar, o que impacta na compra de alguns insumos.

Um dos funcionários ouvidos pelo SP2 confirmou que chegaram novos alimentos, mas disse o material é suficiente somente até a manhã desta quarta (8) pela manhã.

O Ministério Público Federal e o estadual disseram não ter recebido nenhuma denúncia contra o Hospital São Paulo nos últimos dias.

Fonte: G1

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