Caso Marina Harkot: Ativistas levam bicicletas a fórum para protestar contra motorista que atropelou e matou ciclista em SP

‘Atropelar ciclista não é acidente’ e outras faixas foram exibidas por manifestantes nesta quarta (24) em frente a fórum onde empresário José Maria Júnior acompanhou 1ª audiência do caso de 2020. Ele responde em liberdade por homicídio, dirigir alcoolizado e fugir sem socorrer a vítima.


Manifestantes levaram bicicletas, faixas e cartazes para protestar contra o motorista que atropelou e matou a ciclista Marina Harkot há mais de um ano em São Paulo — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal/Movimento Pedale com Marina

Manifestantes levaram bicicletas, faixas e cartazes para protestar contra o motorista que atropelou e matou a ciclista Marina Harkot há mais de um ano em São Paulo — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal/Movimento Pedale com Marina

Manifestantes levaram bicicletas na tarde desta quarta-feira (24) para a frente do fórum em São Paulo onde o motorista acusado de atropelar e matar a ciclista Marina Harkot estava durante a primeira audiência do caso ocorrido há mais de um ano. Ela era socióloga, cicloativista e pesquisadora sobre mobilidade urbana. Sua morte repercutiu à época e gerou comoção nas redes sociais.

Essa etapa do processo, chamada de instrução, serve para a Justiça começar a decidir se o empresário José Maria da Costa Júnior, de 34 anos, deve ir a júri popular pela morte de Marina. Ele responde em liberdade ao crime de homicídio por dolo eventual, que é aquele no qual se assume o risco de matar. Também é acusado de dirigir sob efeito de álcool e fugir do local do atropelamento. https://tpc.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html

Nesta quarta, ciclistas que conheciam Marina protestaram na Avenida Doutor Abraão Ribeiro, em frente ao Fórum Criminal da Barra Funda. Além das bikes, levaram faixas e cartazes pedindo que a Justiça leve o atropelador a julgamento e que ele seja condenado. O grupo não pode entrar na audiência, que foi reservada apenas para a presença das partes do processo e à imprensa.

Manifestantes usaram bicicletas e faixa para protestar contra o motorista que atropelou e matou Marina Hakot — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal

Manifestantes usaram bicicletas e faixa para protestar contra o motorista que atropelou e matou Marina Hakot — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal

“Atropelar ciclista não é acidente” e “por que a rua não segue a velocidade das pessoas?” foram algumas das frases levadas por ativistas que participam do Movimento Pedale Como Marina, surgido após sua morte para dar seguimento a seus ideais de convivência pacífica entre ciclistas e veículos nas ruas. https://tpc.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html

Marina tinha 28 anos quando foi atingida pelo Hyundai Tucson dirigido por José Maria na madrugada de 8 de novembro de 2020. Ela voltava sozinha para casa. Pedalava pela Avenida Paulo VI, em Pinheiros. A morte dela foi confirmada no hospital.

De acordo com o Ministério Público (MP), o réu bebeu e dirigiu seu carro em alta velocidade. Dentro do veículo, levava um casal de amigos. O motorista teve a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) suspensa por determinação da Justiça. José Maria ainda está impedido de frequentar bares ou outros estabelecimentos que vendam bebida alcóolica.

Manifestantes protestaram em frente ao fórum onde atropelador acompanhava audiência do caso Marina Harkot — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal

Manifestantes protestaram em frente ao fórum onde atropelador acompanhava audiência do caso Marina Harkot — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal

O atropelador não parou o carro para socorrer a vítima e se apresentou à polícia dois dias depois. Ele ficou em silêncio na delegacia, mas em entrevista ao Fantástico alegou que não viu a ciclista e fugiu porque achou se tratar de um assalto. https://tpc.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html

“A gente não tinha noção do que pudesse ter acontecido. Da complexidade, se era um roubo, se era alguma coisa. Um assalto”, disse José Maria ao programa, no ano passado.

Audiência de instrução

Motorista José Maria fugiu após atropelar e matar a ciclista Marina Harkot em São Paulo — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal

Motorista José Maria fugiu após atropelar e matar a ciclista Marina Harkot em São Paulo — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal

Nesta quarta, o motorista José Maria compareceu à audiência acompanhado de seu advogado, José Miguel da Silva Júnior, mas não foi interrogado. O juiz Guilherme Eduardo Martins Kellne, da 5ª Vara do Júri, ainda marcará uma nova data para ouvi-lo e colher depoimentos de mais testemunhas.

Segundo a assessoria de imprensa do Tribunal de Justiça (TJ), nesta tarde ele ouviu depoimentos de cinco testemunhas: do marido de Marina e da policial militar e dos dois médicos que a socorreram. Não ficou definido quando a audiência será retomada para serem ouvidos os amigos do motorista que estavam com ele no carro e dois funcionários do estacionamento onde ele deixou o veículo após o atropelamento. https://tpc.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html

Se o magistrado entender que há indícios de crime contra o motorista, o réu será levado a júri popular por homicídio. O juiz então marcará uma data para ele ser julgado por sete jurados, que decidiriam se José Maria deve ser condenado ou absolvido. Em caso de condenação, ele pode receber 30 anos de prisão. O tempo da pena é estabelecido pela Justiça.

Pais e viúvo da ciclista

Claudia e Paulo, pais de Marina, homenageiam filha [foto atrás deles] no local onde ela foi atropelada e morta em São Paulo — Foto: Kleber Tomaz/g1

Claudia e Paulo, pais de Marina, homenageiam filha [foto atrás deles] no local onde ela foi atropelada e morta em São Paulo — Foto: Kleber Tomaz/g1

Para o oceanógrafo Paulo Garreta Harkot, de 61 anos, e a bióloga Maria Claudia Kohler, de 57 anos, pais de Marina, o motorista que a atropelou em São Paulo não cometeu um acidente, mas, sim, um assassinato (veja no vídeo acima). https://tpc.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html

“Brutal e desnecessário e estúpido atropelamento”, disse Paulo no início de novembro em entrevista ao g1. “Não é acidente, isso tem que ser punido. Atropelar ciclista não é acidente”, completou Claudia.

“Marina foi assassinada por um motorista bêbado em altíssima velocidade”, afirmou o jornalista Felipe Burato, de 39 anos, sobre a esposa.

Marina estudava maneiras de tornar o trânsito mais seguro e menos violento e, no entanto, se tornou mais uma vítima dele.

Vídeos e testemunhas, no entanto, reforçam a acusação do Ministério Público, feita pelo promotor Fernando Cesar Bolque, de que José Maria bebeu antes de dirigir e guiava em alta velocidade. Além de responder pelo crime de homicídio por dolo eventual, quando se assume o risco de matar.

“Não há uma prova material de que o José Maria tenha ingerido bebidas etílicas naquele dia”, rebateu José Miguel, advogado do empresário. Para o seu defensor, o crime deveria ser reclassificado como homicídio culposo, sem intenção de matar.

“A expectativa é muito alta em relação à audiência já que os fatos se deram há um ano. A ausência da Marina é sentida por todas e todos durante esse tempo todo e por não ter havido, ainda, a responsabilização do motorista, a angústia se torna maior”, falou a advogada Priscila Pamela Santos, que defende os interesses da família da vítima. “Ela se mostra essencial como resposta da sociedade que não aceita mais a utilização de veículos como armas e o privilégio dos carros em detrimento de vidas.” https://tpc.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html

“A gente quer justiça. Não que vá trazer nossa filha de volta, mas que sirva como exemplo de como não pode ser jamais, jamais a pessoa bêbada, em alta velocidade e que não socorre [a vítima de atropelamento]. Jamais pode acontecer”, falou Claudia.

Felipe Burato e Marina Harkot com suas bicicletas estacionadas no Minhocão, em São Paulo — Foto: Divulgação/Arquivo pessoal

Felipe Burato e Marina Harkot com suas bicicletas estacionadas no Minhocão, em São Paulo — Foto: Divulgação/Arquivo pessoal

As provas dos crimes

  • A investigação da Polícia Civil concluiu que José Maria tomou bebida alcoólica momentos antes de dirigir e atropelar Marina. Vídeos de um bar registram que ele estava bebendo (veja foto abaixo). A comanda do estabelecimento informa que o motorista bebeu uísque.
No detalhe: José Maria aparece em bar na Zona Oeste de São Paulo momentos antes de atropelar e matar Marina Harkot — Foto: Reprodução/Câmera de segurança

No detalhe: José Maria aparece em bar na Zona Oeste de São Paulo momentos antes de atropelar e matar Marina Harkot — Foto: Reprodução/Câmera de segurança https://tpc.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html

Câmera registra carro que atropelou ciclista na Zona Oeste de SP em alta velocidade

Câmera registra carro que atropelou ciclista na Zona Oeste de SP em alta velocidade

  • Além de fugir sem prestar socorro à ciclista, o empresário tentou limpar o Hyundai para não deixar provas do atropelamento. Vídeo de um estacionamento mostra José Maria guardando o automóvel, com o pára-brisa trincado. O veículo foi encontrado um dia depois pela polícia (veja abaixo).
Vídeo mostra motorista que atropelou e matou ciclista em SP chegando a estacionamento

Vídeo mostra motorista que atropelou e matou ciclista em SP chegando a estacionamento https://tpc.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html

  • Mais filmagens de um prédio mostram o motorista conversando com um casal de amigos que o acompanhava dentro do carro no momento em que atropelou a socióloga. Em uma das imagens, ele é visto rindo no elevador (assista abaixo).
Motorista bebeu antes de atropelar ciclista em SP

Motorista bebeu antes de atropelar ciclista em SP

Amigos acusados de omissão

Já os dois amigos que estavam com José Maria no carro no momento do atropelamento de Marina, foram acusados pelo MP de omissão de socorro. A estudante Isabela Serafim e o auxiliar de escrevente de cartório Guilherme Dias da Mota, ambos de 21 anos, respondem ao crime em liberdade, mas em outro processo, por decisão da Justiça.

A audiência deles ainda não foi marcada pela Vara do Juizado Especial Criminal, onde um juiz julga diretamente crimes de menor potencial ofensivo. Se houver condenação, a pena para o crime de omissão não ultrapassa dois anos de prisão. Neste caso, a punição costuma ser convertida em prestação de serviços à comunidade.

Quando falaram no 14º Distrito Policial (DP), em Pinheiros, Isabela e Guilherme confirmaram que o motorista havia bebido no bar e depois dirigiu. Os dois, no entanto, alegaram que também não viram o atropelamento.

O g1 não conseguiu localizar as defesas de José Maria, Isabela e Guilherme para comentarem o assunto até a última atualização desta reportagem.

1 ano do caso Marina Harkot

1 ano do caso Marina Harkot

Fonte: G1

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