Derrite recusa ajuda da PF e diz que execução de delegado Ruy será investigada só pelo governo de SP
Derrite recusa ajuda da PF e diz que execução de delegado Ruy será investigada só pelo governo de SP
Ministro da Justiça ofereceu apoio federal ao governador Tarcísio de Freitas. Secretário da Segurança, no entanto, afirmou que polícias estaduais têm ‘100% de capacidade’ para solucionar o caso.
Por Bervelin Albuquerque*, Rodrigo Rodrigues, g1 SP — São Paulo

Derrite recusa ajuda da PF e diz que morte do delegado Ruy Ferraz será investigada em SP
O secretário da Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite (PL), agradeceu e recusou o apoio oferecido pelo Ministério da Justiça para ajudar a esclarecer o assassinato do ex-delegado-geral de SP Ruy Ferraz Fontes e disse que as polícias estaduais estão mobilizadas para identificar e prender os assassinos envolvidos na execução.
A fala de Derrite foi dada na saída do velório do corpo de Ruy, na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), após ser indagado sobre o telefonema feito pelo ministro Ricardo Lewandowski ao governador Tarcísio de Freitas (Republicanos). O diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, também ofereceu apoio.
Dois suspeitos já foram identificados e será pedida a prisão temporária deles, informou o secretário nesta terça-feira (16). Ruy foi morto a tiros na segunda após perseguição em Praia Grande, no litoral paulista. Os criminosos fizeram ao menos 21 disparos de fuzil.
“Agradecemos o apoio da Polícia Federal, mas no momento todo o aparato do estado aqui é 100% capaz de dar a pronta resposta necessária. Tanto é que, em pouquíssimas horas, o primeiro indivíduo [ligado ao crime] já foi identificado e qualificado. Nós vamos continuar realizando esse trabalho”, afirmou.
“Nós temos diretamente envolvidos o DHPP, o DEIC. Os policiais estão nas ruas desde ontem [segunda], quando soubemos do assassinato. Eles não pararam de trabalhar e não vão parar de trabalhar”, disse Derrite.
Apesar da recusa na ajuda direta da PF nas investigações, o secretário da SSP paulista disse que o governo federal pode repassar informações que ajudem a prender os assassinos do ex-delegado geral, mas que esse trabalho será comandado pela Polícia Civil paulista.
“A Polícia Federal se colocou à disposição. Se eles tiverem alguma informação e quiserem colaborar, obviamente vai ser bem aceito. Nosso objetivo é prender os criminosos. Todos nós estamos desprovidos de eventual vaidade, porque nós somos policiais e polícia é um órgão de estado, não de governo. E eu confio 100% no trabalho da Polícia Civil do Estado de SP”, declarou.
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O secretário de Segurança Pública de SP, Guilherme Derrite (PL), e o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski. — Foto: Montagem/g1/Reprodução/TV Globo e Lula Marques/Agência Brasil
“Eu dou a certeza para todos vocês é que todos que cometeram esse crime vão pagar por isso”, completou.
“O crime organizado ataca a soberania. (…) Nós nos colocamos à disposição do estado, sobretudo no que diz respeito à Polícia Científica. Nós temos um banco de dados no que diz respeito a balística, DNA, informações, tudo isso nós colocamos à disposição, se necessário, do governo de São Paulo”, disse o ministro.
“É preciso que essas forças dialoguem entre si. O governo federal não tem nenhum interesse em ingerir nos Estados e municípios em termos de segurança pública (…). A criminalidade que tanto nos aflige não é só nacional. Ela precisa ser atacado de forma coordenada tanto internamente nos países como internacionalmente”, declarou.
Velório e enterro

Corpo do ex-delegado-geral da Polícia Civil paulista Ruy Ferraz Fontes chega à Alesp
O corpo do ex-delegado-geral da Polícia Civil paulista Ruy Ferraz Fontes, foi velado na Assembleia Legislativa e enterrado no Cemitério da Paz nesta terça-feira (16).
Entre os presentes no velório estava o secretário Derrite, deputados estaduais e federais, além do prefeito da capital, Ricardo Nunes (MDB), e vários integrantes do governo de São Paulo e da Polícia Civil. O governador Tarcísio não participou.
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Corpo de Ruy Ferraz chega à Alesp, em São Paulo, para velório público com presença de autoridades. — Foto: Bervelin Albuquerque/g1
O procurador-geral de Justiça de São Paulo, Paulo Sérgio de Oliveira e Costa, também compareceu às despedidas ao ex-delegado geral do estado.
Investigação
A investigação tem duas suspeitas principais para a motivação do crime:
- Vingança em razão da atuação histórica de Ruy Fontes contra os chefes do Primeiro Comando da Capital (PCC)
- Reação de criminosos contrariados pela atuação dele à frente de Secretaria de Administração da Prefeitura de Praia Grande.
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O ex-delegado geral da Polícia Civil de São Paulo Ruy Ferraz Fontes. — Foto: Divulgação/GESP
O governador Tarcísio de Freitas determinou mobilização total da polícia, com a criação de uma força-tarefa para identificar os assassinos.
“Estou estarrecido. É muita ousadia. Uma ação muito planejada, por tudo que me foi relatado. O delegado Ruy percebeu que estava sendo atacado, tentou escapar da emboscada, mas foi covardemente assassinado”, afirmou o governador.
A força-tarefa, segundo Tarcísio, envolverá o Deic e o DHPP, principalmente. Ambos os departamentos contam com policiais que têm muitos informantes no crime organizado e que podem ajudar a elucidar a execução de Ruy.
O ex-delegado-geral atuou há mais de 20 anos na prisão de Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, e no combate ao PCC no estado.
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Câmeras registraram execução
Câmeras de segurança gravaram o momento em que criminosos em um carro perseguem o veículo da vítima, que bate em um ônibus. Em seguida, o grupo desembarca do automóvel e atira em Ruy (veja vídeo nesta reportagem).

Delegado Ruy Ferraz Fontes é executado a tiros em Praia Grande, SP
“Estou em choque, fui o último a falar com ele [por telefone]”, disse ao g1 Marcio Christino, ex-promotor que atuou no combate à facção e seus chefes, no início dos anos 2000, com Ruy, que à época era delegado no Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), na capital paulista. Atualmente, Christino é procurador de Justiça.
Christino chegou a mencionar a atuação de Ruy como delegado contra o Primeiro Comando da Capital no livro “Laços de sangue: A história secreta do PCC”, que escreveu com o jornalista Claudio Tognolli. Foram mais de 40 anos como policial.
O ex-delegado-geral comandou a Polícia Civil paulista entre 2019 e 2022, quando foi indicado pelo então governador João Doria, à época no PSDB.
Ele também atuou no Departamento Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), no Departamento Estadual de Investigações contra Narcóticos (Denarc) e no Departamento de Polícia Judiciária da Capital (Decap).
“[Ruy] foi uma das pessoas que prenderam o Marcola ao longo da história do PCC, que esteve passo a passo nesse enfrentamento ao PCC, e ser executado dessa maneira. Isso mostra, infelizmente, o poderio do crime organizado, a falta de controle que o crime organizado tem dentro do Brasil, dentro do estado de São Paulo. É uma ação extremamente ousada”, disse Rafael Alcadipani, professor da Faculdade Getulio Vargas e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Formado em direito pela Faculdade de São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, Ruy se tornou delegado depois e começou a investigar o PCC no início dos anos 2000.
Quando esteva no Deic, participou das prisões de alguns dos chefes da facção, incluindo Marcola, por tráfico de drogas, formação de quadrilha e outros crimes relacionados ao grupo criminoso.

Ex-delegado-geral de SP é assassinado no litoral de SP
Em 2006, ele e sua equipe de policiais indiciaram Marcola e a cúpula do Primeiro Comando da Capital.
Segundo Christino, ele, Ruy e todas as autoridades, sejam elas do MP ou da polícia que atuaram no combate à facção, já foram ameaçadas antes pelo PCC. “Ele [Ruy], eu e todos que trabalharam naqueles casos, inclusive nos ataques de 2006.”
Criminosos fogem após executar o delegado Ruy Ferraz Fontes no litoral de São Paulo — Foto: Reprodução
Em 2006, ordens do PCC de dentro das cadeias determinaram uma série de ataques contra agentes de segurança pública devido à decisão do governo paulista de transferir as lideranças da facção, incluindo Marcola, para o presídio de segurança máxima de Presidente Venceslau, no interior do estado.
Indagado se Ruy lhe contou se estava recebendo ameaças recentemente, Christino respondeu que “não”.
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Infográfico – Dr. Ruy Ferraz é morto a tiros em praia Grande — Foto: Arte/g1
* Sob supervisão de Cíntia Acayaba