Dengue em SP: Nunes diz que calor fora de época retardou queda, mas espera diminuição de casos nas próximas semanas
Dengue em SP: Nunes diz que calor fora de época retardou queda, mas espera diminuição de casos nas próximas semanas
Doença abrange todos os distritos da cidade e já registrou 137 mortos. Em abril, prefeito disse que esperava queda a partir daquele mês, o que não ocorreu. Especialista ouvida pelo g1 explicou que o uso de testes rápidos e o baixo nível de diagnósticos clínico epidemiológicos resultam em uma subnotificação de casos.
Prefeito Ricardo Nunes em evento na prefeitura nesta sexta-feira (17) — Foto: Aline Freitas/g1
O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), que no início de abril chegou a afirmar que os casos de dengue começariam a cair após o fim do verão, disse nesta sexta-feira (17) que a queda foi retardada por conta das mudanças climáticas. Maio registrou as maiores temperaturas máximas da história na capital paulista, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).
“A questão da dengue, ela tem uma correlação muito forte com a questão climática. No calor ela vai produzir mais e no frio ela vai reduzir a sua condição”, disse. “Quando tem uma situação de alteração dessa situação, a gente estende [o platô] mais do que tinha previsto, mas isso deve, agora, começar a cair”, disse o prefeito ao g1, em evento para a assinatura da ordem de serviço que autoriza obras de melhorias em quatro hospitais municipais.
Nas primeiras semanas de maio, a temperatura da cidade ficou 7,1ºC acima da média, de 25,3ºC. No último dia 5, a capital registrou 32,8°C, a maior temperatura da história para o mês de maio.
Desde o início do ano, a cidade de São Paulo registrou, 335.563 casos confirmados e 619.487 notificados de dengue, segundo atualização do painel de monitoramento da doença administrado pela Secretaria Estadual da Saúde (SES).
O último boletim de arboviroses, publicado na segunda-feira (13), registrou – pela terceira semana seguida – que todos os 96 bairros da cidade seguem em situação de epidemia.
De acordo com Nunes e o secretário da Saúde, Luiz Carlos Zamarco, os casos da doença estão em platô, ou seja, a curva de crescimento está estabilizada. Segundo dados do boletim de arboviroses da capital, os casos registram uma média de crescimento estável de 32 mil por semana.
Tabela com o aumento de novos casos de dengue por semana epidemiológica — Foto: Reprodução/SMS
Subnotificações
Para a especialista Ana Ribeiro, médica epidemiologista do Hospital Emílio Ribas, o município passa por uma subnotificação de casos por conta da falta de diagnósticos clínico epidemiológicos e pelo uso dos testes rápidos.
“Existem dois critérios para confirmar [um caso de dengue], o laboratorial ou o clínico epidemiológico, que é quando você não tem o exame, mas o paciente mora em uma área que está tendo epidemia, então eu posso dizer que ele é dengue”, conta. “O que está acontecendo em São Paulo é que tem muito teste rápido. Ele dá negativo e o paciente, teoricamente, devia colher uma segunda amostra porque pode ser dengue. Só que esses casos acabam sendo descartados porque é difícil o paciente voltar para colher uma segunda amostra”, afirma.
Já o prefeito Ricardo Nunes nega que haja mais casos existentes do que os números divulgados pela Secretaria Municipal da Saúde (SMS), e ainda cita os testes rápidos como os responsáveis pela exatidão dos dados.
“Subnotificação na Cidade de São Paulo não tem, até porque é a única cidade que fez, com recursos próprios, a aquisição de 400 mil testes [rápidos] de dengue, que nós colocamos nas nossas 470 UBSs e UPAs. Portanto, em todos os equipamentos de saúde, a pessoa que estiver com suspeita de dengue vai poder fazer o teste”, disse. “A gente vai ter casos notificados maiores que os outros porque a gente tem o teste para fazer essa verificação”.
Para Ana Ribeiro, o número de notificados está mais perto da realidade do que os dados classificados como “confirmados”. Além da existência da subnotificação, ela também menciona o fechamento da investigação dos casos.
“Os confirmados são aqueles que já foram encerrados. Então, o que acontece é que tem muito caso em aberto e esse encerramento pode ser feito entre 30 e 60 dias”, explica. “Então, o certo seria fazer um ajuste nessas últimos semanas para estimar quantos casos têm, entendeu? Porque é natural que caia porque não teve o tempo ainda de encerrar todos os casos. Provavelmente tem muito caso para encerrar que não tá no sistema”.
Ela também cita o nowcasting – prática de prever o “agora” usada na pandemia para estimar os dados reais da doença – como uma alternativa para se ter a realidade traduzida em números.
Sobre os pontos levantados pela especialista, Nunes afirmou preferir confiar em seus próprios profissionais. “Com relação aos especialistas, eu prefiro ficar com os especialistas da Secretaria da Saúde do município de São Paulo, porque tem vários tipos de especialistas. Tem aquele que dá muito palpite e tem especialista que vive a realidade do povo todos os dias, quem está lá dando plantão, quem está acompanhando”.
Ribeiro, que trabalha toda semana com a doença no Hospital Emílio Ribas, afirma que, no seu dia a dia, a situação da dengue na capital continua grave. “Eu não percebo redução de casos. A gente ainda tem casos internando todo dia, né? Talvez quando de fato a temperatura cair, aí melhore”.
Combate à dengue
Segundo o prefeito, houve um aumento de 10 mil agentes de conscientização que vão nas casas para explicar quais cuidados ter para evitar o mosquito Aedes aegypti. Além disso, a prefeitura também investiu em 66 novos veículos usados na nebulização, compra de iscas com feromônios, aplicação de larvecida por drones.
“Colocamos R$ 200 milhões a mais, só para fazer as ações em relação à dengue”, afirmou. “A Prefeitura de São Paulo tem hoje, infelizmente, 137 óbitos. É menor, proporcionalmente, ao que tem no estado e no país, mas a gente lamenta muito e continuamos fazendo aquilo que é necessário. É uma pena só que o Ministério da Saúde sequer se dignou a manda as vacinas e [com isso] a gente teria hoje uma situação bastante diferente”, disse.
Atualmente, na cidade, a vacina é aplicada exclusivamente em crianças e adolescentes de 10 a 14 anos, público-alvo definido pelo Programa Nacional de Imunização, do Ministério da Saúde. Em outras cidades em que há sobra de doses, outras faixas etárias podem receber o imunizante.
Para a epidemiologista, as precauções para evitar o mosquito devem ser começar antes do verão – temporada em que a doença mais aparece – com o controle de locais que podem ser um possível criadouro do mosquito transmissor.
Ela cita, ainda, a iniciativa Wolbachia como alternativa. O método consiste em colocar o organismo estranho nos ovos do Aedes aegypti e liberar os mosquitos na cidade. A tendência é que eles se reproduzam e formem a maioria da população da espécie. A Wolbachia presente no organismo so mosquito reduz sua capacidade de infecção.
Cuidados contra a dengue
Como saber se você está com dengue e se é grave
Evite qualquer reservatório de água parada sem proteção em casa. O mosquito pode usar como criadouros grandes espaços, como caixas d’água e piscinas abertas, até pequenos objetos, como tampas de garrafa e vasos de planta.
Coloque areia no prato das plantas ou troque a água uma vez por semana. Mas não basta esvaziar o recipiente. É preciso esfregá-lo, para retirar os ovos do mosquito depositados na superfície da parede interna, pouco acima do nível da água. Isso vale para qualquer recipiente com água.
Pneus velhos devem ser furados e guardados com cobertura ou recolhidos pela limpeza pública. Garrafas pet e outros recipientes vazios também devem ser entregues à limpeza pública. Vasos e baldes vazios devem ser colocados de boca para baixo. Limpe diariamente as cubas de bebedouros de água mineral e de água comum. Seque as áreas que acumulem águas de chuva. Tampe as caixas d’água.
Fonte: G1