‘Perdi muito sangue, dor de cabeça muito forte, vou processar ele’, diz entregador de app que acusa morador dos Jardins de agressão


Entregador diz ter sido agredido por morador no Jardim Paulista — Foto: Arquivo pessoal

Entregador diz ter sido agredido por morador no Jardim Paulista — Foto: Arquivo pessoal

José Silva, entregador de comida por aplicativo, contou ao g1 que pretende processar o morador do Jardim Paulista, na Zona Oeste de São Paulo, a quem atribui uma agressão sofrida na noite da última quinta-feira (28). O homem não era cliente e estava na calçada com uma mulher antes da confusão.

“Perdi muito sangue no dia. Fui pro hospital e cheguei em casa quase de manhã. Perdi realmente muito sangue, fiquei umas quatro horas vazando sangue pelo nariz”, relembrou. José contou que registrou o boletim de ocorrência por lesão corporal na tarde desta segunda-feira (2).

“Tenho que processar ele porque, se não fizer isso, vai virar costume pegar um pobre e trabalhador na rua e fazer o que quiser e ficar por isso mesmo”, afirmou José, que tem 23 anos e atua no iFood desde 2021.

“O cara estava discutindo com a mulher dele. Antes de chegar nele, eu fiz o ‘plim plim’ da buzina da bike, ele olhou para mim com a cara feia, tipo para me intimidar. Não sei se ele entendeu que eu fiz, por exemplo, para a mulher dele ou se ele realmente estava irritado no momento e surtou”, disse.

“Eu falei: ‘Mano, você tá com a cara feia por quê?’ e saí, nem fiquei procurando assunto. Ele começou a me xingar, ofender minha família e mandou voltar. Nessa que eu voltei segurando a bicicleta, ele voltou correndo e já deu no meio da minha cara. Caí com a bicicleta no meio das pernas, ele subiu em cima da minha perna esquerda e começou a socar minha cabeça. Eu protegi a nuca.”

José disse que, quando conseguiu se afastar do suposto agressor, utilizou uma ferramenta para afugentar o homem: “Eu estava com a picareta [na bolsa]. Trabalho de servente de dia e vou pro aplicativo. Só puxei a picareta depois que ele me agrediu. Consegui me soltar, e ele voltou para trás, levantou as mãos e já queria conversar. Minha atitude foi legítima defesa.”

“Ele correu para dentro do prédio e, nessa, acabou acertando a porta de vidro. Ele correu pro apartamento dele, e eu não consegui mais ter acesso”, afirmou.

O entregador afirmou que teve o nariz quebrado com a agressão: “Estou aqui parado, em casa, sem trabalhar, por enquanto, porque eu estou com olho assim e estou com dor de cabeça muito forte devido à pancada”.

Entregador diz ter sido agredido por morador dos Jardins — Foto: Arquivo pessoal

Entregador diz ter sido agredido por morador dos Jardins — Foto: Arquivo pessoal

A síndica do prédio, Marcia Malheiros, afirmou anteriormente ao g1 que todo o tumulto entre o rapaz e o morador ocorreu do lado de fora do empreendimento, que não tem nenhuma relação com a agressão sofrida pelo entregador.

O rapaz gravou um vídeo, contou que havia sido agredido, e o registro foi parar nas redes sociais. Na tarde do dia seguinte, dezenas de entregadores foram ao local. Vidros do prédio foram quebrados, e um portão, derrubado (veja mais abaixo).

Segundo a síndica, os entregadores quebraram a porta de vidro. “Tivemos a porta da frente quebrada, os vidros. E ainda disseram que vão voltar”, contou ao g1. Os responsáveis pelo condomínio acionaram a Polícia Militar e afirmaram que vão registrar boletim de ocorrência. O sistema de câmeras de segurança deverá ser analisado.

Suporte do iFood

José Silva conta que acionou o suporte do iFood em 29 de setembro, um dia após o ocorrido, mas que não havia recebido uma resposta até esta segunda-feira (2). Ele chegou a procurar Fabricio Bloisi, presidente da empresa, pelas redes sociais.

“Mandei vídeos, áudio, foto, tudo. Perdi duas motos prestando serviço para o iFood, eu acionei o iFood e eles só finalizaram a corrida e ficou por isso mesmo. Tive que arcar com todos os prejuízos. Também procurei essa rede social dele [Bloisi] para poder mandar uma história melhor, para ele entender a situação”, explicou.

Em nota, o iFood informou que sempre orienta o entregador que é vítima de algum tipo de agressão, seja física ou verbal, a reportar imediatamente no app o caso detalhado.

“Para esses casos, o iFood oferece ao profissional a Central de Apoio Psicológico e Jurídico, um serviço em parceria com a organização global de advogadas negras, Black Sisters In Law, que disponibiliza uma advogada para acompanhar o caso de maneira personalizada e humanizada. A companhia oferece, ainda, um seguro pessoal que cobre exames e despesas médicas gratuitamente em rede credenciada”, diz o texto.

“No caso do entregador José, já entramos em contato com ele e oferecemos os serviços do seguro e da nossa Central de Apoio Psicológico e Jurídico, que foram aceitos pelo profissional”, completa.

“Eu que tô dançando na roda. Me matando de trabalhar, feito um escravo, lidando com um monte de prejuízo. Não sou um coitadinho, mas eu não saio na rua pra brigar com ninguém. Estava com dois pedidos. Finalizei um, já estava no foco do segundo, porque tem tempo para entregar”, disse José.

Entregador diz ter sido agredido por morador dos Jardins — Foto: Arquivo pessoal

Entregador diz ter sido agredido por morador dos Jardins — Foto: Arquivo pessoal

Colegas de app se revoltaram

A agressão que José diz ter sofrido na noite de quinta (28) causou indignação entre seus colegas de delivery. Na tarde da última sexta-feira (29), um grupo de entregadores depredou o prédio do morador, na Rua Peixoto Gomide. Um vídeo os mostra quebrando vidros e o portão do prédio. José não participou do ato.

Com o rosto ensanguentado, o rapaz gravou um vídeo e pediu ajuda a outros entregadores. O registro foi feito nas redes sociais: “Tô desde manhã trabalhando. Não mexo com ninguém. Passei na calçada, apertei a buzininha da bike. Aí o cara tava com a mina dele, olhou com a cara feia pra mim, tipo para falar: ‘Sou mais macho’, se aparecer pra mulher. Perguntei: ‘Mano, você tá com a cara feia por quê? Só apertei a buzina e passei.’

Entregador relata agressão de morador, motoboys se revoltam e depredam prédio em protesto

Entregador relata agressão de morador, motoboys se revoltam e depredam prédio em protesto

Ainda segundo o entregador, um grupo de motoboys e ciclistas o ajudou e conseguiu “evitar o pior”. Na sequência, ele convoca os colegas: “Espero que todo mundo apareça, porque isso não é certo”.

g1 conversou com uma advogada que já defendeu na Justiça o morador, mas não houve retorno com posicionamento até a última atualização desta reportagem.

Grupo de entregadores em frente ao prédio em SP — Foto: Reprodução

Grupo de entregadores em frente ao prédio em SP — Foto: Reprodução

A Secretaria da Segurança Pública informou que a Polícia Militar foi acionada para atender o caso.

“Por volta das 16h15, desta sexta-feira (28), na Rua Peixoto Gomide, informados de que cerca de 10 pessoas estavam danificando o portão de um condomínio. Assim que notaram a chegada da viatura, o grupo se dispersou. Até o momento, não foi localizado registro da ocorrência junto à Polícia Civil.”

Vídeo mostra homem derrubando portão de prédio em SP — Foto: Reprodução

Vídeo mostra homem derrubando portão de prédio em SP — Foto: Reprodução

JR Freitas, da Aliança Nacional dos Entregadores de aplicativos, afirma que o caso “é lamentável”, e que o tipo de violência contra a classe dos entregadores tem aumentado.

“Esse tipo violência é fruto de um preconceito contra nós, os entregadores. A violência só vem aumentando, parte da sociedade não gosta de conviver com nossa presença, mas não tem como evitar nossa presença. No fundo, nunca gostaram dos entregadores. Se agressões como essa não começarem a ser punidas com rigor pelo poder público, a tendência é só piorar. Muitas discussões começam porque, diversas vezes, os entregadores estão sempre com pressa. Então, quando o entregador se recusa a esperar por muito tempo, ou se recusa subir em um prédio, acaba soando como arrogância, mas cada minuto que se perde em uma entrega que deveria ser rápida impacta nos nossos ganhos no final do dia, e isso acaba ditando o que nossos filhos vão comer no dia seguinte.”

Vidros quebrados na entrada do prédio em SP — Foto: Reprodução

Vidros quebrados na entrada do prédio em SP — Foto: Reprodução

Fonte: G1

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