Brasileiras ‘presas’ no Peru após protestos
Brasileiras ‘presas’ no Peru após protestos bloquearem estradas relatam caminhada de 12 horas para fugir de atos violentos e pedem resgate aéreo
Moradoras da capital paulista estão em uma cidade do interior do Peru com transportes suspensos e sem aeroporto. Ruas estão vazias com o fechamento de comércios. Manifestações no país são contrárias ao governo interino que tomou posse após ex-presidente Pedro Castillo ser destituído.
Brasileiras no Peru não conseguem sair de cidade após protesto fechar estradas
As brasileiras Daniela de Oliveira e Alice Andrade Ribeiro Gonçalves, de 26 anos, estão sem conseguir sair da pequena cidade Andahuaylas, que fica no interior do Peru, após protestos contra a presidente Dina Boluarte fecharem as estradas e suspenderem todos os transportes.
Com barricadas pelas vias, comércios fechados e dinheiro acabando, as paulistanas pedem para que a Embaixada do Brasil possa resgatá-las do local para que consigam retornar a São Paulo.
“Fomos surpreendidas por essa situação política. Todas as estradas bloqueadas, todos os mercados estão fechados, como todos os restaurantes. Existe polícia com aval para atirar na rua. Situação é de medo e preocupação. Só queremos ir para a casa. Por via terrestre não tem como. Teria que nos resgatar com helicóptero para sair daqui. Se formos levadas para Lima ou até para a Bolívia, já íamos conseguir ir até o aeroporto e tentar voltar para o Brasil”, afirmam.
Em nota, o Itamaraty informou que “tem conhecimento do caso e vem prestando a assistência possível às nacionais, em conformidade com os tratados internacionais vigentes e com a legislação local. Cabe assinalar que as estradas que servem a localidade onde se encontram as brasileiras não apresentam, no momento, condições mínimas de segurança”.
“As representações diplomática e consulares do Brasil no Peru têm mantido coordenação com as autoridades peruanas e seguirão assistindo os brasileiros retidos em diferentes regiões daquele país. Os plantões consulares da Embaixada em Lima e do Vice-Consulado em Iquitos podem ser acionados, respectivamente, pelos seguintes números: +51 985 039 263 e + 51 916 489 802″, segue o comunicado.
E complementa: “A Embaixada em Lima tem emitido alertas, em seu sítio eletrônico e redes sociais, com orientações aos nacionais. Os alertas mais recentes, publicados em 4 e 12 de janeiro – este último sobre o novo fechamento do aeroporto em Cusco – , estão disponíveis nos seguintes links: <https://www.gov.br/mre/pt-br/assuntos/portal-consular/alertas%20e%20noticias/alertas/situacao-de-seguranca-no-peru> e <https://www.gov.br/mre/pt-br/embaixada-lima/noticias-avisos/alerta-fechamento-temporario-do-aeroporto-de-cusco-1>”.
“Em observância ao direito à privacidade e ao disposto na Lei de Acesso à Informação e no decreto 7.724/2012, informações detalhadas poderão ser repassadas somente mediante autorização dos envolvidos. Assim, o MRE não poderá fornecer dados específicos sobre casos individuais de assistência a cidadãos brasileiros”, encerra o comunicado.
Em nota à imprensa, o ministério recomenda ainda que “cidadãos brasileiros considerem adiar temporariamente visitas ao Peru que não sejam urgentes ou indispensáveis. Brasileiros que estejam no Peru ou tencionem viajar àquele país devem também manter-se informados sobre alertas para viajantes na página do serviço consular da Embaixada do Brasil em Lima e no Portal Consular, seguindo as recomendações ali expressas, em especial as que dizem respeito a cuidados a serem tomados em viagens e deslocamentos por via terrestre”.
Daniela e Alice chegaram dia 4 de janeiro no Peru, mas protestos impedem o retorno ao Brasil — Foto: Arquivo Pessoal
As manifestações estão acontecendo principalmente em cidades turísticas como Lima, Cusco, Arequipa e Puno. Os atos pedem novas eleições no país e a renúncia de Boluarte, que assumiu o poder após o ex-presidente Pedro Castillo ser preso por tentar um golpe de estado. Segundo registros oficiais, 48 pessoas já morreram.
As jovens contam que planejavam fazer mochilão pelo Peru e Bolívia durante o mês de janeiro. No dia 4 de janeiro as duas desembarcaram em Lima e tinham como plano ir para Machu Picchu, em Cusco, no dia 16. Depois, seguiriam para a Bolívia.
“Fomos forçadas a mudar nossa rota de Lima a Paracas ou qualquer outra cidade da província de Ica devido às greves. Fomos no dia 7 de janeiro para Ayacucho, um dos únicos destinos possíveis que se aproximavam do nosso destino real que era Cusco, para fugir desses atos. No entanto, Cusco se tornou um dos lugares mais afetados, além de ter sua principal atração, Machu Picchu, fechada”, diz Daniela.
Brasileiras no Peru mostram comércios fechados e barricadas durante manifestação
Daniela e Alice resolveram então, no dia 9 de janeiro, pegar uma van com peruanos que estava indo até Chincheros como forma de se afastar das áreas com manifestações.
“Mas em Chincheros encontramos a primeira barricada deixada pelos manifestantes e tivemos que fazer o restante do caminho a pé até Uripa. No dia 10 de janeiro, caminhamos de novo por 12 horas, com mochilas de 15 quilos cada, e chegamos onde estamos agora, em Andahuaylas. Decidimos vir pra cá ainda na esperança de chegar a Cusco, mas os atos vieram na mesma direção”, conta Daniela.
Ajuda
Manifestante fala com policiais em protesto em Lima, no Peru, em 12 de janeiro de 2023. — Foto: Sebastian Castañeda/ Reuters
As paulistanas dizem que receberam assistência do setor de turismo da cidade, do governo peruano, e estão em um hostel sem custo. Porém, a situação de atos violentos pelo país tem causado medo e elas pedem ajuda para a Embaixada do Brasil no Peru.
“Nossa passagem de volta está agendada para o dia 30 e ainda com saída na Bolívia. Mas queremos sair daqui o quanto antes. Planejamos essa viagem por um ano, mas o sonho se tornou pesadelo”.
O que causou os protestos?
Manifestação contra a presidente do Peru, Dina Boluarte, em 12 de janeiro de 2022 — Foto: Angela Ponce/Reuters
As manifestações começaram depois que o Congresso derrubou o presidente Pedro Castillo, no dia 7 de dezembro. Castillo foi preso e condenado a uma pena inicial de 18 meses.
Ainda quando era presidente, ele era investigado em diversos processos. Castillo, então, tentou dissolver o Congresso. Sem apoio do exército, do Judiciário e do Legislativo, ele foi derrubado e preso horas depois.
A vice-presidente, Dina Boluarte, assumiu o cargo.
O que está motivando os protestos?
Os manifestantes querem a renúncia de Boluarte, o fechamento do Congresso, uma nova Constituição e a libertação de Castillo. Também houve marchas que pedem o fim da agitação política.
Grupos de direitos humanos acusam as autoridades de usar armas de fogo contra os manifestantes e de usar helicópteros para jogar bombas de fumaça. O exército afirma que os manifestantes usaram armas e explosivos caseiros.
Em 10 de janeiro, a Procuradoria do Peru afirmou que começou a investigar Boluarte e pessoas do governo dela por “genocídio, homicídio qualificado e ferimentos sérios” relacionados à reação aos protestos.
O que está acontecendo nas manifestações?
Mulher passa debaixo de tronco de árvore em ponte interditada em Cusco pelos protestos que pedem renúncia da presidente do Peru, Dina Bolutarte, em 07 de janeiro de 2023. — Foto: Hugo Courotto/ Reuters
Os manifestantes bloquearam rodovias, incendiaram prédios e invadiram aeroportos. Isso implicou prejuízos de milhões de dólares e perda de receitas. Os bloqueios interromperam o comércio, suspenderam voos e trouxeram problemas para os turistas.
As forças de segurança responderam com violência e acabaram atacando civis que não estavam protestando.
A Comissão Interamericana de Direitos Humanos condenou a violência tanto das forças de segurança quanto dos manifestantes e pediu diálogo. Os manifestantes até agora se recusaram a dialogar com Boluarte.
Manifestantes com cartaz pedindo antecipação das eleições para 2023 no Peru, em Ica, em 6 de janeiro de 2023. — Foto: Martin Mejia/ AP
Fonte: G1