Saúde

Miss relata alívio após sofrer com a ‘Doença do Silicone’ em SP: ‘assustador’

Dores no corpo, cansaço, frio extremo, sudorese noturna, queda de cabelo, tremor e inchaço foram alguns dos sintomas sentidos pela jovem após ter silicones implantados nos seios.


Miss celebra alívio após explante das próteses de silicone — Foto: Arquivo Pessoal

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“Todos os médicos tentavam achar uma solução para o que eu tinha, mas não achavam. Foi assustador”. O relato é de Giovanna Coltro, de 24 anos, que é dentista e Miss Baixada Santista em 2022. A jovem sofreu da ‘Doença do Silicone‘, após implantar próteses mamárias, e confessa se sentir uma pessoa muito mais feliz, autêntica e saudável com a retirada do silicone.

Em entrevista ao g1, Giovanna relembra que começou a desejar se encaixar em um padrão de beleza ainda criança, influenciada pelas figuras femininas que via em desenhos e novelas. “Sempre foi uma questão pessoal, mas não foi algo meu. Foi por conta de uma pressão externa que a gente vive diariamente”, explica.

Aos 18, a jovem pediu um implante de silicone ao pai. A família achou melhor esperar um pouco, e ela realizou o então sonhado procedimento no dia 2 de julho de 2018, aos 21 anos. “Fiz por autoestima. Achava que era menos mulher do que gostariam que eu fosse”, conta.

Miss antes (à esq.) e depois (à dir.) do implante de silicone — Foto: Arquivo Pessoal

Miss antes (à esq.) e depois (à dir.) do implante de silicone — Foto: Arquivo Pessoal

“Quando coloquei silicone, era exatamente o padrão que queriam: loira do cabelo liso, ‘peitão’, cinturinha e quadril. E mesmo assim, nunca estava bom”, afirma.

A miss comenta que, no primeiro momento, ficou satisfeita com o resultado. Mas, não demorou muito para os problemas aparecerem. Um incômodo persistente, fadiga e cansaço foram os primeiros sintomas da ‘Doença do Silicone‘ que a jovem sentiu. Em pouco tempo, eles aumentaram e se intensificaram, a ponto de atrapalhar não apenas sua vida social, mas a profissional, já que, na época, ela estudava e trabalhava.

“Estava sempre me sentindo doente, cansada, exausta. Dormia mal, tinha sudorese noturna, dor no corpo, dor nas mãos e tremor. Sentia muito frio e precisava usar seis blusas em dias com temperaturas amenas para conseguir sair. Meu cabelo caía de encher a mão, e o rosto, bochecha, olhos e nariz incharam. Não tinha forças para nada. Foi assustador”, desabafa.

Giovanna Coltro antes (à esq.), durante (centro) e depois (à dir.) do silicone — Foto: Arquivo Pessoal

Giovanna Coltro antes (à esq.), durante (centro) e depois (à dir.) do silicone — Foto: Arquivo Pessoal

Busca pelo diagnóstico

Conforme relata, a jovem buscou atendimento médico, mas os profissionais que a atenderam inicialmente não conseguiam diagnosticar o que ela tinha. “Diziam ser ‘coisa da minha cabeça'”, conta. Giovanna ainda lembra que também passou em consultas com especialistas como psiquiatra, psicólogo, reumatologista e dermatologista, e que nenhum diagnóstico plausível para todos os seus sintomas era encontrado.

Frustrada e sofrendo com dores, a jovem tomou conhecimento da ‘Doença do Silicone‘ enquanto pesquisava na internet. Depois disso, buscou o cirurgião plástico que realizou seu implante. Vendo os sintomas dela, ele marcou a remoção das próteses para a mesma semana. Assim, pouco mais de três anos após a cirurgia, a jovem teve as próteses retiradas, no dia 3 de outubro de 2021.

“Quando tirou, as próteses estavam murchas. O ‘gel bleeding’ – que tinha visto na internet – era real. Parte do gel do silicone vazou e despejou metais pesados no meu organismo. Assim que tirei o silicone, os sintomas foram sumindo. Parou com a dor nas costas, o tremor, o inchaço”, conta.

Giovanna Coltro posa de cabelo curto e sem prótese mamária — Foto: Arquivo Pessoal

Giovanna Coltro posa de cabelo curto e sem prótese mamária — Foto: Arquivo Pessoal

Aliviada e sentindo um bem-estar que mal lembrava como era, a miss revela que decidiu optar por ser feliz, e não por se moldar aos padrões de beleza. Dessa forma, após o explante mamário, ela cortou o cabelo curto. “Resolvi ser a pessoa que eu sempre quis ser”.

Escolhas

Apesar do trauma, a miss diz que não é contra cirurgias plásticas, mas afirma ser contra a omissão da verdade. “Só depois que eu coloquei meu silicone me deram um livrinho dizendo que o gel poderia vazar. Por que não contaram antes?”, indaga.

“Fui refém da estética e da pressão da sociedade, e me arrependo muito, porque poderia ter evitado tanto sofrimento que eu passei. Agora, estou com minhas cicatrizes, que são a marca da minha história, para compartilhar a outras mulheres, para que não passem mais por isso”, diz.

Jovem guarda cicatrizes do explante como forma de marcar sua história — Foto: Arquivo Pessoal

Jovem guarda cicatrizes do explante como forma de marcar sua história — Foto: Arquivo Pessoal

Miss Baixada Santista cnb 2022

Apesar de ter nascido na capital paulista, a família de Giovanna tem apartamento em São Vicente, no litoral de São Paulo, há décadas, e ela frequenta a região desde pequena. A miss conta que foi convidada a representar a Baixada Santista justamente por ser próxima à cidade, e sempre visita-la.

A jovem lembra que entrou no “mundo miss” para melhorar a autoestima, e participou do primeiro concurso ainda na modalidade teen, aos 16 anos. Na época, ela tinha dificuldade para aceitar seu corpo, e buscava se encaixar em um padrão. Mas, se surpreendeu após a remoção dos silicones, porque a franquia de miss fez questão que ela participasse do concurso. “Mesmo ‘sem peito’ e com cabelo curto, eu posso ser uma miss. A questão não é só a beleza estética”, celebra.

Giovanna Coltro celebra título de Miss Baixada Santista cnb 2022 — Foto: Reprodução/Redes Sociais

Giovanna Coltro celebra título de Miss Baixada Santista cnb 2022 — Foto: Reprodução/Redes Sociais

‘Doença do Silicone’

O cirurgião plástico, mestre em Direito à Saúde e secretário nacional da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), Eugenio Gonzalez Cação, disse ao g1 que o termo ‘Doença do Silicone‘ se refere a um conjunto de sinais e sintomas causados pelo uso do silicone, apesar de não ser um termo técnico. Segundo o especialista, o termo qualifica várias patologias relacionadas ao uso de silicone em próteses ou líquidos injetáveis.

Conforme o especialista, na ‘Doença do Silicone’, podem ocorrer linfomas anaplásicos de células gigantes, uma reação tóxica do paciente pelo silicone, ou a contratura capsular, que é mais frequente. O cirurgião pontua que, em quadros mais brandos, o uso de corticoides resolve o quadro agudo, que poderá ou não reaparecer nos próximos anos. Já em reações mais intensas, a retirada do implante e da cápsula é indicada.

De acordo com Gonzalez, os sintomas mais comuns da condição são semelhantes aos de pacientes portadores de doença reumática (reumatismo). Portanto febre, fadiga, dores articulares e rigidez articular são indícios.

O cirurgião ainda explica que o ‘gel bleeding‘ é o extravasamento do silicone interno pelas camadas externas da prótese. Ele diz que a condição era mais frequente quando as próteses utilizadas eram lisas e com menos camadas. “Hoje, diminuímos muito este fenômeno, pois o silicone é mais espesso, e existem várias camadas externas nas próteses”, conclui.

Miss Baixada Santista cnb 2022 celebra explante dos silicones — Foto: Reprodução/Redes Sociais

Miss Baixada Santista cnb 2022 celebra explante dos silicones — Foto: Reprodução/Redes Sociais

Fonte: G1

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