Jovem acusa diretor de chantagem sexual para manter emprego em hospital de SP: ‘vida desabou’
Diretor de Saúde nega o crime e alega armação política para prejudicá-lo. Polícia Civil em Pedro de Toledo (SP) instaurou inquérito.
Funcionária diz que sofreu violência sexual de diretor de Saúde de Pedro de Toledo, SP — Foto: Arquivo Pessoal https://0e50c4775a3bfb1c39a4f6926bf24882.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html
A coordenadora de Saúde Priscila Lima, de 32 anos, registrou um boletim de ocorrência contra o diretor de Saúde Ranulfo Pereira, de Pedro de Toledo, no interior de São Paulo, alegando que foi vítima de violência sexual. De acordo com ela, seu então superior à época a levou para uma sala, tirou a calça e disse que “eram regras da casa”, para que mantivessem relação sexual. O diretor nega os fatos, e alega que trata-se de uma armação política para prejudicá-lo (leia mais abaixo).
Priscila afirma que foi trabalhar na cidade após a morte do ex-marido, que era médico e já trabalhou na região de Pedro de Toledo. “A minha vida desabou, tudo dele foi para inventário, e nossa pensão [dela e da filha] diminuiu muito”, diz. https://0e50c4775a3bfb1c39a4f6926bf24882.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html
Após o óbito dele, ela se viu em situação financeira difícil e, segundo conta, como fazia faculdade de medicina no Paraguai, resolveu tentar algum trabalho na área da Saúde no município, e contatou o prefeito. A conversa inicial foi referente à adoção de um cachorro, mas Priscila aproveitou para comentar que procurava trabalho durante a conversa. Segundo ela, o prefeito ofereceu um cargo na área de Saúde.
Ainda de acordo com Priscila, em dezembro do ano passado, foi à cidade fazer uma entrevista, e acabou contratada como coordenadora de Saúde, se mudando para Peruíbe – município vizinho a Pedro de Toledo – para começar no novo cargo. Em seguida, já passou a atuar na função.
Diretor falou em ‘regras da casa’
Porém, a profissional afirma que, no meio de fevereiro, no período da tarde, foi chamada pelo diretor de Saúde da cidade para uma sala do pronto-socorro. Conforme relata, assim que entrou, ele trancou a porta, tirou a roupa de baixo e disse “essas são as regras da casa, estou te dando boas-vindas”. https://0e50c4775a3bfb1c39a4f6926bf24882.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html
“Eu, sem entender nada, cedi, e tive relações sexuais com ele, porque precisava do serviço. Estava em uma situação difícil, e tenho uma filha para criar, pensei que precisava sustentar minha família. E aí, ele disse que sempre que ele quisesse, faria um sinal com a cabeça, e eu saberia e teria que esperar ele naquele sala, porque era assim que funcionava ali”, afirma.
Reveja abaixo a reportagem do Fantástico de dezembro de 2021 sobre as denúncias contra um professor universitário de abusos morais e sexuais:
Professor universitário é acusado de assédio sexual ao longo dos últimos quatorze anos
Antes de ser contratada
Ainda de acordo com Priscila, em janeiro, pouco antes de ser contratada, foi orientada a manter contato sobre o trabalho com o diretor de Saúde, por isso, mandou mensagens a ele perguntando da vaga. De acordo com ela, logo na primeira conversa, ele enviou um print de uma foto dela das redes sociais. https://0e50c4775a3bfb1c39a4f6926bf24882.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html
“Eu percebi que se tratava de um jogo sexual, e realmente conversei com ele, entrei no jogo, porque estava desesperada, precisando de um emprego”, diz. Ela também afirma que o diretor enviava mensagens fora do horário de trabalho, muitas vezes até de madrugada, e ela não gostava, e às vezes nem respondia.
“Um dia, ele voltou de viagem e fez sinal com a cabeça [para ir na salinha], e eu fiz sinal dizendo que não iria. Então, ele saiu e voltou, me demitindo na frente de todos os funcionários, sem nenhuma justificativa. Até aí, tudo bem, eu já queria pedir demissão pela situação, mas ele também passou a prejudicar minha imagem com os outros funcionários, dizendo que eu não tinha a documentação certa para o cargo, e que minhas roupas eram indecentes”, diz Priscila.
A profissional também relata que uma colega de trabalho chegou a concordar, em mensagem, que as roupas dela eram inapropriadas. “Eu sempre me vesti normalmente, super bem, não tinha nada demais, tenho fotos para comprovar. Depois de todo o ocorrido, relatei tudo ao prefeito, mas não tive resposta. Eu não teria porque mentir sobre isso e me expor dessa forma, e é muito difícil você ir contra o sistema”. https://0e50c4775a3bfb1c39a4f6926bf24882.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html
Dias após a demissão, a profissional compareceu à delegacia e registrou boletim de ocorrência contra o superior. Em nota, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) informou que o caso é investigado pela Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) de Peruíbe, que instaurou inquérito policial para apurar os crimes de violação sexual mediante fraude e assédio sexual. A investigação tramita em segredo de Justiça, por se tratar de crime sexual.
Profissional relatou que uma funcionária também disse que ela usava roupas ‘vulgares’ — Foto: Arquivo Pessoal
Defesa
Em nota, a Prefeitura de Pedro de Toledo informou ao g1 que a administração não recebeu qualquer denúncia sobre o assunto em questão, porém, ao tomar conhecimento informal sobre o fato – por meio das redes sociais -, o prefeito questionou o diretor de Saúde, por expediente próprio, e o mesmo se defendeu. https://0e50c4775a3bfb1c39a4f6926bf24882.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html
A prefeitura afirma que o diretor de Saúde negou os fatos a ele imputados, inclusive colocando seu celular à disposição da autoridade policial e da Justiça Criminal para ser periciado. Alegou que é vítima de uma armação política para prejudicá-lo, e que os prints expostos pela denunciante são parciais, mas que o conteúdo completo encontra-se sob seu poder, e será entregue à polícia em momento oportuno, o que demonstrará sua inocência.
A administração municipal também alega que, considerando que não existe qualquer denúncia formal contra o diretor de Saúde, e que a administração deve agir em respeito ao sacrossanto direito à ampla defesa, dentro do devido processo legal, garantidos os direitos constitucionais do contraditório e da ampla defesa, a administração entendeu por bem manter o diretor no cargo até que exista algo que de fato o desabone.
Fonte: G1