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Governo de SP admite que dados estaduais de casos de Covid-19 estão defasados e marca reunião técnica para rever números

Declaração ocorre após g1 relevar que governo paulista contabilizou, em janeiro, menos casos no estado inteiro do que a prefeitura registrou apenas na capital.


Teste de Covid 19 em posto de saúde na cidade de São Paulo. — Foto:  Allison Sales/Futura Press/Estadão Conteúdo

Teste de Covid 19 em posto de saúde na cidade de São Paulo. — Foto: Allison Sales/Futura Press/Estadão Conteúdo

Após o g1 revelar que o governo de São Paulo contabiliza menos casos novos de Covid-19 para todo o estado do que a prefeitura registra apenas na capital paulista, a Secretaria Estadual da Saúde admitiu nesta quinta-feira (20) que os dados do estado estão defasados.

O reconhecimento de que há problemas nas estatísticas estaduais foi feito pela diretora do Centro de Vigilância Epidemiológica (CVE), Tatiana Lang, em entrevista exclusiva ao g1.

A diretora da vigilância estadual declarou ainda que técnicos da área da Saúde vão se reunir na próxima segunda-feira (24) para tentar solucionar as discrepâncias entre os dados do estado e dos municípios, especialmente da capital.

Segundo Lang, uma mudança na base de dados da Prefeitura de São Paulo teria feito com que os técnicos do estado não consigam “enxergar” uma parte dos casos que são inseridos pela prefeitura.

Na semana passada, a pasta estadual disse que a divergência ocorria porque a prefeitura não estava seguindo critérios do Ministério da Saúde para classificação dos casos, o que foi contestado pelo município.

Nesta quinta, Lang elencou outras hipóteses para a discrepância, entre elas a continuidade do impacto do apagão de dados do Ministério da Saúde, atrasos na inserção de dados por parte dos outros municípios, e duplicidade de registros nas bases (leia mais sobre cada hipótese abaixo).

Estado tem menos casos do que capital

Entre os dias 1º e 19 de janeiro, o município de São Paulo notificou 96.932 casos de Covid-19. Já o governo paulista teve 67.413 casos notificados em todo o estado, no mesmo período, segundo tabela da Secretaria da Saúde, que utiliza os mesmos sistemas que a prefeitura da capital para a obtenção dos dados.

A comparação foi feita pelo g1 utilizando dados dos sistemas Sivep-Gripe e e-SUS Notifica, de acordo com a extração disponibilizada nos sites oficiais da Secretaria Municipal da Saúde da capital e da Secretaria Estadual da Saúde.

Pesquisadores afirmaram que as autoridades precisam esclarecer a razão de a capital ter mais registros do que o estado, uma vez que os números são registrados nas mesmas plataformas.

Mesmo considerando apenas os casos confirmados pela Prefeitura de São Paulo por critério laboratorial, ou seja, somente os registros com testes positivos para a Covid, a capital supera o estado em número de casos.

Mulher usando máscara de proteção facial passa diante de um cartaz com alerta sobre o coronavírus na região central de São Paulo, na manhã desta segunda-feira, 15 — Foto: NELSON ANTOINE/ESTADÃO CONTEÚDO

Mulher usando máscara de proteção facial passa diante de um cartaz com alerta sobre o coronavírus na região central de São Paulo, na manhã desta segunda-feira, 15 — Foto: NELSON ANTOINE/ESTADÃO CONTEÚDO

Foram 82.180 casos confirmados por critério laboratorial na capital, entre os dias 1º e 19 de janeiro. O número é maior do que o de casos confirmados pelo estado por todos os critérios possíveis (laboratorial, clínico, clínico-imagem, etc).

A comparação que utiliza apenas os casos confirmados por exame laboratorial no campo “Critério” reduz a implicação de eventuais reclassificações feitas pelo município. Isso porque a prefeitura reclassifica os casos em outro campo, chamado “Classificação Final da Covid-19 com reclassificação a partir dos resultados dos exames laboratoriais e sinais e sintomas”.

Hipóteses para discrepância

Em conversa com o g1 nesta quinta, a diretora da vigilância estadual reconheceu que os dados do estado de São Paulo estão “comprometidos” ao comentar que “são vários fatores que levam a um denominador comum”.

Questionada se o denominador comum em questão seria o fato de que os dados ainda estão defasados, Tatiana Lang respondeu: “Sim, por isso a gente leva em consideração os dados do Censo Covid [sistema estadual] de internação em UTI e enfermaria para as tomadas de decisão que nós estamos tendo neste momento”.

Segundo a servidora, o problema “não é só culpa do município” e tampouco é apenas culpa do estado. Por isso, na segunda-feira, uma equipe técnica de tecnologia vai se reunir para “reavaliar esses scripts” junto com técnicos da capital.

“Só assim eu vou poder te dar uma posição mais concreta”, completou Lang.

Pessoas aguardam atendimento no pronto-socorro municipal de Franca, interior de São Paulo, na tarde desta quarta-feira (5 de janeiro).  — Foto: Igor do Vale/Estadão Conteúdo

Pessoas aguardam atendimento no pronto-socorro municipal de Franca, interior de São Paulo, na tarde desta quarta-feira (5 de janeiro). — Foto: Igor do Vale/Estadão Conteúdo

Diversas hipóteses foram levantadas pela diretora para justificar a defasagem dos dados estaduais.

Uma delas foi um eventual atraso na inserção de dados por parte dos outros municípios, para além da Prefeitura de São Paulo.

“Nos outros 644 municípios que compõem o nosso estado, muitos dos municípios estão com fichas [de casos confirmados de Covid] paradas para digitar dentro do sistema, e a gente não consegue de fato enxergar esses dados”, disse Lang.

Outro fator apontado pela servidora foi a possibilidade de haver duplicidade de registros nas bases da prefeitura da capital. No entanto, a administração municipal já relatou que exclui os dados duplicados entre sistemas e também faz a higienização dos dados que são publicados.

Finalmente, uma hipótese citada pela servidora é a de que o apagão de dados do Ministério da Saúde ainda esteja impactando os dados do estado. Apesar disso, a Secretaria da Saúde do estado relatou à imprensa problemas causados pelo apagão apenas entre os dias 11 e 31 de dezembro de 2021 – ou seja, há mais de 20 dias a pasta não reporta dificuldades causadas pelas falhas do ministério.

Queda na proporção de SP

Paciente faz teste de detecção da Covid-19 na UBS Humaitá, bairro de Bela Vista, região central da cidade de São Paulo na manhã desta quarta-feira (12). — Foto: SUAMY BEYDOUN/AGIF/ESTADÃO CONTEÚDO

Paciente faz teste de detecção da Covid-19 na UBS Humaitá, bairro de Bela Vista, região central da cidade de São Paulo na manhã desta quarta-feira (12). — Foto: SUAMY BEYDOUN/AGIF/ESTADÃO CONTEÚDO

Além de notificar menos casos do que a capital, o estado também registrou, em janeiro, proporcionalmente menos casos novos de Covid-19 do que fazia antes do apagão de dados do Ministério da Saúde.

O mesmo não ocorreu com outros estados populosos. A queda na proporção dá indícios de que os dados divulgados atualmente pelo estado não mostram todos os casos de Covid registrados nos sistemas do SUS.

O único outro estado em que a mesma divergência foi verificada, entre os seis mais populosos do país, é a Bahia, que admitiu problemas na extração de dados dos sistemas do ministério em boletim epidemiológico.

Outros indicadores como aumento de internações, filas de espera em hospitais e alta procura de testes de Covid também indicam que o estado enfrenta uma nova explosão da contaminação.

Fonte: G1

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