PM com metralhadora entra em escola infantil em SP após pai reclamar de desenhos de matriz africana, afirma funcionária
PM com metralhadora entra em escola infantil em SP após pai reclamar de desenhos de matriz africana, afirma funcionária
Secretaria da Segurança Pública disse que Polícia Militar instaurou apuração sobre conduta da equipe que participou da ocorrência da Emei Antônio Bento, na Zona Oeste de SP.
Por Gustavo Honório, g1 SP — São Paulo

PMs vão à escola em SP com metralhadora após pai reclamar de desenhos de matriz africana
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Uma funcionária da Emei Antônio Bento, na Zona Oeste de São Paulo, afirma que 12 policiais militares armados, um deles com metralhadora, circularam pela escola após uma denúncia feita pelo pai de uma aluna. Segundo este pai, a escola estaria obrigando a criança a ter “aula de religião africana” por conta de um desenho com o nome “Iansã”.
Procurada pelo g1, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) informou que a Polícia Militar instaurou procedimento para investigar a conduta da equipe. A pasta diz que apenas quatro PMs da 2ª Cia do 16º BPM/M atuaram na ocorrência no interior da escola (veja a nota abaixo).
Segundo a testemunha, que preferiu não se identificar, a ação provocou constrangimento e medo entre funcionários e familiares de alunos. O caso teria acontecido na terça-feira (11), e a denúncia foi feita em um relatório assinado no dia seguinte.
A funcionária diz que foi coagida e interpelada pelos PMs por aproximadamente 20 minutos.
EMEI Antônio Bento, na Zona Oeste de SP — Foto: Reprodução/Google Street View
A SSP disse que a PM instaurou apuração sobre a conduta da equipe que atendeu à ocorrência, incluindo a análise das imagens das câmeras corporais dos policiais. “A Corregedoria da PM permanece à disposição para receber denúncias ou informações que possam contribuir com as investigações internas”, diz a nota.
“No âmbito da Polícia Civil, a servidora da unidade de ensino registrou boletim de ocorrência por ameaça envolvendo o pai da estudante, policial militar da ativa, que por sua vez também registrou ocorrência, negando a acusação de ter danificado um painel da escola ao retirar um desenho feito por sua filha. Diante dos registros, o 34º Distrito Policial (Vila Sônia) convidará a servidora para verificar seu interesse em formalizar representação criminal e colher seu depoimento sobre os fatos. Caso haja representação, será instaurado inquérito policial, e todos os envolvidos e testemunhas serão ouvidos para completo esclarecimento e eventual responsabilização no âmbito criminal”, completou a SSP.
A profissional afirma ter explicado aos policiais que a escola trabalha com o “currículo antirracista, documento oficial da rede”, e que apresenta às crianças elementos da cultura afro-brasileira.
“Quem assediou foi o próprio comandante de área da PM, lamentavelmente. O fato causou muita indignação em toda a região. O pai da aluna rasgou todos os desenhos que estavam no mural da escola, feitos pelos próprios alunos”, destacou a jornalista Ana Aragão, que representa a Rede Butantã, que congrega instituições e entidades da região.
Ana participou da elaboração de um abaixo-assinado em defesa da escola e dos profissionais da Emei Antônio Bento. No documento, moradores manifestam “integral e irrestrito apoio” ao corpo docente e funcionários e expressam “profunda preocupação e indignação” com o ocorrido.
A denúncia aponta que os agentes teriam orientado a comunidade escolar “de forma errônea e racista” ao classificar o trabalho pedagógico como inadequado. No texto, os moradores afirmam que a escola cumpre seu papel de promover diversidade cultural e formação cidadã.
“Repudiamos veementemente qualquer forma de intolerância religiosa, racismo ou discriminação, e defendemos o direito de todas as crianças a uma educação plural, inclusiva e livre de preconceitos”, diz documento.
O abaixo-assinado pede cinco medidas das autoridades, entre elas: apuração e responsabilização do pai que danificou materiais e acionou a PM; investigação da conduta dos policiais por possível abuso de autoridade e ações de formação sobre diversidade e combate ao racismo ao pai e aos policiais.
A funcionária da escola que diz ter sido coagida informou que toda a ação foi registrada pelas câmeras da escola e as imagens estão disponíveis para as autoridades.
O que diz a Secretaria Municipal da Educação
Em nota, a Secretaria Municipal da Educação afirmou que “o pai da estudante recebeu esclarecimento que o trabalho apresentado por sua filha integra uma produção coletiva do grupo. A atividade faz parte de propostas pedagógicas da escola, que tornam obrigatório o ensino de história e cultura afro-brasileira e indígena dentro do Currículo da Cidade de São Paulo”.
A pasta não se manifestou sobre a atuação da Polícia Militar dentro da unidade.
Fonte: G1

