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Ex-subprefeita presa por extorsão de comerciantes na Lapa ocupa cargo com salário de R$ 15 mil do PV na Câmara Municipal de SP

Por Rodrigo RodriguesPaulo Gomes, Walace Lara, g1 SP e TV Globo — São Paulo

A ex-subprefeita da Lapa Fernanda Maria de Lima Galdino, atual funcionária do PV na Câmara Municipal de São Paulo. Partido é liderado por Roberto Tripoli. — Foto: Montagem/g1/Reprodução/Redes Sociais/Alesp

A ex-subprefeita da Lapa Fernanda Maria de Lima Galdino, atual funcionária do PV na Câmara Municipal de São Paulo. Partido é liderado por Roberto Tripoli. — Foto: Montagem/g1/Reprodução/Redes Sociais/Alesp

A ex-subprefeita da Lapa Fernanda Maria de Lima Galdino, que foi presa preventivamente em 2022 acusada de extorsão de comerciantes, ocupa desde 2024 um cargo político na liderança do Partido Verde (PV) na Câmara de Vereadores de São Paulo.

Demitida da Prefeitura de SP na época do escândalo descoberto pelo Ministério Público, Galdino foi contratada em maio do ano passado e está lotada no gabinete da liderança do PV na Casa, que é composta por apenas um vereador: Roberto Trípoli, conhecido pela defesa dos animais domésticos.

Ela recebe R$ 15 mil por mês, mais o reembolso oferecido no auxílio-saúde da Câmara, que em agosto foi de R$ 3.405, totalizando mais de R$ 18 mil em ganhos no período.

g1 apurou com funcionários do próprio PV que Galdino não costuma aparecer no gabinete do partido no Palácio Anchieta, no Centro de SP, e poucas vezes foi vista no prédio desde o ano passado. O PV diz que ela faz um trabalho para o partido na periferia da Zona Leste.

Nas redes sociais, ela exibe fotos fazendo campanha no passado para o próprio vereador do PV e outros membros da família Tripoli que se aventuraram na política: Ricardo Tripoli, ex-deputado federal não reeleito, e Giovanna Tripoli, que tentou ser deputada estadual e não foi eleita.

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O que diz a ex-subprefeita e o PV

Em nota, a defesa de Fernanda Galdino afirmou que não há depoimento de testemunha que comprove a extorsão, e que ela será declarada inocente nos processos a que responde pela acusação de exigir propina de comerciantes da Lapa.

“O processo crime aberto em desfavor de Fernanda é um fiasco. Nenhuma testemunha ouvida em juízo, sob o crivo do contraditório, endossou qualquer ligação, autorização ou consentimento de Fernanda com os fatos descritos na denúncia, no sentido da prática da concussão. Ao contrário, as testemunhas ouvidas – e arroladas pela acusação – foram categóricas ao afirmar jamais terem visto ou presenciado qualquer pedido de propina para uso do espaço público”, disse o advogado Eduardo Samoel Fonseca, que defende a ex-subprefeita.

“Como o processo corre em segredo de Justiça, não se pode por ora revelar detalhadamente o teor de cada um dos depoimentos. Todavia, pode-se informar que se trata de um processo de natureza política e que buscou tirar Fernanda do calendário eleitoral – e isto tá mais do que claro”, completo (veja íntegra abaixo).

Procurado, o PV argumentou que ela ainda não foi julgada, e explicou que ela faz “um trabalho para o Partido Verde na periferia da Zona Leste”.

A audiência do caso pelo qual Fernanda foi presa preventivamente, na esfera penal, está marcada para 12 de novembro.

Já o inquérito civil do caso foi arquivado. Segundo a Promotoria, foi confirmada a exigência de propina a duas pessoas, mas as vítimas informaram que não fizeram o pagamento, o que descaracteriza o ato de improbidade administrativa por parte da ex-agente pública.

Fernanda Galdino exibe fotos nas redes sociais fazendo campanha para a família Tripoli, do PV. — Foto: Reprodução/Redes Sociais

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A prisão em 2022

Ex-subprefeita da Lapa vira ré em processo e é presa

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Em agosto de 2022, o Ministério Público (MP-SP) fez uma operação na Subprefeitura da Lapa e prendeu dois fiscais acusados de cobrar até R$ 30 mil para liberar alvarás de eventos como festas de rua e feiras temáticas, principalmente no bairro da Pompeia, na Zona Oeste.

Os presos da época foram o ex-coordenador Rogério Marin e Agnaldo Biasoli, que intermediava contatos de comerciantes com a Subprefeitura da Lapa. O esquema teria anuência da ex-subprefeita, segundo a denúncia que o MP apresentou na Justiça na época e que tornou Fernanda Galdino ré por extorsão e improbidade administrativa.

De acordo com a investigação, os alvarás só eram liberados após o pagamento da propina.

“As vítimas procuraram dando conta dessas exigências da impossibilidade da realização desses eventos e das dificuldades que vinham ocorrendo de uma forma sistemática na subprefeitura após a mudança da gestão que é recente, um ano e pouco para cá, e justamente após isso que começaram a aparecer os problemas”, afirmou na época o promotor Rodrigo Mansour Magalhães, do Grupo Especial de Atuação e Repressão Contra Crimes Econômicos, do MP-SP.

Coordenador de planejamento da subprefeitura da Lapa é preso por extorsão

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No curso das investigações, a ex-subprefeita foi presa preventivamente, mas ficou apenas uma semana detida, em setembro de 2022.

Segundo a denúncia do MP, Fernanda tinha um esquema com o seu coordenador de planejamento urbano na Subprefeitura, Rogério Marin, e o intermediário, Agnaldo Biasoli, em que exigiam propina para autorizar a realização dos eventos na área que ela comandava.

Fernanda e Rogério haviam sido exonerados dos cargos pelo prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), em 24 de agosto de 2022, um dia após a prisão do então coordenador de planejamento durante operação do Ministério Público, conforme noticiou a TV Globo. Naquela ocasião, Agnaldo também tinha sido detido.

Em nota, a Prefeitura de São Paulo informou à época que que colaborava com as investigações e que repudiava qualquer tipo de irregularidade e lamentava que servidores de carreira se envolveram em atos ilícitos.

O que dizem as partes

  • Nota da defesa de Fernanda Galdino

O processo crime aberto em desfavor de Fernanda é um fiasco. Nenhuma testemunha ouvida em juízo, sob o crivo do contraditório, endossou qualquer ligação, autorização ou consentimento de Fernanda com os fatos descritos na denúncia, no sentido da prática da concussão. Ao contrário, as testemunhas ouvidas – e arroladas pela acusação – foram categoricas ao afirmar jamais terem visto ou presenciado qualquer pedido de propina para uso do espaço público.

Como o processo corre em segredo de justiça, não se pode por ora revelar detalhadamente o teor de cada um dos depoimentos. Todavia, pode-se informar que se trata de um processo de natureza política e que buscou tirar Fernanda do calendário eleitoral – e isto tá mais do que claro.

Nesse sentido, Fernanda é inocente e assim será declarada ao término da instrução criminal, sendo que contra ela não pende nenhuma impedimento para assumir qualquer cargo público, por força do princípio máximo da presunção de inocência.

Além disso, Fernanda tem sua trajetória política voltada ao interesse público e social, com vasta experiência em gestão da coisa pública.

Eduardo Samoel Fonseca e Gilney Melo, advogados criminalistas e responsáveis pela defesa de Fernanda.

PV
“Foi processada mas não foi julgada e faz um trabalho para o Partido Verde na periferia da zona leste.”

Câmara
“Fernanda Maria de Lima Galdino é servidora do gabinete da liderança do PV. Ela foi admitida em 23/05/2024. O vencimento bruto dela em outubro de 2025 foi de R$ 15.063,87”

Fonte: G1

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