Prefeitura suspende programa Ruas Abertas na Avenida Paulista pela 2ª semana seguida e recebe críticas de urbanistas e comerciantes
Prefeitura suspende programa Ruas Abertas na Avenida Paulista pela 2ª semana seguida e recebe críticas de urbanistas e comerciantes
Subprefeitura da Sé – responsável pela região – justificou a liberação da via para os carros nesta semana para a realização do evento ‘Ladeira Abaixo’, uma corrida de carrinhos de rolimã patrocinada por uma empresa de energéticos, na Av. Brigadeiro Luiz Antonio.
Programa “Ruas Abertas” na Avenida Paulista é cancelado pela 2ª semana seguida pela prefeitura de SP. — Foto: Vivian Reis/G1
Pela segunda semana consecutiva, a Avenida Paulista, no Centro de São Paulo, deixou de ser opção de lazer para os moradores da capital paulista e não foi fechada para os carros neste domingo (16).
Por meio das redes sociais, a Subprefeitura da Sé – responsável pela região – justificou a liberação da via para os carros nesta semana em razão da realização do evento “Ladeira Abaixo”, uma corrida de carrinhos do tipo rolimã e patrocinada por uma empresa de energéticos, na Avenida. Brigadeiro Luiz Antonio, que cruza a Paulista.
No domingo passado (9), a interrupção do programa Ruas Abertas na Avenida Paulista ocorreu a pedido da Polícia Militar, em razão de uma pequena manifestação marcada por bolsonaristas na região.
Procurada, a Prefeitura de SP disse que o bloqueio da Avenida Paulista para os pedestres nesse domingo (16) foi informado aos munícipes por meio das redes sociais (leia mais abaixo).
A decisão da gestão Ricardo Nunes (MDB) de não liberar a via para o lazer dos paulistanos gerou críticas de urbanistas. O pesquisador de Políticas de Mobilidade Urbana, Daniel Guth, foi à Avenida Paulista neste domingo (16) para andar de bicicleta com os filhos e disse que foi surpreendido pela paulista aberta para os carros pela segunda semana seguida.
“É inacreditável o que está acontecendo. Muita gente como eu está aqui hoje e não sabia dessa decisão de cancelar o ‘’Ruas Abertas’ pela segunda semana. As calçadas estão cheias e quase não há espaço para andar. É uma das poucas políticas públicas não rodoviárias que deram certo em SP. Um programa consolidado, mas que está sendo esvaziado pela atual gestão”, afirmou Guth.
Movimentação de pedestres e ciclistas na Avenida Paulista durante domingo de via fechada para os carros e aberta para o lazer — Foto: Ettore Chiereguini/AGIF – Agência de Fotografia/Estadão Conteúdo
Diretor-executivo da Aliança Bike – uma associação que defende o fortalecimento do mercado de bicicletas no Brasil – Guth afirma que as justificativas dadas pela Prefeitura de SP para interromper o programa nas últimas semanas não fazem sentido em relação ao objetivo do “Ruas Abertas”.
“Quando você tem uma manifestação, manter a via fechada é melhor para todo mundo. Pros manifestantes, pros motoristas que não ficam no engarrafamento e tem uma coordenação de trânsito e pra quem usa a via pro lazer. Outras manifestações aconteceram nesses anos que não interromperam o programa. Hoje, o evento é só na Brigadeiro. Não tem razão de terem interrompido a Paulista toda”, disse.
O vendedor de açaí Janison Eduardo de Souza afirmou que a interrupção do lazer na região aos domingos prejudica, inclusive, as vendas do comércio.
“Quando tá fechada pros carros, a gente vende melhor. E é melhor pras pessoas circularem também. Hoje tá bem complicado pro pessoal circular. Atrapalha muito o fluxo e as pessoas estão muito em cima uma da outra”, afirmou.
O vendedor de açaí Janison Eduardo de Souza, na Avenida Paulista, neste domingo (16). — Foto: Reprodução/TV Globo
Criador do Programa ‘Ruas Abertas’ em 2016, durante a gestão do ex-prefeito Fernando Haddad (PT), o ex-secretário de Cultura Nabil Bonduki também criticou mais uma semana de interrupção do lazer na via.
“De novo, Nunes fecha a Paulista para as pessoas. Não existe razão para o prefeito descumprir a lei ‘Ruas Abertas’, que é de minha autoria e foi implementada por Haddad. Semana passada, a desculpa foi um ato em defesa do Bolsonaro. Hoje é um evento com carrinhos de rolimã, promovido por uma empresa privada. A Paulista aberta é um espaço para todas, todos e todes, quase uma unanimidade em SP. Ademais, hoje está prevista a Marcha da Maconha com m concentração no Masp. Um evento com pessoas. Por que permitir que os carros circulem pela Paulista?”, escreveu Bonduki nas redes sociais.
Critérios para cancelamento
O urbanista Fernando Túlio, conselheiro do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), afirma que os cancelamos do ‘Ruas Abertas’ na Paulista precisam obedecer a critérios bem estipulados, para não deixarem milhares de pessoas órfãs do que ele chama de “praia urbana” dos paulistanos.
“A gente tem uma carência de lazer e áreas livres em São Paulo para que as pessoas possam se divertir, praticar esportes, realizar manifestações culturais, entre outras coisas. O ‘Ruas Abertas’ é importante não só porque deu certo, mas porque é central para ampliar o acesso às áreas livres na cidade. Deveria ser feito em todas as subprefeituras, paralelamente a ampliação e criação de parques. Esses eventos que vêm ocorrendo na Paulista deixam milhares de pessoas sem a chance de vivenciar essa ‘praia urbana’”, afirmou.
“A gente entende que deve haver um conjunto de normas e procedimentos que somente em último caso se deixe de abrir a Paulista para as pessoas. Com base em que a prefeitura toma essas decisões pra fechar uma via que está recorrentemente aberta pras pessoas? Não pode ser uma decisão apenas discricionária”, declarou.
Movimentação de pessoas na Avenida Paulista, em São Paulo, durante os domingo de lazer na cidade — Foto: CRIS FAGA/ESTADÃO CONTEÚDO
No mês de maio, a Prefeitura de SP já havia suspendido o ‘Ruas Abertas’ em razão da realização do chamado “Enem dos Concursos”, que aconteceria no domingo, 5 de maio.
Mas o exame acabou sendo adiado por conta das chuvas no Rio Grande do Sul. Apesar do cancelamento ter acontecido na sexta-feira, 3 de maio, a gestão municipal decidiu manter o ‘Ruas Abertas’ suspenso naquele domingo em toda a cidade.
O urbanista Daniel Guth alerta que essas interrupções constantes podem locar um fim definitivo no programa, uma vez que as pessoas são surpreendidas com as interrupções por qualquer motivo.
“A Av. Paulista aberta para as pessoas é uma política consolidada e bem-sucedida, que é bom para o turismo, o comércio e todos os moradores da cidade. Se essas exceções virarem regra, as pessoas vão começar a desacreditar o programa. Porque se elas vão numa semana, não tem lazer, vão na outra, também não tem, são desencorajadas a sair de casa e esvaziam o programa. A impressão que dá é que é tudo articulado dentro da prefeitura. E que existe uma fobia dos gestores atuais da cidade em ver pessoas juntas e felizes, praticando lazer e esporte ao lar livre, numa via pública”, desabafou.
Movimentação de pedestres e ciclistas na Avenida Paulista durante domingo de via fechada para os carros e aberta para o lazer — Foto: Ettore Chiereguini/AGIF – Agência de Fotografia/Estadão Conteúdo
O que diz a prefeitura de SP
“A Subprefeitura Sé informa que, neste domingo (16), o Ruas Abertas funcionará exclusivamente nas ruas da Liberdade. Devido ao evento “Ladeira Abaixo”, que ocorrerá na Avenida Paulista, o Programa estará suspenso na via por motivos de segurança, conforme estabelecido na portaria Nº 025/SUB-SÉ/GAB/2024”, declarou a gestão Nunes.
Na noite deste domingo, a Prefeitura enviou outra nota.
“A Subprefeitura Sé informa que suspende o programa Ruas Abertas quando, devido a manifestações e/ou eventos, a Polícia Militar considera esta a medida mais segura para a população, como ocorreu neste domingo (16/06). A subprefeitura segue as recomendações da PM.
O Ruas Abertas é um programa consolidado e ampliado pela atual gestão, além de aprovado pela população. A Subprefeitura Sé reafirma a continuidade da iniciativa.
Casos pontuais de suspensão são divulgados no Diário Oficial, no site da SubSé e nas redes sociais.”
Movimentação de pedestres e ciclistas na Avenida Paulista durante domingo de via fechada para os carros e aberta para o lazer — Foto: Ettore Chiereguini/AGIF – Agência de Fotografia/Estadão Conteúdo